Um estudo retrospectivo revelou que a apneia obstrutiva do sono (AOS) aumenta mais de duas vezes o risco de desenvolver degeneração macular relacionada à idade (DMRI).
A análise de 5 anos, realizada com 58.700 pares de pacientes com AOS e controles, mostrou que indivíduos com AOS apresentaram maior probabilidade de desenvolver DMRI não exsudativa (2,05% contra 0,76%; HR 2,64, IC 95% 2,37-2,96, P<0,001) e DMRI exsudativa (0,53% contra 0,23%; HR 2,48, IC 95% 1,99-3,11, P=0,002).
Além disso, os pacientes com AOS tinham uma probabilidade significativamente maior de necessitar de injeções anti-VEGF para o tratamento da DMRI (HR 2,85, IC 95% 2,26-3,59, P<0,001), conforme relatado por Ehsan Rahimy, MD, do Byers Eye Institute e Palo Alto Medical Foundation, e sua equipe, no periódico Ophthalmology Retina.
Pacientes com DMRI já diagnosticada que desenvolveram AOS apresentaram um risco elevado de agravamento da doença, incluindo o desenvolvimento de atrofia geográfica ou DMRI exsudativa.
De acordo com Ahmed M. Alshaikhsalama, BS, do UT Southwestern Medical Center, embora estudos prévios já tivessem sugerido uma possível relação entre AOS e DMRI, “o objetivo foi investigar essa associação em uma grande população nos EUA e analisar como a DMRI existente poderia ser impactada.”
O aumento significativo do risco de DMRI nos pacientes com AOS foi inesperado, conforme mencionado por Alshaikhsalama ao MedPage Today.
Estudos anteriores haviam relacionado a AOS a um aumento de apenas 1,36 vezes no risco de DMRI e não identificaram relação significativa entre a progressão da forma não exsudativa para a exsudativa. A magnitude dos riscos associados à atrofia geográfica (HR 7,00) e à DMRI exsudativa (HR 2,87) surpreendeu até mesmo especialistas como Cecilia S. Lee, MD, da Universidade de Washington, que também destacou que as diferenças nos achados podem ser atribuídas a variações demográficas e metodológicas.
Possíveis Explicações
Os resultados do estudo sugerem que flutuações locais nos níveis de oxigênio podem influenciar o desenvolvimento da DMRI, mas os mecanismos exatos ainda não são completamente compreendidos.
Uma hipótese levantada por Alshaikhsalama é que a hipóxia intermitente, comum na AOS, provoca estresse oxidativo e inflamação, danificando a retina e contribuindo para o desenvolvimento da DMRI. Há também evidências de que a AOS pode levar ao afinamento da coroide, um efeito semelhante ao observado em pacientes com DMRI, o que poderia comprometer o fluxo sanguíneo na retina.
Além disso, as obstruções repetidas das vias aéreas associadas à AOS podem causar danos microvasculares, agravando o estado da retina.
Apesar disso, o estudo não confirma que a AOS seja a causa direta da DMRI. Outros fatores, como predisposição genética e condições de saúde associadas, podem influenciar a relação observada. Também não há dados suficientes para determinar se o tratamento com CPAP ou ventilação pode reverter ou atenuar os efeitos da AOS sobre a DMRI.
Detalhes do Estudo
A pesquisa analisou dados do sistema TriNetX, abrangendo informações de saúde de indivíduos com catarata relacionada à idade entre 2004 e 2024, garantindo que todos os participantes passaram por exames oftalmológicos completos.
Os 58.700 participantes com AOS eram compostos por 49% de homens, 66% de brancos, 18% de negros, 53% com diabetes, 71% com sobrepeso ou obesidade e 86% com hipertensão. A composição do grupo controle foi demograficamente similar.
Os resultados não encontraram relação significativa entre AOS e hemorragia macular (0,67% contra 0,58%; HR 1,05, IC 95% 0,90-1,21, P=0,98) ou cegueira legal (0,22% contra 0,23%; HR 1,00, IC 95% 0,78-1,29, P=0,68). Segundo Cecilia S. Lee, a ausência de associação entre AOS e essas complicações foi inesperada, já que frequentemente acompanham casos avançados de DMRI.
Por outro lado, em uma subanálise de 4.705 pacientes com DMRI não avançada, aqueles com AOS apresentaram maior risco de atrofia geográfica (3,15% contra 0,32%; HR 7,00, IC 95% 4,47-11,0, P=0,03) e DMRI exsudativa (8,50% contra 3,00%; HR 2,87, IC 95% 2,37-3,48, P=0,03).
Os pesquisadores destacaram limitações do estudo, como a dependência de códigos de diagnóstico e a falta de controle de fatores de risco, como tabagismo e o uso de suplementos AREDS 2, conhecidos por retardar a progressão da DMRI.
Fonte: MedPage Today