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O olho seco (OS) ou ceratoconjuntivite sicca ocorre quando há uma diminuição na quantidade e/ou alteração na qualidade da lágrima, apresentando sintomas como o ressecamento ocular, embaçamento na visão, vermelhidão e sensação de areia nos olhos. Nos casos moderados a severos, causa dor, limita as atividades diárias, reduz a qualidade de vida e pode até estar associada à depressão. 
O Julho Turquesa foi instituído para chamar a atenção e conscientizar sobre o problema, que atinge entre 13% e 24% da população brasileira.
O mecanismo do olho seco
Em pacientes com OS, ocorre a hiperosmolaridade lacrimal induzida por evaporação, sendo esse um marcador global da doença, ocorrendo nas suas duas variações: deficiência aquosa do filme lacrimal (DAFL) e evaporação excessiva predominantemente associada à disfunção das glândulas de Meibomius ou deficiência de mucina.
Ao ser estimulado por condições estressantes, como longa exposição a telas, tempo seco, uso contínuo de lentes de contato e outros fatores de risco, o filme lacrimal torna-se instável e, assim, há alteração na composição da lágrima ou aumento na sua velocidade de evaporação. Dessa forma se inicia um ciclo vicioso de inflamação que leva à disfunção gradual das células, produzindo áreas secas sobre a conjuntiva e a córnea, facilitando o surgimento de lesões.
Fatores de risco
A síndrome do olho seco é uma doença multifatorial e pode ser originada por condições ambientais, assim como disfunções hormonais e doenças crônicas. O clima seco da estação, assim como a nova rotina de maior exposição às telas trazida pela pandemia da Covid-19, aumentam o risco de desenvolvimento do problema. 
Um estudo publicado pela The Association for Reasearch in Vision and Ophtalmology (ARVO) classifica o olho seco evaporativo como uma doença pandêmica, chegando a atingir 70% da população em diversas partes do mundo.

Veja a seguir os principais fatores de risco para o olho seco DAFL e evaporativo.
Fatores ambientais:
Tempo seco, muito vento, insolação, poluição, fumaça de cigarro, longos períodos em locais fechados e/ou com ar-condicionado& Todas essas são condições que podem aumentar a velocidade de evaporação do filme lacrimal.
Exposição a telas:
Quando utilizamos smartphone, notebook, tablet e outros eletrônicos, a frequência com que piscamos diminui, o que faz com que o filme lacrimal evapore com mais rapidez.
Queimaduras químicas:
A exposição a agentes químicos, em ambientes de trabalho industriais ou até mesmo em produtos de limpeza, resultando em queimadura está associada às formas mais graves da doença.
Medicamentos:
Entre as classes de remédios que podem causar a síndrome do olho seco, estão os  descongestionantes, anti-histamínicos, antidepressivos, diuréticos, pílulas anticoncepcionais, alguns anestésicos, betabloqueadores e medicamentos para transtornos digestivos (anticolinérgico).
Lentes de contato:
As lentes diminuem a quantidade de oxigênio sobre a córnea, podendo levar ao olho seco. Por isso, o paciente deve ser orientado em consulta a nunca dormir de lentes e respeitar as indicações de uso dadas pelo oftalmologista.
Idade e sexo:
Com a idade, a produção de lágrimas diminui naturalmente. Já as mulheres, sofrem alterações no filme lacrimal devido às variações hormonais na menopausa. Por isso, a síndrome do olho seco é mais comum em pessoas acima dos 40 anos e numa proporção de três mulheres em cada quatro pacientes diagnosticados. 
Doenças sistêmicas:
As síndromes de Sjögren e de Stevens-Johnson, a penfigóide cicatricial ocular, sarcoidose, mal de parkinson e diabetes (especialmente a de Tipo-2) podem facilitar o olho seco.
Covid-19:
Na China, um estudo realizado durante a pandemia indicou um aumento de 35% na incidência de olho seco em pacientes que tiveram Covid-19. Analisando 54 pacientes contaminados, a pesquisa apontou que, antes de serem contaminados pelo Coronavírus, 20% tinham olho seco, mas após a doença, esse número subiu para 27%. O estudo não é conclusivo mas, de acordo com os pesquisadores, foi possível identificar o receptor ACE2 do novo coronavírus na córnea, lente externa no olho e na conjuntiva. Apesar de a presença do ACE2 ser menor nos olhos comparada a outros órgão afetados pela Covid-19, por exemplo, ela já foi suficiente para aumentar os casos de olho seco.
Como diagnosticar o olho seco
Exames que medem a produção, taxa de evaporação e qualidade da lágrima devem ser realizados para o diagnóstico e avaliação da gravidade do olho seco. É importante levar em consideração a estimativa de que 7 em cada 10 portadores de olho seco não apresentam sintomas. Por conta disso, o oftalmologista deve realizar esses testes na consulta de rotina, mesmo que o paciente não apresente queixas relacionadas ao problema.
Teste de Schirmer: Avalia se a quantidade de lágrimas produzidas é suficiente para manter o olho lubrificado. Deve-se colocar uma tira de papel filtro 35 x 5 mm nas duas pálpebras inferiores do paciente, com os primeiros 5 mm da tira dobrados no fundo do saco conjuntival inferior. Após cinco minutos, o papel é removido e a quantificação de lágrima se dá pela medida indicada no papel. A Associação Brasileira dos Portadores de Olho Seco indica que valores superiores a 15 mm são considerados normais.
Exames de coloração da superfície ocular: Os corantes fluoresceína, rosa bengala ou lisamina verde podem ser utilizados para detectar células superficiais na córnea/conjuntiva comprometidas pelo olho seco.
Break Up Time (BUT): Teste realizado para medir o tempo de ruptura do filme lacrimal. Deve-se aplicar uma gota de fluoresceína sódica 1% e pedir ao paciente que pisque os olhos repetidamente. Com uma lâmpada de fenda sob iluminação com filtro azul cobalto o oftalmologista avalia quanto tempo leva para que as áreas de quebra do filme lacrimal comecem a aparecer. O valor normal de BUT é 10 segundos ou mais, e quanto menor ele for, menor será a qualidade do filme lacrimal.
Tratamento
A síndrome do olho seco não tem cura, mas é possível controlar a doença e restaurar a homeostase do filme lacrimal. A Tear Film & Ocular Surface Society (TFOS), entidade que instituiu a campanha Julho Turquesa, estabelece um roteiro de tratamento dividido em quatro estágios. O avanço para o estágio seguinte só deve ser feito caso as opções do anterior sejam inadequadas ou insuficientes. 
Estágio 1:
Educação sobre sua condição, tratamento e prognóstico
Modificação do ambiente local
Educação sobre potencial modificação dietética (incluindo suplementos de ácidos graxos essenciais)
Identificação e potencial modificação/eliminação de medicações sistêmicas e/ou tóxicas ofensivas.
Lubrificantes oculares de vários tipos (se disfunção da glândula de meibômio estiver presente, considerar suplementos contendo lipídeos)
Higiene palpebral e compressas mornas de vários tipos
Estágio 2:
Lubrificantes oculares sem conservantes para minimizar toxicidade
Óleo de melaleuca para Demodex (caso presente)
Estratégias de conservação da lágrima (oclusão do ponto lacrimal, óculos de câmara fechada e umidificadores)
Tratamentos durante a noite (como pomadas ou aparelhos umidificadores locais)
Aquecimento físico e expressão da glândula de meibômio (no consultório)
Drogas para manejo do olho seco: antibiótico tópico ou combinação antibiótico/corticosteroide na pálpebra, corticoide tópico, secretagogos tópicos, imunomoduladores não esteroidais tópico (como a ciclosporina), antagonistas de LFA-1 tópico (como lifitegraste), macrolídeo ou tetraciclinas orais
Estágio 3
Secretagogos orais
Soro autólogo/alógeno
Lentes de contato (gelatinosa, terapêutica ou lentes duras)
Estágio 4
Corticosteroide tópico com maior duração
Membrana amniótica
Oclusão de ponto lacrimal cirúrgica
Outras opções cirúrgicas (tarsorrafia, transplante de glândula salivar)
Além das opções apontadas pela TFOS, a ANVISA aprovou, em 2019, o tratamento com luz pulsada para olho seco. Ela pode ser utilizada nos casos mais severos e estimula a produção da camada lipídica da lágrima pelas glândulas de Meibômio. 
É importante também que seja orientado a evitar condições ambientais que estimulem o ressecamento dos olhos, assim como manter uma dieta que mantenha sua hidratação. Se acompanhado pelo oftalmologista e realizando o tratamento adequadamente, o paciente com olho seco pode ter uma vida normal. 

Fonte: Revista Universo Visual

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