O mês de novembro foi eleito para falar sobre a prematuridade, ou seja, dos bebês que nascem antes de 37 semanas de gestação. Nascer antes do tempo pode ter uma série de consequências para o desenvolvimento infantil, como o aumento do risco de apresentar algumas condições visuais.
Isso porque o desenvolvimento visual acontece nas últimas 12 semanas de gestação e só se completa por volta dos sete anos de idade. Uma das condições mais comuns que podem ocorrer em bebês prematuros é a Retinopatia da Prematuridade (ROP).
Segundo Marcela Barreira, oftalmopediatra e especialista em estrabismo, Chefe do Serviço de Neuroftalmologia do Banco de Olhos de Sorocaba, a retinopatia da prematuridade tem um maior risco de ocorrer em bebês que chegam muito tempo antes do previsto e com baixo peso. “Cerca de um terço dos bebês com menos de 1,5 kg pode desenvolver a retinopatia e esse risco aumenta para 65% em bebês com menos de 1,2 kg. A retinopatia é uma doença ocular que afeta a retina. Há uma proliferação, ou seja, um crescimento anormal dos vasos sanguíneos da retina e, consequentemente, surgem problemas na vascularização”, explica.
Detecção precoce é fundamental
A retinopatia da prematuridade é uma das principais causas de cegueira infantil. “Quando não tratada ou detectada de forma precoce, a ROP pode causar descolamento da retina, com comprometimento irreversível da visão. A boa notícia é que a ROP pode ser tratada, mas isso deve ser feito de forma precoce. Daí a importância da avaliação e do acompanhamento dos prematuros por um oftalmopediatra, ainda na maternidade”, diz.
A oftalmopediatra explica que os fatores de risco para a retinopatia da prematuridade são bem conhecidos. “Além do baixo peso e da prematuridade extrema, complicações como hiper ou hipóxia (excesso ou falta de oxigenação), uso prolongado de oxigênio e flutuações nos níveis de oxigênio, sepse (infecção generalizada), candidemia (infecção na corrente sanguínea por leveduras) e exsanguineotransfusão, procedimento em que o sangue do bebê é removido e trocado por outro, devem chamar a atenção da equipe neonatal para uma possível complicação na retina”, comenta.
Tratamento
“A detecção precoce é importante para impedir a evolução da retinopatia. Nos casos iniciais, o acompanhamento com o oftalmopediatra é contínuo para avalições da necessidade de intervenções ou não. Já nos casos mais avançados, em que há risco de descolamento da retina, temos algumas opções terapêuticas, cuja recomendação é feita de forma individual”, ressalta Marcela.
Entre os tratamentos mais utilizados hoje estão a fotocoagulação a laser e as injeções com substâncias antiangiogênicas, que são medicamentos que inibem o crescimento de novos vasos sanguíneos. Há também o tratamento com crioterapia.
Prematuridade e outros problemas visuais
A retinopatia da prematuridade aumenta o risco de o bebê desenvolver outras condições visuais. “Há estudos que mostram uma predisposição maior para o desenvolvimento de erros refrativos, como a miopia, hipermetropia, astigmatismo e anisometropia (graus refrativos diferentes em cada olho). Por isso, pais de crianças prematuras devem fazer o acompanhamento regular com um oftalmopediatra ao longo da vida”, diz a oftalmopediatra.
Estrabismo também é mais incidente em prematuros
Segundo a literatura, a incidência de estrabismo em crianças prematuras que tiveram ROP é maior quando comparada às crianças que nasceram a termo.
“O estrabismo, em alguns casos, pode estar relacionado a retinopatia da prematuridade, assim como aos erros refrativos e, em alguns casos, ao comprometimento neurológico. Estima-se que de 22 a 47% das crianças que tiveram ROP terão estrabismo e cerca de metade irá apresentar algum grau de ambliopia (olho preguiçoso)”, cita a especialista.
Prevenção
A melhor prevenção para as complicações visuais, como a retinopatia da prematuridade, é prevenir o parto prematuro. Quando o bebê nasce antes do tempo são fundamentais a avaliação e o acompanhamento com o oftalmopediatra, profissional que deve compor a equipe neonatal.
Lembrando que mesmo os bebês prematuros que não apresentaram complicações visuais no nascimento, devem ser acompanhados por um oftalmopediatra até por volta dos sete ou oito anos de idade, fase em que o desenvolvimento visual se completa.
Fonte: Marcela Barreira