Por Juliana Rosa
Médica do departamento de lentes de contato da UNIFESP; Pós graduação Lato Sensu em Córnea pela UNIFESP; Especialização em lentes de contato e refração pela UNIFESP; Residência médica em Oftalmologia pela UERJ; Graduação em Medicina pela UFRJ
A obesidade está associada a diversas alterações sistêmicas, físicas e psicológicas, além de doenças oculares como catarata, maculopatia relacionada à idade, glaucoma e retinopatia diabética. As alterações na estrutura ocular e os mecanismos não haviam sido estudados de forma detalhada. Poucos estudos examinaram efeitos potenciais da obesidade sem doenças associadas como a diabetes, na saúde ocular.
Um artigo publicado em janeiro de 2019 na revista dos arquivos brasileiros de oftalmologia, escrito por um grupo turco, analisou 101 voluntários com obesidade mórbida (índice de massa corporal >40) porém sem doenças sistêmicas relacionadas e sem doenças oculares prévias, e 95 indivíduos com índices considerados normais (18,50 – 24,99) no departamento de Oftalmologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Duzce.
Foram feitas tonometrias por aplanação, paquimetria e tomografia de coerência óptica. A ideia era comparar a profundidade da câmara anterior, a pressão intraocular, a espessura corneana, a espessura da camada de fibras nervosas da retina, a espessura da coroide e da fóvea.
A medida média de pressão intraocular foi significativamente maior no grupo com obesidade (15,5 x 14,5; p=0,009), enquanto o comprimento axial, profundidade da câmara anterior e espessura corneana não foram diferentes. A espessura da camada de fibras nervosas no quadrante temporal foi significativamente reduzida no grupo com obesidade mórbida (72,7 x 85,05; p=0.,024), porém não foram encontradas diferenças nos demais quadrantes. A espessura retiniana nas regiões nasal e temporal e da coroide em todas as regiões medidas também foram menores no grupo obeso.
Diversos outros estudos encontraram associação entre o índice de massa corporal elevado e aumento da pressão intraocular, porém poucos analisaram a relação com a neuropatia glaucomatosa. São necessárias novas investigações para determinar essa associação. Alguns mecanismos propostos incluem o acúmulo de gordura intraorbital, o aumento da viscosidade sanguínea, o aumento da pressão venosa episcleral e a piora da drenagem aquosa.
Além disso, olhos com diminuição do fluxo vascular para o nervo óptico são mais propensos ao dano. As alterações no suprimento arterial, na vasorregulação autonômica e o dano endotelial no obeso poderiam também explicar uma diminuição no fluxo para a cabeça do nervo óptico.
Fonte: PEBMED