As dimensões continentais do Brasil fazem com que seja uma operação complexa disponibilizar diagnóstico e tratamento às regiões mais distantes e com menor infraestrutura. Mas um caminho para driblar as dificuldades e ampliar esse acesso está nas healthtechs, startups que desenvolvem tecnologias para otimizar ações relacionadas ao sistema de saúde, com uma capacidade de oferecer soluções a diferentes realidades de forma ágil.
Um dos pontos fortes das startups é encontrar rapidamente formas eficientes de resolver necessidades do cotidiano, desenvolvendo produtos e serviços que podem aprimorar a telemedicina, além de equipamentos para que atendimentos de qualidade sejam levados de maneira menos onerosa a locais mais distantes das capitais.
Já encontramos no mercado uma série de soluções que contribuem no atendimento a populações com maior dificuldade de acesso, como equipamentos que facilitam o diagnóstico ou tratamento de forma remota, exigência marcante nesse período de distanciamento social que vivemos.
Tivemos, em 2020, um exemplo de como uma startup pode contribuir de maneira veloz no atendimento a cidadãos que moram distantes de capitais. Em outubro, só foi possível realizar um mutirão de avaliação gratuita de retinopatia diabética (complicação do diabetes marcada por danos nos vasos sanguíneos no tecido da parte traseira do olho), em Itabuna, cidade baiana a mais de 300 km de Salvador com cerca de 200 mil habitantes, graças a uma inovação promovida pela Phelcom Technologies, startup de São Carlos, no interior de São Paulo.
Em 2017, ao ser selecionada para participar do Creative Startups, programa nacional de aceleração de startups da Samsung, a Phelcom desenvolveu o Eyer, um equipamento portátil que, acoplado a um smartphone, realiza exames de retina de alta qualidade, em poucos minutos, sem a necessidade de dilatação da pupila.
As imagens são coletadas por uma pessoa treinada e os dados são disponibilizados automaticamente na plataforma on-line EyerCloud, permitindo que o diagnóstico seja realizado por um médico localizado em qualquer lugar do mundo.
É uma solução única, inclusive por ser móvel. No método tradicional, o paciente precisa ir a um consultório oftalmológico para fazer o mesmo exame em um equipamento maior e fixo, tornando todo o processo muito mais trabalhoso.
O Eyer permitiu um atendimento a cerca de 400 pessoas em quatro dias de mutirão respeitando as regras de distanciamento social. Cada um dos atendidos pôde fazer o exame de retina de alta qualidade, fundamental para a prevenção da cegueira irreversível, detecção de descolamento de retina, monitoramento de glaucoma e diversos outros problemas oftalmológicos.
E a facilidade proporcionada pelo equipamento também atraiu a atenção de redes de farmácias populares distribuídas pelo Brasil, ampliando a possibilidade de a população obter diagnósticos importantes de forma mais simples e barata.
As healthtechs também são capazes de resolver diversas outras questões que envolvem a saúde como um todo, como plataformas de ginástica que vão além de videoaulas, utilizando sensores presentes em smartphones e smartwatchs/bands, ou a criação de ferramentas de auxílio psicológico, entre outras.
Diante de um cenário com presença cada vez maior de startups voltadas para a saúde, é importante ressaltar que, para maximizarem seu campo de atuação, esses empreendedores precisam ter acesso a ferramentas como ocorreu com a Phelcom ao ser selecionada para um programa que ofereceu ativos, tecnologias, laboratórios de P&D, treinamentos, assessorias, mentorias, networking e redes de investidores.
É fundamental que as startups não percam essa característica de modificar seus negócios e tecnologias para atender a demandas reais do mercado, desenvolvendo produtos e soluções de forma muito mais ágil e a custos menores. Para isso, é bem-vinda a resiliência do empreendedor, que deve estar apto a mudar de rumo se, em algum momento, se fizer necessária uma correção de rota. Depois do que vivemos em 2020, ficou claro como isso pode ser recorrente.
Fonte: Veja saúde