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Circula na internet um vídeo falso que simula uma reportagem, atribuindo a pesquisadores do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto a testagem e recomendação de um produto chamado Lutramin. O vídeo, produzido com o uso de inteligência artificial, manipula as vozes dos especialistas para promover o medicamento, anunciado como solução para diversos problemas oculares.

A manipulação inclui imagens de uma ex-aluna da USP e do oftalmologista e professor Rodrigo Jorge, fundador do setor de Retina e Vítreo do HC da USP Ribeirão Preto. Com o uso de tecnologia de deep fake, os discursos dos pesquisadores foram alterados para parecerem recomendar o produto.

No vídeo, os especialistas aparentam validar a segurança do Lutramin, alegando que ele apresenta resultados em apenas 15 dias e foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Entretanto, o produto não consta no Sistema de Consultas do órgão regulador.

De acordo com Rodrigo Jorge, o vídeo falso se baseou em uma reportagem real exibida no Jornal da Band, que abordava pesquisas conduzidas por sua equipe. Porém, o material original foi adulterado, substituindo as informações verdadeiras por declarações fabricadas.

A USP de Ribeirão Preto registrou um boletim de ocorrência e já identificou dados preliminares sobre o possível responsável pelo site de vendas do produto. As autoridades investigam a fraude e reforçam a importância de buscar informações em canais oficiais.

No site de vendas, produto promete curar uma grande quantidade de problemas oculares graças à suposta formulação com ozônio. Foto: Captura de tela do site/lutramin.shop


As promessas do Lutramin

No site de vendas, o Lutramin é apresentado como “a primeira fórmula ozonizada de curativo visual do mundo”, com a alegação de prevenir ou tratar condições como catarata, glaucoma, degeneração macular relacionada à idade (DMRI), embaçamento da visão e outros problemas oculares. O vídeo manipulado afirma que o medicamento “absorve os problemas de visão como uma esponja”.

O produto é indicado para consumo oral, com gotas aplicadas sob a língua, e afirma conter ativos como ozônio, luteína, zeaxantina, zinco, retinol e astaxantina.

Rodrigo Jorge alerta que, por se tratar de um produto desconhecido e sem avaliação da Anvisa, o consumo não é recomendado. “Além de não ser seguro, a venda de produtos como esse caracteriza estelionato, tirando dinheiro da população de forma ilícita”, ressalta.

O Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) também desaconselha o uso da ozonioterapia para o tratamento de doenças oculares, apontando a falta de evidências científicas que comprovem sua eficácia e segurança.

Embora substâncias como luteína e zeaxantina sejam benéficas para a saúde ocular, a oftalmologista Raissa Moreira, presidente da Associação Maranhense de Oftalmologia (AMO), adverte que não há garantias de que o Lutramin realmente contenha os ingredientes declarados, nem que a dosagem seja apropriada. “Essas substâncias ajudam a retardar o progresso de algumas doenças, mas o uso sem controle ou verificação é arriscado”, afirma.


Orientações ao público

O CBO alerta sobre os riscos de promessas de cura milagrosa, lembrando que muitas condições oculares não têm cura, embora possam ser controladas. “Doenças crônicas como a degeneração macular relacionada à idade, a retinose pigmentar e o glaucoma frequentemente não têm tratamento definitivo. Isso gera desespero nos pacientes, que podem cair em armadilhas como essas”, alerta Wilma Lelis, diretora do CBO.

Rodrigo Jorge reforça que tratamentos oculares devem ser sempre supervisionados por um médico oftalmologista e recomenda verificar se o profissional é registrado no Conselho Regional de Medicina. “Cada condição exige um tratamento específico. Desconfie de produtos que prometem resolver várias doenças ao mesmo tempo ou apresentam soluções milagrosas”, orienta.

Por fim, é essencial checar se o produto é aprovado pela Anvisa. Para isso, basta acessar o Sistema de Consultas do órgão e usar a opção ‘Consulta Genérica’ para verificar o registro do item.

Fonte: O Estado de S. Paulo

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