Por Majda Hadziahmetovic (Duke University) e Jorge Rocha (iRetina Eye Institute)
Inteligência artificial: uma revolução em andamento
“A Inteligência Artificial (IA) é uma ferramenta que nos ajudará a ser mais produtivos, saudáveis, inteligentes e entretidos”, afirmou Sam Altman, CEO da OpenAI, criadora do ChatGPT, atualmente a IA generativa mais reconhecida no mundo. Estamos testemunhando o início de uma nova era, e a IA veio para ficar.
A jornada da IA começou no verão de 1956 na Dartmouth University, onde John McCarthy e colegas realizaram um workshop histórico que introduziu o conceito revolucionário de máquinas capazes de aprender e tomar decisões como seres humanos. Três anos depois, Arthur Samuel avançou essa visão com o nascimento do Aprendizado de Máquina (Machine Learning, ML), um campo que permite aos computadores aprenderem e se adaptarem sem a necessidade de programação explícita. O ML alcançou novos patamares com o Aprendizado Profundo (Deep Learning, DL), que utiliza redes neurais multicamadas que imitam o funcionamento do cérebro humano. Técnicas como as Redes Neurais Convolucionais (CNNs) têm impulsionado avanços em reconhecimento de imagens, incluindo aplicações transformadoras na medicina.
A capacidade da IA de emular o aprendizado humano e aprimorar-se continuamente é tanto inspiradora quanto desafiadora. Ela se tornou uma parceira indispensável para o progresso humano, especialmente no campo médico.
O papel da IA na medicina moderna
A IA tem se mostrado transformadora na área da saúde, oferecendo soluções econômicas para diagnóstico, previsão da progressão de doenças e resposta ao tratamento, além de possibilitar terapias personalizadas. Um dos avanços mais notáveis está no combate à retinopatia diabética (RD), a principal causa de perda de visão entre adultos em idade produtiva. Com a projeção de que os casos globais de diabetes ultrapassem 600 milhões até 2040, a IA surge como uma oportunidade de ampliar o acesso e reduzir lacunas no rastreamento da RD, um problema crítico, já que mais de 50% dos casos são diagnosticados tarde demais para uma intervenção ideal.
Tradicionalmente, o diagnóstico da RD segue o modelo de “humano no circuito” e “armazenar e encaminhar”, em que especialistas analisam imagens da retina em busca de sinais de patologias. No entanto, dispositivos autônomos baseados em IA agora oferecem uma precisão comparável, proporcionando uma solução escalável para a detecção precoce.
Soluções de IA aprovadas pela FDA para RD
Em 2018, a FDA aprovou o primeiro dispositivo autônomo de IA para rastreamento de RD, o IDx-DR. Desde então, outros algoritmos, como EyeArt e AEYE-DS, também receberam aprovação regulatória, demonstrando sensibilidade e especificidade diagnóstica comparáveis aos de oftalmologistas especialistas. O IDx-DR (LumineticsCore) alcançou uma sensibilidade de 87,2% e especificidade de 90,2% em ensaios clínicos. Estudos recentes mostraram que o EyeArt alcançou uma sensibilidade de 95,5% e uma especificidade de 85,0%. Além disso, o AEYE-DS também recebeu aprovação da FDA em 2022 devido às suas métricas robustas de desempenho.
Essas tecnologias, que já estão sendo integradas a sistemas de saúde nos EUA e na Europa, representam a próxima fronteira: validação em larga escala em hospitais de alto volume para demonstrar sua eficácia clínica e custo-benefício.
O futuro da IA na oftalmologia
O rastreamento da RD com IA oferece um potencial imenso para reduzir a cegueira em todo o mundo. Ainda assim, desperta reações mistas que limitam sua adoção mais ampla. Apesar disso, as evidências são claras – a triagem retiniana apoiada por IA tem o potencial de transformar o cuidado da retina diabética e, por extensão, a saúde pública. Ela pode aumentar a eficácia e a eficiência dos cuidados, reduzir custos e, o mais importante, melhorar os resultados clínicos.
Referências bibliográficas
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- Samuel AL. Some studies in machine learning using the game for checkers. IBM J res Dev, 1959 Jul;3(3):210-29.
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