Por Christye Cantero
A Comissão CBO Mulher realiza encontros em eventos oftalmológicos com o objetivo de debater os problemas da oftalmologia atual sob o ponto de vista feminino e, ao mesmo tempo, incentivar as discussões de outros aspectos que podem enriquecer o exercício da medicina.
Essa comissão é coordenada pelas oftalmologistas Denise de Freitas, Keila Monteiro de Carvalho e Maria Cristina Nishiwaki Dantas. A programação no CBO 2019 contou com a colaboração da professora Andréa Araújo Zin.
Na tarde de 6 de setembro, durante o 63º Congresso Brasileiro de Oftalmologia, a Comissão CBO Mulher se reuniu e promoveu algumas palestras. Uma delas tratou dos Desafios da Mulher na Ciência e Tecnologia, proferida pela reitora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Denise Pires de Carvalho.
Denise comentou que o que acontece na sociedade é o efeito tesoura em que homens e mulheres têm a mesma capacidade técnica, de liderança e formação parecidas e mesmo assim os homens acabam se sobressaindo. “A discussão não é se a mulher é ou não capacitada, mas como, avançar para atingir a igualdade de gênero”, enfatizou. A reitora disse ainda que em 2018, em Ciências Biológicas, as mulheres ocuparam 25% das cadeiras. Entre as engenheiras esse índice é bem menor. “Somente 2,5% de mulheres engenheiras estão na Academia Brasileira de Ciências (ABC). Hoje o MIT só tem 30% de mulheres porque foi implementada uma política que determina isso”, finalizou.
Ana Teixeira, diretora de consumer e market insights da L Oréal, apresentou o programa For Women in Science e comentou que a empresa inaugurou, há dois anos, um centro de pesquisa e inovação no Brasil. “O país é um enorme mercado de beleza e tem diversos tipos de pele e cabelo. Tendo esse centro de pesquisa aqui nos beneficiamos de toda a riqueza brasileira de biodiversidade”, disse. Em parceria com a ABC e a Unesco, a companhia lançou no país o programa que tem a tripla missão de transformar o panorama atual da ciência buscando mais equilíbrio, inspirar a nova geração e focar na causa do público feminino. O programa existe há 20 anos em vários países, já premiou mais de três mil mulheres e no Brasil tem como objetivo oferecer bolsas de pós-doutorado. “No Brasil. o For Women in Science começou em 2006 e todo ano são selecionados sete projetos, que recebem bolsas de R$ 50 mil. “O mundo precisa da ciência e a ciência precisa das mulheres”, concluiu Ana
A professora Eliete Bouskela, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), ministrou a palestra Como vai o nosso telhado de vidro. A pesquisadora ressaltou que o Brasil não está sozinho no quesito desigualdade de gênero. “Morei na Suécia e no departamento em que trabalhei, de 100 pessoas, eu era a única que não era nem estudante, nem técnica, nem da equipe de limpeza. Então o Brasil não está sozinho”, disse.
Ela ressaltou alguns fatores que mostram as diferenças entre os mundos masculino e feminino. “Uma mulher casada pôde abrir conta em banco e escolher uma profissão sem autorização do marido apenas em 1962. A falta de virgindade deixou de ser motivo de anulação de casamento em 2002. Somente em 2015 a mãe conseguiu o direito, que antes era do pai, de registrar o filho em cartório”, exemplificou.
E ainda há muito a ser feito. De acordo com o Fórum Econômico Mundial serão necessários dois séculos para acabar com a desigualdades de gênero no mercado de trabalho. “As mulheres ganham, em média, 30% menos que os homens na mesma posição. Além disso, 58% das empresas da Bovespa não têm nenhuma mulher no conselho de administração. Na ciência, ainda temos pequena representação em posições de destaque e liderança”, disse Eliete.
Fonte: Universo Visual