Implementation Science
Na área da saúde conhecemos o assunto (ciência fundamental), idealizamos uma proposta (ciência aplicada), colocamos “em pé” uma prova de conceito e logo após construímos um protótipo minimamente viável. Nesse momento estamos aptos para entrar no ciclo de ensaios pré-clínicos e depois clínicos (validação), que entrega para a indústria uma receita a ser padronizada e daí aos distribuidores para comercialização.
Esse caminho didático e linear sabidamente não existe, e volto a 1962 para trazer Everett Rogers que no livro “Diffusion of Innovations” (shorturl.at/cAC56) propõe que a adoção de novas tecnologias é um processo social, e não é suficiente a evidência científica para que ocorra seu uso
Difusão e implementação são palavras que embasam o acesso, e esse leva ao efetivo uso. Não basta ter uma ótima solução do ponto de vista técnico, sem inserção na política de saúde, sem uma sociedade pronta, sem recursos financeiros. De modo global, o preparo do terreno dita a qualidade da colheita, porém é o acesso que em última análise leva o fruto ao prato.
Essa complexidade que foge ao controle e previsão estende a duração, e aprofunda o vale da morte na área da saúde. Suposições, observações e testes levam a iterações (repetições para aperfeiçoamento) que empacam no mundo real, onde produtos chegam a ser modificados para o uso estritamente local.
A diferença persegue nossas oferendas. Cada ser responde de um modo, cada comunidade tem uma composição sócio-político-econômica. O lugar de fala, ou a presença do usuário no desenho e oferta de como o produto será entregue, ajuda muito na sua absorção, porém temos uma enorme barreira adicional em países como o nosso, a desigualdade. Ela trabalha paralelamente a todos os mecanismos aqui invocados, e exclui. Cria privilégios.
Volto ao início da pandemia para lembrar que escolhemos a dedo um entrevistado e o tema: Oded Grajew e o Acesso à Saúde num Cenário de Desigualdades. O vídeo está disponível e recomendo (http://bit.ly/alemdavisao_03).
Três anos depois, esse número da UV traz explicitamente a questão, com a tragédia Yanomami, que recentemente se junta aos desabamentos no litoral norte de São Paulo; mas também resgata formas de agir, como a SAS, a formação de líderes éticos, a transparência (nas finanças) e a excelência (na atuação profissional).
Em “voo de cruzeiro”, não percebemos o barulho do motor do avião. Nos resignamos. A COVID-19, além dos desastres climáticos e territoriais levantaram muito a poeira, e hoje em dia não deveria haver discussão de bem-estar social descolada da questão da equidade, e logo a seguir, diversidade e inclusão.
Boa leitura!
Paulo Schor | Editor clínico