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A presença de partículas de SARS-CoV-2 na retina de pacientes mortos por Covid-19 foi sugerida através de PCR e métodos imunológicos que detectam suas principais proteínas. Um estudo foi publicado na JAMA Ophthalmology em julho de 2021 com o objetivo de detectar a presença de partículas virais em pacientes que morrem de Covid-19 através de microscopia fluorescente de tecidos imunocorados para S1 e proteínas do nucleocapsídeo e microscopia eletrônica de transmissão. O estudo foi realizado na Universidade Federal de São Paulo em junho e junho de 2020. 
Metodologia
Foram avaliados 3 olhos de 3 diferentes pacientes. Todos eles foram internados em CTI, submetidos a ventilação mecânica e tiveram envolvimento pulmonar grave associado a Covid-19, com mais de 50% de acometimento pulmonar e estavam recebendo heparina, antibióticos e corticoides. O paciente 1 era um homem de 70 anos, hipertenso, diabético e com enfisema pulmonar. Ficou 30 dias internado. Ambos os olhos não tinham achados relevantes no segmento anterior. Foi impossível obter acuidade visual e níveis de pressão intraocular durante a internação. O olho direito tinha hemorragia vítrea e o olho esquerdo apresentava hemorragia subretiniana temporal com aumento da tortuosidade vascular. O paciente 2 era uma mulher em torno de 70 anos, hipertensa, diabética e dislipidêmica e que faleceu uma semana após o diagnóstico. O paciente 3 era um homem de mais ou menos 60 anos, hipertenso, com insuficiência renal crônica em diálise e abuso de álcool. O diagnóstico de Covid-19 foi 2 meses antes. Os pacientes 2 e 3 não tiveram avaliação oftalmológica antes da morte. Partículas que variam de 60 a 70 nm foram vistas na região perinuclear das células da camada nuclear interna, especialmente em estruturas reticulares de dupla membrana derivadas de alterações no retículo endoplasmático induzidas pelo SARS-CoV-2. Foram também visualizadas em células endoteliais capilares presentes na camada nuclear interna. Granularidade eletrodensa dentro da partícula também foi observada. Na camada nuclear externa partículas virais numerosas foram encontradas nas regiões perinucleares e citoplasmáticas. 
Uma das formas clássicas de determinar a presença de vírus dentro da célula é a abordagem imunocitoquímica usando anticorpos específicos que reconhecem 2 proteínas essenciais da partícula viral: a proteína S, exposta na superfície do vírus e a proteína do nucleocapsídeo, dentro do vírus. Usando essa abordagem o estudo identificou a presença de proteína do nucleocapsídeo na camada de células ganglionares e região perinuclear. A marcação com anticorpos que reconhecem a proteína S1 e N também foi observada na camada nuclear interna na região perinuclear. Também foi observada através do tecido sensorial da retina, camada de células ganglionares, camada plexiforme interna, camada nuclear interna, camada plexiforme externa e camada nuclear externa, além do epitélio pigmentar da retina e coroide.

Conclusão
Fica claro que após a infecção inicial respiratória, o vírus pode se espalhar por todo o corpo, atingindo diferentes tecidos e órgãos. Não é claro ainda se as alterações retinianas são secundárias à presença do vírus ou às alterações secundárias imunológicas e microvasculares. Um estudo demonstrou a detecção por PCR e outros estudos recentes mostraram a expressão de enzima conversora de angiotensina 2 em estruturas oculares. O novo estudo demonstrando o achado de partículas virais com morfologia similar ao observado em meios de cultura experimentais infectados com o vírus está de acordo com os estudos anteriores, apesar da limitação do pequeno número de casos. Esses achados podem ajudar a elucidar os mecanismos fisiopatológicos do vírus e entender melhor as sequelas da doença.

Fonte: PebMed

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