As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), porém em breve uma simples ida ao oftalmologista poderá identificar se a pessoa está em risco para um ataque cardíaco. Em estudo apresentado nesta segunda-feira na conferência anual da Sociedade Europeia de Genética Humana, em Viena, na Áustria, pesquisadores da Universidade de Edimburgo, na Escócia, conseguiram estimar a probabilidade de um infarto por meio da análise dos vasos sanguíneos na retina do paciente, de forma precisa e mais eficiente que as técnicas atuais.
Os cientistas defendem que a novidade permitirá que exames simples de rotina forneçam um diagnóstico precoce para o risco aumentado de um infarto agudo do miocárdio (IAM), popularmente chamado de ataque cardíaco. Com isso, os médicos poderão intervir mais cedo com a indicação de práticas para prevenir o evento, como mudanças na alimentação e a adoção de uma rotina de atividades físicas, sugerem os pesquisadores.
Eles explicam que a idade média para a ocorrência de um infarto é de 60 anos e, como a técnica teve uma melhor precisão para avaliar o risco quando realizada mais de cinco anos antes do evento, ela seria apropriada já a partir dos 50 anos.
“Isso permitiria aos médicos sugerir comportamentos que podem reduzir o risco, como parar de fumar e manter o colesterol e a pressão arterial (em níveis) normais”, explica a pesquisadora da Universidade de Edimburgo, e apresentadora do estudo, Ana Villaplana-Velasco, em comunicado.
Como funciona o modelo
A nova análise calcula o risco da doença arterial coronariana (DAC) a partir de uma combinação de informações dos vasos sanguíneos presentes na retina do olho com dados clínicos e genéticos do paciente. Isso porque a DAC é causada pelo acúmulo de placas de gordura nas artérias, o que provoca uma obstrução chamada de aterosclerose e, consequentemente, o infarto.
Outros trabalhos já haviam utilizado exames oftalmológicos para prever esse risco. Em estudo publicado na revista científica Nature, no início do ano, pesquisadores da Universidade de Leeds, no Reino Unido, utilizaram inteligência artificial para analisar informações desses vasos sanguíneos e conseguir prever a probabilidade do evento.
“Houve várias tentativas de melhorar os modelos preditivos de risco de CAD e IAM levando em consideração os traços vasculares da retina, mas estes não mostraram melhora significativa quando comparados com os modelos já estabelecidos”, afirma Ana. Com isso, o novo método apresentado hoje seria mais eficiente e preciso, sugerem os cientistas.
Para desenvolvê-lo, eles inicialmente analisaram dados de imagens de retina disponíveis no UK Biobank – um banco de dados de saúde do Reino Unido de mais de 500 mil britânicos – e perceberam que a dimensão fractal, que são padrões de ramificações dos vasos sanguíneos nos olhos, mais baixa estava relacionada à doença arterial coronariana e, logo, ao infarto.
Com isso, eles projetaram uma tecnologia que, a partir da análise das retinas de pessoas que já sofreram um ataque cardíaco, consegue prever o risco em novas imagens. Porém, para ser ainda mais eficiente, o modelo envolve na avaliação fatores como idade, sexo, pressão arterial, índice de massa corporal e tabagismo.
“A eficiência do nosso modelo foi ainda maior se adicionarmos informações relacionadas à predisposição genética de se desenvolver um infarto”, disse a pesquisadora escocesa.
Isso acontece porque os cientistas descobriram também nove regiões genéticas que conduzem os padrões de ramificação vascular da retina. Quatro dessas regiões já eram conhecidas por estarem envolvidas em doenças cardiovasculares.
Agora, os pesquisadores acreditam que a nova técnica pode ser útil para identificar o risco de outras doenças que também se manifestam nos vasos sanguíneos da retina por meio de exames oftalmológicos de rotina, como a retinopatia diabética e o acidente vascular cerebral (AVC)
Fonte: O Globo