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Por Juliana Rosa – Pós graduação Lato Sensu em Córnea pela UNIFESP; Especialização em lentes de contato e refração pela UNIFESP; Residência médica em Oftalmologia pela UERJ; Graduação em Medicina pela UFRJ
 
A doença de Chagas é uma infecção sistêmica causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, sendo reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma das 13 doenças tropicais mais negligenciadas no mundo.
As repercussões oculares foram pouco avaliadas, além do sinal de Romanã que aparece na fase aguda. Conjuntivite, ceratite, esclerite, iridociclite, coroidite anterior e uveíte posterior foram descritas na doença de Chagas congênita com remissão pós-tratamento. Mas, na fase crônica, a insuficiência cardíaca crônica pode estar envolvida em alterações do nervo óptico e da camada de fibras nervosas (NO/CFN).
Um estudo realizado no Instituto Brasileiro de Oftalmologia e Prevenção da Cegueira e publicado nos Arquivos Brasileiros de Oftalmologia identificou essas alterações. Todos os pacientes foram submetidos a acuidade visual, biomicroscopia, tonometria, gonioscopia, paquimetria, fundoscopia, campo visual computadorizado, retinografia e tomografia de coerência óptica (OCT). Eram definidas como alterações do NO e da CFN, a presença de um ou mais em pelo menos um olho: aumento da escavação compatível com glaucoma; hemorragia peripapilar, notch e/ou palidez; defeito da CFN visível na retinografia; diminuição da CFN no OCT.
No total, foram incluídos 41 pacientes com doença de chagas e 41 controles. A retinografia mostrou alteração da camada de fibras em cinco olhos de quatro pacientes chagásicos e um controle. Hemorragia peripapilares em trés olhos de três pacientes chagásicos e nenhum controle. Notch da rima neural em três olhos de dois chagásicos e nenhum controle.
Palidez do nervo em três olhos de dois chagásicos e nenhum controle. Houve diminuição da espessura da CFN visualizada no OCT em pacientes com a doença, além de aumento da escavação e diminuição da rima neural. As alterações foram mais significativas em pacientes com Chagas e insuficiência cardíaca.
Vários estudos já reportaram inflamação sistêmica secundária à doença de Chagas demonstrando que a lesão endotelial pode estar associada com aumento de marcadores inflamatórios, vasoespasmo e redução no fluxo sanguíneo, o que tem importante papel na fisiopatologia das complicações oftálmicas. A gravidade da disfunção cardíaca parece potencializar as alterações de NO e CFN. A insuficiência cardíaca já foi associada a neuropatias ópticas isquêmicas e glaucomatosas. Não houve diferença na pressão intraocular dos grupos.
A grande limitação do estudo é que, por ser um estudo transversal, não consegue determinar se as alterações são sequela de uma lesão neural aguda no período agudo da infecção ou se são sinais de uma neuropatia progressiva. O estudo, porém, mostra a necessidade de avaliação oftalmológica cuidadosa do NO e CFN no seguimento desses pacientes.

Fonte: PEBMED

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