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Carolina Leal – Médica graduada pela Universidade do Grande Rio; Residente de Oftalmologia na Universidade Federal Fluminense; Médica do Hospital Naval Marcílio Dias

 
A síndrome oculoglandular de Parinaud (SOP) foi originalmente descrita como condição clínica rara que consiste em uma conjuntivite granulomatosa unilateral, acompanhada de linfadenopatia satélite pré auricular ou submandibular.
A conjuntivite da SOP caracteriza-se classicamente por lesões nodulares na conjuntiva bulbar ou tarsal, evidenciando uma reação granulomatosa, que pode se apresentar de forma branda ou grave, com úlceras ou necrose. A adenopatia presente pode ser dolorosa ou não, e seu tamanho e consistência variam bastante. Outros sinais e sintomas não específicos podem acompanhar a SOP, tais como febre, hiperemia e reação folicular conjuntival, sensação de corpo estranho e secreção mucoide ou purulenta.
Etiologias da síndrome oculoglandular de Parinaud
Atualmente, a doença da arranhadura do gato causada por Bartonella henselae representa a etiologia mais comum. Outras causas podem ser citadas: tularemia; tuberculose e outras micobactérias; sífilis; leucemia; linfoma; caxumba; vírus Epstein-Barr; fungos; sarcoidose; listeria.
O caso da foto acima, entretanto, mostra uma condição etiológica mais rara. A esporotricose, descrita por Benjamim Schenk em 1898, é causada pelo fungo dimórfico patogênico Sporothrix schenckii que pertence à família Ophiostomataceae, podendo ser encontrado hoje em todo o mundo. Ela é caracterizada por uma infecção de caráter subagudo ou crônico de ocorrência em humanos e animais, caracterizada por lesões polimórficas dos tecidos cutâneos e subcutâneos, com envolvimento dos canais linfáticos adjacentes, que podem supurar, drenar e ulcerar. A esporotricose se inicia pela inoculação do agente na pele, após contato direto. O acometimento da conjuntiva ocular da doença se apresenta pela forma de SOP.
Esporotricose
O envolvimento ocular da esporotricose pode ocorrer de duas maneiras: intraocular por disseminação hematogênica, ou por envolvimento dos anexos oculares devido a (auto) inoculação ou trauma.
Em relação às formas intraoculares, quatro tipos foram são descritas: uveíte granulomatosa, retinite granulomatosa, coroidite e endoftalmite. Embora raros, há relatos de cegueira por coroidite e enucleação devido à endoftalmite. Em geral, em casos de envolvimento intraocular, há imunossupressão, muitas vezes com lesões cutâneas exuberantes e envolvimento de outros sites por disseminação.
Por outro lado, a esporotricose ocular envolvendo apenas os anexos oculares podem se manifestar como conjuntivite granulomatosa pela síndrome oculoglandular de Parinaud ou mesmo por dacriocistite.
Na conjuntivite granulomatosa, nódulos agrupados são observados, com uma superfície lisa e brilhante envolvendo conjuntiva tarsal e / ou bulbar, associada a hiperemia conjuntival e / ou exsudato purulento.
O diagnóstico da doença é baseado na detecção direta ou indireta do agente etiológico. No exame direto, o método de coloração pelo gram (gram positivo) pode ser útil na detecção inicial do agente etiológico. O exame histopatológico também pode ajudar, porém é pouco eficaz se comparado à cultura específica para o fungo.
Exames sorológicos, apesar de pouco usados, têm demonstrado ótima sensibilidade e especificidade na detecção de anticorpos para antígenos do Sporothrix schenckii, segundo recentes estudos.
Esporotricose que afeta os anexos oculares deve ser tratado com itraconazol na mesma dose da forma cutânea: 100-200 mg / dia até resolução completa das lesões (ou por 2-4 semanas adicionais), 16 em geral num total de 3-6 meses.
A esporotricose é uma doença geralmente de bom prognóstico até mesmo quando acomete imunocomprometidos.
 

Fonte: PEBMED

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