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Na repercussão da entrevista realizada no Podcast Rx – Por dentro da sua próxima receita médica! com a enfermeira e educadora Flávia Kolchraiber, também pesquisadora e membro da ONG IBEAC – Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário, o oftalmologista Paulo Schor enfatiza como a educação interfere no aspecto humano, abordando a educação bancária, que é realizada por atacado (just in case), em contraposição ao just in time, aplicada no tempo necessário, adicionando, ainda, aspectos de lugar, jeito e custos adequados. 

Outro ponto importante a ser destacado na conversa foi a questão ressaltada por Flávia a respeito das políticas locais, em que deve ser considerada a diversidade, uma vez que cada região possui suas particularidades e, normalmente, com grupos locais realizando tarefas em prol dos moradores, com conhecimento mais aprofundado sobre a comunidade e suas reais necessidades, sendo mais efetivos do que uma resolução “de cima para baixo”. 

Schor afirma que esse tipo de reflexão, sobre a educação interferindo no aspecto humano, é fundamental para se pensar a respeito de uma segunda questão, que é a vida, a humanidade e o ser humano. “Que, certamente, será ajudado pela máquina, mas continua sendo humano”, destaca. Outro ponto importante, é pensar naquilo que faz sentido para o indivíduo. E eu penso muito em como apreciamos e escolhemos músicas, filmes e fazemos várias outras escolhas. Tenho a impressão de que fazemos isso começando por alguma referência; provavelmente, quando escutamos alguma música, pensamos: Nossa, isso aqui tem um quê de Caetano Veloso, misturado com alguma coisa de David Bowie, e daí nós gostamos, porque faz sentido, nos é familiar”, explica. São referências que temos, que fazem um sentido inicial e depois vamos descobrindo os detalhes”, completa.  

Ele diz achar muito difícil alguém gostar, por exemplo, de música dodecafônica a princípio. Para quem não sabe, temos vários artistas que navegaram pela música dodecafônica, que é muito difícil, porque não uma base comum, é uma inovação completamente disruptiva”, comenta, explicando que o pai da música dodecafônica é Arnold Schoenberb, compositor vienense que viveu no século passado e morreu em 1951. “Gostar de dodecafônica sem ter nenhuma referência é algo para gênios ou para quem tem uma cabeça bastante tranquila em relação a absorver inovações. Fazemos isso em diversos outros locais, mas é muito complicado oferecer algo que veio da cabeça do criador quando a criatura não está preparada para tal”, afirma.  

Segundo o especialista, um dos exemplos disso é o iPhone, em que Steve Jobs, teoricamente, veio no nada com um telefone de um botão que discava na tela. Na realidade, não foi do nada, a sociedade já estava se preparando para isso há muito tempo. Já tinha vários indícios de que o aparelho iria funcionar, mas o Jobs, genialmente, levou a inovação de incremental para disruptiva e conquistou o mercado. Mas isso é raridade”, aponta. Ele enfatiza que temos uma base clássica e construímos em cima dessa base, e que é isso o que se aborda quando se fala de saúde pública in loco, quando se fala do conceito de política pública não governamental.  

“Isso é política feita por aquelas pessoas e para aquelas pessoas, é algo que possui referência naquele local, daquele jeito, uma coisa que faz sentido para aqueles indivíduos e, então, eles se acoplam e participam, porque entendem que para eles faz sentido, e tendem a seguir, a defender e a propagar”, continua o oftalmologista, esclarecendo que conversou com uma turma de alunos que decidiu fazer coach. E a gente vê um movimento muito grande de muitas pessoas sendo coach e pouca efetividade, no sentido de ligação e mudança em larga escala”, declara, ressaltando que, certamente, muitas pessoas se beneficiam de uma conversa direcionada com alguém que tem mais experiência. O que a gente consegue é trazer isso para a massa, para mais gente. E aqui estamos novamente falando de escalar humanidade, que é um conceito que eu tenho repetido há muito tempo”, acrescenta.  

Schor conta que a ideia dessa turma foi a seguinte: que tal se o coach vier de alguém recém-formado, que irá falar para pessoas muito mais parecidas com ele do que colocar alguém que tem um cargo de diretoria em uma empresa, e que venha dar essas consultorias para pessoas que estão entrando no mercado de trabalho? Existe um constrangimento pela distância muito grande e, de novo, suspeito que uma eficácia muito menor. Então, o estudante, no caso de enfermagem, que saiu há dois, três anos da universidade e está na vida privada, vai a locais que não são clássicos, que é isso o que, em geral, os estudantes querem, eles querem saber o que vai além da assistência que lhes é passada na instituição acadêmica, no hospital universitário”, reflete o especialista.  

A Flávia reforça que pessoas que vieram de escolas públicas têm essa vontade e, em geral, tem esse talento de devolver para a sociedade de um modo generoso o que elas ganharam da sociedade”, avalia o médico. Para ele, vemos esses indivíduos sendo pinçados, eventualmente, pela própria universidade, como seus ex-alunos e eles podem se candidatar, se voluntariar a ser coach dos estudantes. Eu imagino que seja um exemplo bastante interessante de personalização e de algo que consegue ser escalável”, observa Schor, declarando que nesses pequenos exemplos parece conter o segredo de se levar mais felicidade, mais vida, que é o que Flávia pontua em sua entrevista e que transfere para a palavra saúde. E temos falado muito disso, que os remédios são importantes, que os avanços tecnológicos também, mas tem que ter o ser humano no centro desse processo, no começo, no meio e no fim, senão acaba apenas vendendo tecnologia e venda de tecnologia não é exatamente saúde”, avalia.  

O especialista cita a parte da conversa em que a enfermeira comentou a respeito da pesquisa que fez no Google sobre venda de saúde ou oferta de saúde e só apareceu produtos. Quando falamos, e concordo completamente com ela, que educação em saúde é ouvir, traduzir, isso é uma joia que temos na assistência primária e é ótima a história de que a assistência não tem nada de básica. Essa questão é muito abordada quando falamos de cirurgia no outro lado da saúde, da saúde curativa, em que os pacientes, em geral, perguntam esse procedimento é simples?. E eu respondo: Olha, ele é seguro, é preciso, é estável, mas simples não é, revela o especialista, explicando que a cirurgia carrega junto com si inúmeras consequências, desde o ato operatório, pré, pós e para o resto da vida. Não existe cirurgia reversível, foi feito um corte, esse corte pode cicatrizar e, geralmente, a cicatriz fica mais frágil do que o tecido original, portanto não existe essa reversibilidade”, esclarece.  

Segundo Schor, as pessoas precisam navegar nessa área em que existe uma consequência e, a partir da consequência, essa clareza de que as coisas não são tão simples, elas não são 100%, são mais complexas do que a princípio gostaríamos que fossem. Por isso a história da saúde não ser básica, ela é saúde primária, e saúde primária, podemos delegar todos esses predicados e cobrar a comunicação, a educação. Esse é um enorme diamante de várias pontas lapidadas que já está jogado no terreno”, opina, pontuando que essa é uma herança do SUS, quer ele seja modificado ou não, e certamente precisa estar em constante modificação, mas é uma herança que vamos ter que voltar e buscar.  

O cirurgião destaca que as políticas públicas de saúde deveriam levar em conta as pessoas e que elas deveriam ir para as organizações e estão indo, como foi o caso da Flávia. “Ela largou a saúde e foi para a política. Ela viu que através da saúde as coisas não iam sair e o que estamos observando é que as pessoas estão fazendo, independentemente dos políticos. E seria esperto que os políticos, cada vez mais, puxassem esses indivíduos para Brasília para que construíssem as políticas locais olhando para as diversidades, eventualmente de um modo central”, afirma, emendando:Ou pelo menos que nós escolhêssemos quais são as ações a serem feitas pelo governo central, estadual, municipal, pelos bairros, e qual seria a transferência de recursos e de competência para que os grupos organizados realizassem suas tarefas.” 

Querer controlar tudo não dá, a gente foi mal nesse controle total desde sempre, desde que conseguimos nos entender por sociedades democráticas e heterogêneas e respeitar as diversidades. E temos aí no livro 1984, de George Orwell, uma excelente mensagem a ser passada”, observa o oftalmologista. Para ele, não funciona quando um ente central assume toda a responsabilidade, mas sim quando os entes periféricos” não só assumem a responsabilidade como tenham meios para fazer acontecer. “Acredito que esse episódio traz bastante desse cerne, aonde que a gente tem que procurar, como a gente tem que entregar, qual é a luz que tem que ficar acesa o tempo todo. E a luz que tem que ficar acesa o tempo todo é a luz da pessoa”, conclui Schor.   

 

 

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