O novo presidente do CBO tem como colegas de diretoria o vice-presidente Cristiano Caixeta Umbelino (São Paulo – SP), o secretário geral Newton Kara José Júnior (São Paulo – SP), o tesoureiro Pedro Carlos Carricondo (São Paulo – SP) e o 1º secretário Jorge Carlos Pessoa Rocha (Salvador – BA).
José Beniz Neto nasceu em Ituiutaba (MG) em 12 de novembro de 1956. Graduou-se em Medicina pela Universidade de Brasília (UnB) em 1981 e fez sua especialização em Oftalmologia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), instituição onde também concluiu seu doutorado. Fez pós-doutorado em Uveítes na University of Southern California/Doheny Eye Institute (Los Angeles – EUA) e atualmente é Professor Associado de Oftalmologia e chefe do Serviço de Catarata e do Banco de Olhos da Universidade Federal de Goiás (UFG). Também é coordenador dos Serviços de Córneas e Uveítes do Centro Brasileiro de Cirurgia de Olhos (CBCO), de Goiânia.
É integrante da Academia Goiana de Medicina. Já foi presidente da Sociedade Brasileira de Uveítes, da Sociedade Goiana de Oftalmologia e da Associação Centro-Oeste de Oftalmologia. Participou de várias diretorias da Sociedade Brasileira de Catarata e Implantes Intraoculares, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Refrativa e da Associação Brasileira de Catarata e Cirurgia Refrativa (ABCCR), resultante da fusão destas duas entidades. Também foi vice-presidente regional da Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO). No CBO, exerceu funções no Conselho Fiscal e como membro em várias diretorias das comissões de Ensino e Científica e foi um dos presidentes da Comissão Executiva do 60º Congresso Brasileiro de Oftalmologia, realizado em Goiânia, em setembro de 2016. Na última gestão ocupou o cargo de vice-presidente deste Conselho.
Nesta entrevista, José Beniz Neto fala de seus planos na direção da principal entidade da Oftalmologia brasileira para os próximos dois anos.
Universo Visual – Quais serão as prioridades da sua gestão no CBO? Que programas terão continuidade e que novas diretrizes serão implementadas?
José Beniz – A grande prioridade em nossa gestão será a maior aproximação entre o CBO e os médicos oftalmologistas do Brasil. Hoje, todas as sociedades médicas vivem o desafio da significância. Não quero ser saudosista, mas é fato que a transformação nas formas de acesso à informação impacta no significado que as sociedades médicas têm para seus potenciais associados. Então, devemos ser essenciais para cada oftalmologista e, para que isso ocorra, é fundamental que o CBO consiga identificar – e oferecer – serviços relevantes para a classe, e que comunique isso com eficiência. A comunicação representa atualmente um enorme paradoxo: os canais se multiplicaram, mas não a sua eficiência: tanta disponibilidade de informação torna tudo mais superficial, menos relevante. Sobre os programas e projetos, tenho a alegria de assumir uma gestão que sucede outra extremamente exitosa, que trabalhou com seriedade por nossa instituição. Então, nesse sentido o que nos cabe é trabalhar pelo aperfeiçoamento das atividades que já estão em curso, tanto na prática médica oftalmológica, como no ensino.
Universo Visual – O CBO vem se destacando na luta contra o exercício ilegal da Medicina na área da Oftalmologia, embora isto represente investimentos bastante altos. Como será abordada esta diretriz?
José Beniz – De fato, o trabalho de combate à optometria exercida por pessoas sem formação médica tem sido, ao longo das últimas gestões, um dos pontos com maior volume de investimentos do CBO. É importante que se diga que isso não é uma atitude corporativista, pois o que comumente se chama de “luta contra o exercício ilegal da Medicina” é, na verdade, uma luta pelo direito da população ao atendimento qualificado e sem interesses mercantilistas de venda casada, no caso, de óculos. Essa luta tem sua dimensão jurídica. para impedir que a atuação desses profissionais não médicos se torne “natural”, apesar de ilegal.
Só entre janeiro e outubro de 2019, foram 250 representações, 44 visitas, mais de 158 ofícios enviados, 20 audiências com autoridades, 10 ações legislativas, acompanhamento de 77 processos judiciais e 560 atendimentos aos associados, com resultados satisfatórios no geral e vitórias muito importantes, como sete liminares contra o exercício ilegal da Medicina e 41 decisões jurídicas favoráveis. Mas também precisa passar pela crescente conscientização da população, que será um dos pontos centrais da nossa gestão
UV – O mesmo pode ser dito no relacionamento com as operadoras de planos de saúde, que vem tomando grande parte do tempo de atuação da diretoria do CBO. Quais serão as propostas de atuação neste campo?
José Beniz – Temos aqui uma atuação muito importante que, apesar de também envolver a dimensão jurídica, segue uma linha completamente distinta. Aqui, o trabalho é coordenado pela nossa Comissão de Saúde Suplementar e SUS (CSS.S) e tem como adversário grandes corporações que buscam, por meio de seu poder econômico e de ameaças, como o descredenciamento, levar o médico a aceitar pacotes que aviltam a remuneração e alteram regras contratuais estabelecidas. O CBO, que já tinha um histórico sólido de ações pela defesa profissional na saúde suplementar, deu passos importantes nos dois últimos anos, seja no legislativo, participando de audiências e debates, seja no âmbito jurídico, por meio de ações para se contrapor à atividade de algumas operadoras. Assim sendo, O CBO vai continuar participando das inúmeras reuniões de comissões e grupos de trabalho, tanto no Ministério da Saúde como na Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) e na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e em todos os outros foros em que se discute procedimentos e iniciativas de atendimento oftalmológico. A ideia básica é continuar com a constante política de valorização da Oftalmologia brasileira, já executada pelo CBO, e também combater as práticas predatórias de algumas operadoras de planos de saúde, tais como o “empacotamento” de consultas e exames oftalmológicos.
UV – Que mudanças planeja fazer no Ensino da Especialidade?
José Beniz – O trabalho da Comissão de Ensino do CBO tem sido exemplar. Vamos manter e ampliar o trabalho de disponibilização de ferramentas digitais de ensino, para permitir aos alunos de nossos cursos meios de aprimoramento do aprendizado da Especialidade online, iniciado na atual gestão, com destaque para a Plataforma CBO de Gestão de Ensino, baseada na plataforma de negócios Canvas, por nós adquirida recentemente. Também investiremos na consolidação do curso de pós-graduação strictu sensu, que está sendo implantado, bem como no acompanhamento dos 101 cursos de especialização credenciados. Além disso, cuidaremos do constante aprimoramento da Prova Nacional de Oftalmologia, que já se tornou patrimônio da Medicina em nosso país, para obtenção do Título de Especialista em Oftalmologia, emitido pelo CBO / AMB.
UV – Você pretende fazer alguma alteração na forma como são organizados os congressos brasileiros de Oftalmologia?
José Beniz – Os Congressos do CBO têm se mostrado iniciativas que ano a ano se superam em matéria de excelência. Graças ao trabalho que vem sendo realizado nos últimos eventos, oferecemos à nossa comunidade um congresso anual estupendo, com sessões em formatos diferentes dos habitualmente encontrados, com abordagens em todos os aspectos da prática oftalmológica e conteúdos dosados por sessões, tentando sempre ir ao encontro do que buscam desde os jovens alunos até os profissionais mais experientes. A princípio, a forma de organização do evento não será alterada, ou seja, para cada congresso teremos três presidentes (sendo um deles, membro vitalício do Conselho de Diretrizes e Gestão – CDG) e uma empresa de organização atuando em seus aspectos comerciais e logísticos. O desenvolvimento do programa científico e da comunicação ficará a cargo da Comissão Cientifica do CBO.
Universo Visual – Como enxerga a situação da política de Saúde do Brasil de 2020 e como a diretoria do CBO pretende atuar para obter a melhoria do atendimento oftalmológico da população e a valorização dos médicos oftalmologistas?
José Beniz – O Brasil passa por um período de transformações e 2020 será um ano de eleições municipais. Vale lembrar que as políticas públicas de saúde são estabelecidas no âmbito federal, mas são operacionalizadas nos estados e municípios. Isso significa que naturalmente haverá muita pressão para ampliar a oferta de assistência e, por isso, vamos nos preparar para oferecer respostas e mostrar alternativas no sentido de aprimorar a assistência oftalmológica. O CBO está atento às políticas nacionais de saúde, às suas contínuas mudanças e à implementação de novas ideias e programas de atendimento. Temos um trabalho constante junto aos órgãos públicos, no Congresso Nacional e no Ministério da Saúde, em relação a tudo de novo que é proposto e ao que ainda não foi alcançado na área pública de saúde.
Universo Visual – Considerações finais?
José Beniz – O CBO é uma entidade sólida, conhecida, uma instituição construída por muitos anos de história, por muitos fatos relevantes, muitas vitórias com resultados realmente importantes e significativas. É com a consciência de que é possível aperfeiçoar, que nos dispomos a ocupar este cargo. Nossa diretoria também vai investir em ações de conscientização da população sobre Oftalmologia e sobre saúde ocular. Vamos ampliar e diversificar o uso das mídias sociais utilizando, inclusive a figura de influenciadores digitais e a multiplicação da divulgação de podcasts. Também pretendemos avançar na integração com os médicos oftalmologistas estreitando a parceria entre o CBO e as sociedades estaduais, regionais e temáticas, sem de forma alguma, buscar qualquer tipo de imposição, mas sempre priorizando o diálogo e a colaboração. Também vamos dar o máximo de atenção à atuação junto aos 101 cursos de especialização em Oftalmologia credenciados pelo CBO. Por fim, estamos iniciando o planejamento para a realização de mais um Fórum Nacional de Saúde Ocular, em 2021, para avaliar as realizações do CBO e os desafios que estarão presentes naquele momento histórico, dando sequência aos seis exitosos fóruns precedentes, realizados por diretorias anteriores. Este evento, de extrema importância, expõe o CBO e a Oftalmologia brasileira principalmente ao Legislativo e Executivo nacionais, com ganhos expressivos de visibilidade para nossa profissão.
Fonte: Universo Visual