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O caso do cantor Marrone acende um alerta sobre a importância da conscientização sobre a saúde ocular

Nos últimos dias, um caso de glaucoma avançado ganhou o noticiário e acendeu o alerta sobre a importância da conscientização da população sobre a saúde ocular e das consultas de rotina ao oftalmologista. O cantor José Roberto Ferreira, que adotou o nome artístico de Marrone na dupla sertaneja que faz com Bruno, precisou passar por uma cirurgia de emergência no Hospital de Olhos, em Goiânia.

Francisco Lima, doutor em medicina pela Universidade de São Paulo (USP) e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Glaucoma, comenta que o caso de Marrone deixou sequelas. “Houve perda de campo visual periférico importante nos dois olhos. “Isso é grave, porque é irreversível”, aponta o médico que faz parte da equipe que atendeu o cantor ao lado de José Beniz Neto, professor associado de Oftalmologia da Universidade Federal de Goiás (UFG), chefe do Serviço de Catarata e Córnea do Centro Brasileiro de Cirurgia de Olhos (CBCO), e ex-presidente do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO).

Os médicos apontam que o glaucoma avançado tem de ser tratado de maneira agressiva, ou seja, reduzir ao máximo a pressão intraocular (PIO), o que na maioria das vezes só se consegue por meio de cirurgia. “O padrão ouro para tratar glaucoma avançado é a trabeculectomia. Esse é um consenso mundial, de todas as sociedades internacionais, inclusive da Sociedade Brasileira de Glaucoma”, afirma Lima.

O oftalmologista revela, porém, que muitas vezes os médicos adiam a indicação da cirurgia, tentando o tratamento com colírios. “Muitas vezes os colírios não conseguem deixar o paciente com a pressão alvo ideal, que gira em torno de 10. É um número empírico, mas seria o ideal para paralisar a piora do glaucoma avançado”.

Beniz aponta que “no glaucoma avançado, o paciente normalmente apresenta uma grande escavação do nervo óptico, devido ao aumento crônico da PIO. Assim, o médico oftalmologista pode reconhecer de pronto, na maioria das vezes, esta condição durante o exame clínico”, diz.

Para avaliar a progressão da doença em casos graves, os especialistas ressaltam que o oftalmologista deve acompanhar o campo visual dos pacientes. “É preciso fazer exames sequenciais de campo visual a cada três, quatro ou seis meses, dependendo do grau de comprometimento”, diz Lima.

Segundo ele, os exames que detectam alterações iniciais no glaucoma, como o OCT, nos casos graves não trazem muitas informações adicionais porque o nervo óptico já está bastante lesado. “Inclusive a fotografia do nervo óptico, que é importante nos casos iniciais, nos graves serve para documentar se há alguma hemorragia ou outra alteração no fundo de olho, na retina, mas não para acompanhar especificamente a progressão ou estabilidade do glaucoma grave ou avançado”.

Desafios

Beniz ressalta que entre os desafios no diagnóstico do glaucoma em estágio avançado está o fato de que é uma doença silenciosa, que na maioria das vezes não tem sintomas de dor e a perda de acuidade visual só acontece quando o quadro já progrediu muito. “Outro ponto é que o exame de campo visual exige atenção e algum aprendizado por parte do paciente para realização do mesmo, o que não é tão fácil para pessoas idosas”.

Ao ser diagnosticado em estágio avançado da doença, resta para o paciente, a princípio, apenas a visão central. Isso porque o glaucoma progride de maneira não linear. “É como se fosse um carro descendo uma ladeira e vai ganhando cada vez mais velocidade. O maior risco para esses pacientes é que o glaucoma progrida rapidamente. Por exemplo, o que demorou 10 anos para avançar, pode piorar em um ano e, inclusive, até provocar a perda da visão central se o tratamento não for feito de maneira eficaz, esse é o principal risco de todos”, explica Lima.

Como o glaucoma é uma doença silenciosa, é fundamental conscientizar a população sobre a forma avançada da doença. O cantor Marrone, por exemplo, autorizou a divulgação do seu caso pelos médicos que o trataram, com o objetivo altruísta de ajudar outras pessoas. “É fundamental que as pessoas não deixem de fazer exames com o oftalmologista, principalmente depois dos 40 anos e se tiver casos glaucoma na família”, conclui Lima. “O principal papel da educação em saúde para reduzir essas incidências de sequelas é a prevenção”, endossa Beniz.

 

 

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