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Este foi um dos temas abordados na sala dedicada ao glaucoma no Dia Especial durante o congresso do CBO 2023. Ana Claudia Alves Pereira, professora adjunta da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), falou sobre “Particularidades no diagnóstico e tratamento do glaucoma durante a gravidez e o puerpério”.
Segundo a médica, ao avaliar o glaucoma na gravidez, é preciso observá-lo como qualquer doença crônica já que a gestante apresentará uma série de limitações terapêuticas por causa do risco de exposição ao feto. “A mulher sofre uma série de transformações fisiológicas e hemodinâmicas e é preciso avaliar o período gestacional e a gravidade do glaucoma, sempre ponderando os riscos para a criança”, ressaltou.

Ana Cláudia revelou que o glaucoma raramente acontece durante a gestão e acomete 0,4% das mulheres com mais de 40 anos, e 0,16% entre 18 e 40 anos. A oftalmologista comentou também que a pressão intraocular (PIO) tende a diminuir nas gestantes por conta da ação dos hormônios e que a PIO independe da pressão arterial, do peso, altura ou biotipo. “As alterações biomecânicas na córnea, provocadas pelos hormônios, poderão provocar maior espessura da córnea e também uma PIO hipoestimada”, disse.

A oftalmologista apresentou questões relacionadas a diferentes tipos de tratamento e considerou que o melhor deles pode ser o laser, que permite reduzir ou eliminar o uso de medicações durante a gravidez. “É o tratamento que oferece o menor risco possível ao feto em desenvolvimento, tem anestesia tópica e poucas medicações pré e pós-operatórias”, disse. Em caso de indicação cirúrgica para o glaucoma, o grande ponto de atenção está relacionado aos riscos anestésicos, principalmente no primeiro trimestre da gestação.

“Além de evitar cirurgias neste período, também tem de evitar qualquer medicação nas primeiras oito semanas. Caso seja necessário, a brimonidina é a mais segura das medicações tópicas e é classificada como classe B pela FDA”. No primeiro trimestre, segundo ela, também é possível usar timolol, pertencente à classe C.
A oftalmologista ressaltou que no segundo trimestre da gravidez há a redução do risco de má formação fetal e que podem ser usados betabloqueadores e brimonidina, sempre acompanhando o crescimento fetal.

De acordo com ela, no que se refere ao controle da PIO, no terceiro trimestre da gestação é necessário suspender o uso da brimonidina porque pode afetar o sistema nervoso central (SNC) do recém-nascido. Nesta fase, o mais indicado seria o uso de betabloqueadores e de inibidores AC. A médica alertou que os betabloqueadores podem causar arritmias, hipotensão e depressão no SNC dos bebês. A mesma conduta deve ser adotada no pós-parto, durante a lactação, “não pode usar brimonidina. No lugar, usar inibidores AC ou betabloqueadores, desde que não tenha cardiopatia fetal”.

Para concluir, a médica pontuou algumas recomendações. “É fundamental estabelecer uma excelente relação médico-paciente para avaliar e controlar a PIO, apontando os riscos e benefícios de cada decisão, promovendo, assim, segurança tanto para a gestante quanto para o bebê. Também é importante que o tratamento seja multidisciplinar, envolvendo, por exemplo, a obstetra, para oferecer à paciente o melhor tratamento possível”, concluiu. Para quem quer se aprofundar no assunto, vale ressaltar que a Sociedade Brasileira de Glaucoma acabou de lançar manual sobre o tema.

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