Tempo de leitura: 2 minutos

O pré-diabetes ainda faz parte de uma zona nebulosa para os brasileiros. Segundo um levantamento da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), a maioria da população do país não tem informação sobre a doença que precede o diabetes e que pode ser revertida com a prática de exercícios físicos e com mudanças nos hábitos alimentares.

E esse tema merece atenção. Recente pesquisa publicada no Journal of Biomedical Science (JBS) com o título “Tráfego de células imunes pré-hiperglicemia subjacente à catarata diabética subclínica”, mostra que o pré-diabetes desencadeia pequenas lesões no cristalino que dão início à catarata, doença responsável por 49% dos casos de perda da visão tratável no Brasil. As lesões são causadas pela migração para o cristalino de células imunes do corpo ciliar que circunda a lente.

O estudo aponta que “o paradigma atual pressupõe a glicemia elevada como pré-requisito na catarata diabética. Novas evidências no modelo de catarata diabética desafiam essa noção e introduzem a migração de células imunes para o cristalino e a transformação epitelial-mesenquimal (EMT) de células epiteliais do cristalino (LECs) como causas subjacentes”.

O artigo traz que a escassez de animais adequados para a investigação tem dificultado os estudos da catarata diabética, já que a maioria deles foi realizada em animais hiperglicêmicos induzidos de forma aguda. No estudo em questão, os pesquisadores comentam que introduziram a catarata diabética no rato capim do Nilo (NGR), que desenvolve espontaneamente diabetes tipo 2 (DM2) e tem proximidade com a condição humana.  Segundo os pesquisadores, a microscopia estereoscópica especializada com iluminação dupla de campo claro revelou novas microlesões hiperreflexivas semelhantes a pontos nas regiões corticais internas da lente. Para estudar a migração de células imunes para a lente, foi desenvolvida uma técnica única de microscopia in situ do globo ocular interno em combinação com imuno-histoquímica.

Como resultado, as microlesões hiperreflexivas recém-introduzidas precederam a hiperglicemia. “Embora os animais estivessem normoglicêmicos, foram encontradas alterações significativas no teste oral de tolerância à glicose (TOTG), indicativo do estágio pré-diabético. As microlesões foram acompanhadas com significativa migração de células imunes dos corpos ciliares para o cristalino, conforme revelado na nova técnica de microscopia in situ. As células imunes aderiram à superfície da lente, algumas atravessaram a cápsula da lente e colocaram-se com núcleos apoptóticos das células epiteliais da lente (LECs). Degradações extracelulares, acúmulos de material amorfo e alterações na expressão de E-caderina mostraram transformação epitelial-mesenquimal (EMT) em LECs”, aponta o documento.

Na conclusão, os estudiosos comentam que os resultados estabelecem um novo papel para as células imunes na transformação e morte do LEC. Eles ressaltam ainda que o fato de que a formação de catarata precede a hiperglicemia desafia o paradigma predominante de que a glicose inicia ou é necessária para o início da patogênese. Segundo eles, novas evidências mostram que as complicações moleculares e celulares do diabetes começam durante o estado pré-diabético. “Esses resultados têm ramificações previsíveis para diagnóstico precoce, prevenção e desenvolvimento de novas estratégias de tratamento em pacientes com diabetes”, finalizam os pesquisadores.

 

Fonte: https://jbiomedsci.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12929-023-00895-6

Compartilhe esse post