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Michel Eid Farah, professor titular livre-docente e responsável pela Especialização do Setor de Retina e Vítreo do Departamento de Oftalmologia da Escola Paulista de Medicina-EPM/UNIFESP

Por Flávia Lo Bello

A Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI) é a principal causa de perda de visão em países de alta renda, ocupando o terceiro lugar globalmente. Estima-se que a doença afetará 288 milhões de pessoas em 2040, representando uma grande parcela da população. Dessa forma, estudos desenvolvidos pelo National Institute of Health (NIH), dos Estados Unidos, um órgão governamental sem interesse comercial, avaliaram as fórmulas AREDS e AREDS 2 no tratamento da Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI). As duas formulações demonstraram ter eficácia na diminuição do risco de progressão da DMRI na forma atrófica.

Até o momento, 10 mil pacientes foram acompanhados por mais de uma década nessas avaliações e as duas fórmulas são consideradas efetivas no tratamento da doença. Michel Eid Farah, professor titular livre-docente e responsável pela Especialização do Setor de Retina e Vítreo do Departamento de Oftalmologia da Escola Paulista de Medicina-EPM/UNIFESP, explica que o estudo AREDS (Age Related Eye Disease Study) foi realizado como ensaio clínico e de acompanhamento, no qual todos os pacientes receberam o suplemento durante cinco anos. “Esse estudo avaliou o uso da vitamina C, vitamina E, betacaroteno, zinco e cobre. E após cinco anos, a melhor combinação de componentes, incluindo vitaminas e zinco nas doses testadas e preconizadas, resultou em uma redução de 25% no risco de progressão para DMRI na forma grave”, afirma.

Conforme explica Farah, os pacientes foram acompanhados por mais cinco anos com o suplemento, descobrindo-se que o efeito do tratamento ainda persistia por dez anos depois, apesar de os pacientes não estarem mais randomizados. “Os efeitos benéficos realmente se mantiveram, especialmente para a DMRI neovascular”, comenta o especialista, esclarecendo que em 2006 foi iniciado o estudo AREDS 2, uma vez que os pesquisadores estavam interessados em adicionar luteína/zeaxantina e ômega 3, que se mostraram potencialmente vantajosos no tratamento – e o consumo regular de peixe reduziu o risco de atrofia geográfica (AG) nos pacientes durante o estudo AREDS 2.

 

Análise post hoc do AREDS e do AREDS 2

Em um novo trabalho de complementação, a maioria dos pacientes apresentava drusas grandes bilaterais ou DMRI avançada em um dos olhos. O estudo “Suplementação oral de antioxidantes e luteína/zeaxantina retarda – com uma taxa de cerca de 30% – a progressão da atrofia geográfica para a fóvea na DMRI”, publicado na revista Ophthalmology, em 2024, foi uma análise post hoc do AREDS e do AREDS 2 para determinar se a suplementação retarda a progressão da AG na DMRI (ver box). Verificou-se que a luteína e a zeaxantina apresentaram um efeito vantajoso, com um aumento incremental nos benefícios. “Análises post hoc demonstram que os suplementos AREDS e AREDS 2 reduzem a taxa de progressão baseada na proximidade para DMRI avançada ou atrofia geográfica não central, entretanto, isso merece ser mais estudado”, avalia o cirurgião.

Além disso, de acordo com Farah, descobriu-se que houve um risco duas vezes maior de câncer de pulmão em pessoas que receberam betacaroteno. Por questões de segurança, o betacaroteno foi substituído por luteína/zeaxantina. “Assim, a formulação AREDS 2 incluiu as vitaminas C e E, luteína/zeaxantina 2 mg, óxido de zinco 80 mg e óxido de cobre 2 mg. O ômega 3 não foi incluído na fórmula final por não apresentar diferença nos resultados”, observa o médico.

Tanto no AREDS quanto no AREDS 2, os pacientes receberam a suplementação após o seu término e foram acompanhados por mais cinco anos, verificando-se que houve, novamente, um efeito benéfico, especialmente com luteína/zeaxantina. “E o grupo com betacaroteno teve uma taxa maior de progressão para DMRI avançada em comparação ao grupo com luteína/zeaxantina. Portanto, mais uma vez, replicaram-se os dados de cinco anos, mostrando que, quando comparada ao betacaroteno, a luteína/zeaxantina foi vantajosa na redução do risco de desenvolvimento para DMRI na forma grave”, avalia o oftalmologista.

“Ainda, verificou-se que a dieta mediterrânea, como por exemplo o consumo de peixes e azeite de oliva, é importante para retardar a progressão da DMRI, bem como de alimentos integrais e ácidos graxos monoinsaturados em casos de grandes áreas de atrofia geográfica”, revela Farah, ressaltando que os suplementos AREDS e AREDS 2 reduzem o risco de progressão da DMRI avançada para a DMRI tanto atrófica quanto neovascular.

 

Uso de antioxidantes no tratamento da atrofia geográfica

Estudo recente com mais de 1000 participantes avaliou o uso da fórmula AREDS 2 (completa) com suplementação oral de antioxidantes, a luteína e a zeaxantina, para verificar o ritmo de progressão da atrofia geográfica. “Esse foi um estudo ad hoc, ou seja, realizado após a análise inicial”, comenta Farah. A fórmula foi com 80 mg de zinco, 10 mg de luteína e 2 mg de zeaxantina, além de outros componentes. “Há muitas variações atualmente da fórmula e é importante ressaltar que não se deve utilizar nenhuma variação e sim a formulação originalmente proposta, testada e comprovada em estudos multicêntricos sem interesse comercial, como o AREDS 2”, orienta o especialista.

De acordo com o oftalmologista, essa é a fórmula que deve ser mantida e que se encontra no novo produto Druse. “Não houve mudança em seus componentes, somente na apresentação de um único comprimido três vezes por dia, o que facilitou muito a sua utilização”, diz, enfatizando que o National Institute of Health (NIH) considera os resultados do AREDS e AREDS 2 em relação ao zinco 80 mg como gold standard para que se obtenha uma redução de risco de 25% de progressão para perda acentuada de visão em pacientes com DMRI.

Em relação à AG, o cirurgião afirma que outros tratamentos atualmente disponíveis para DMRI atrófica são administrados por injeção intravítrea a cada 1-2 meses, com eficácia relativamente modesta e alto custo. Para ele, a suplementação oral possui efeitos parecidos na redução da progressão da atrofia geográfica se comparados com as injeções. Dessa maneira, é um grande ganho para o paciente, pois ele poderá fazer um tratamento mais fácil, barato e seguro. “O uso da suplementação oral da fórmula AREDS 2 é uma forma eficaz de retardar a progressão tanto da atrofia geográfica para a fóvea quanto da forma exsudativa neovascular da DMRI”, conclui Farah.

 

Estudo aponta progressão mais lenta da AG na DMRI

Estudo post hoc do AREDS e do AREDS 2 em que foram avaliados 392 olhos (318 participantes) com AG no AREDS e 1.210 olhos (891 participantes com atrofia geográfica que não acometia a mácula) no AREDS 2, o que se observou foi que os suplementos nas doses preconizadas levaram a uma progressão mais lenta da atrofia geográfica em direção à fovea.

A diferença foi de aproximadamente 36%, tanto na fórmula original AREDS quanto depois, na fórmula utilizada atualmente AREDS 2, um valor estatístico considerado significativo, sem tratamento invasivo, apenas com medicação administrada via oral. Também houve interesse em analisar a dieta dos participantes do estudo e, nos casos em que a dieta mediterrânea foi muito prevalente – que inclui maior consumo de frutas, menor consumo de carne vermelha, ingestão moderada de álcool e maior consumo de ácidos graxos monoinsaturados, como o azeite de oliva -, notou-se um crescimento mais lento de atrofia geográfica em comparação com aqueles com menor ingestão da dieta mediterrânea.

Conclui-se, dessa forma, que houve melhora na prevenção contra a progressão da doença de 20% a 28% quando se utilizam todas as substâncias da formulação. Na opinião de Michel Eid Farah, do Departamento de Oftalmologia da Escola Paulista de Medicina-EPM/UNIFESP, esses achados são muito relevantes e úteis para os pacientes, entretanto, ele destaca que apenas a luteína e a zeaxantina não são suficientes. “A complementação com todos os outros componentes nas doses recomendadas é fundamental para o sucesso do tratamento”, finaliza o oftalmologista

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