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Pedro Antônio Nogueira Filho – Vice Presidente da SOBRETO – Sociedade Brasileira De Emergências, Urgências e Trauma Ocular; Chefe Do Pronto Socorro Do Grupo H. Olhos/Vision One – São Paulo; Doutorando UNIFESP – EPM (Escola Paulista De Medicina)

Varíola do Macaco é uma zoonose viral com sintomas semelhantes aos observados no passado em pacientes com Varíola, embora seja clinicamente menos grave. Com a erradicação da varíola em 1980 e a subsequente cessação da vacinação contra a varíola, a varíola dos macacos emergiu como o ortopoxvírus mais importante em saúde pública, causando um surto global em 2022. O vírus Monkeypox ocorre principalmente na África central e ocidental, muitas vezes nas proximidades de florestas tropicais, e tem se manifestado cada vez mais em áreas urbanas. Os hospedeiros animais incluem uma variedade de roedores e primatas não humanos.(1)

Após consultas com especialistas globais, a Organização Mundial da Saúde (OMS) começou a usar um novo termo preferido, “Mpox”, como sinônimo de varíola dos macacos (Monkeypox) de acordo com recomendação publicada em 28 de novembro de 2022 em Genebra na Suíça pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Ambos os nomes foram utilizados simultaneamente em inglês durante um ano, enquanto o termo “Monkeypox” foi gradualmente abolido.

A atribuição de nomes a doenças novas e, muito excepcionalmente, a doenças existentes é de responsabilidade da OMS sob a Classificação Internacional de Doenças (CID) e da Família de Classificações Internacionais Relacionadas à Saúde por meio de um processo consultivo que inclui os Estados membros da OMS.(2)

A Mpox, semelhante à varíola humana erradicada em 1980, dominou o noticiário nos últimos dias. Inclusive, existe uma preocupação quanto ao aumento de casos da doença no Brasil, sua transmissibilidade e virulência.(3,4)

O destaque se deu pelo Diretor-Geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, que em 14 de agosto de 2024 determinou que o aumento de Mpox na República Democrática do Congo (RDC) e em um número crescente de países na África constitui uma emergência de saúde pública de interesse internacional (PHEIC) sob o Regulamento Sanitário Internacional (2005) (IHR).(5)

Com relação aos sintomas da doença, podem ser citados erupções cutâneas ou lesões de pele, febre, ínguas, dores no corpo, dor de cabeça, calafrio e fraqueza são alguns. O número de lesões de pele pode ser variável e a área acometida pode ficar restrita àquelas do contato com as lesões fontes da transmissão. Elas podem ser levemente elevadas, preenchidas com líquido claro ou amarelado, algumas vezes formando crostas, que secam e caem. As erupções podem ocorrer na face, olhos, boca, tronco, mãos, pés ou qualquer outra parte do corpo, incluindo as regiões genital e anal. Os sinais e sintomas podem ser percebidos no período de 3 a 21 dias após o contato com o vírus. A transmissão da Mpox ocorre desde o surgimento dos primeiros sinais e sintomas até que todas as lesões na pele tenham cicatrizado completamente.(4)

Não podemos deixar de citar a possibilidade de manifestação ocular da doença e que pode acometer pálpebras, superfície ocular e córnea como já descrito previamente em publicação de 2022.(1)

Ao exame da   biomicroscopia em lâmpada de fenda, podem ser identificados secreção hialina, hiperemia e congestão vascular conjuntival, folículos a eversão pálpebral, lesões conjuntivais epiteliais, podendo haver acometimento da carúncula, região do limbo e da córnea, e de superfície plana e cobertas por material fibrótico e de coloração leitosa.(1)

A prevenção é a melhor forma de se proteger da doença. Por isso, evite contato com pessoas com suspeita ou confirmação da doença. Se o contato é realmente necessário, como é o caso de cuidadores, profissionais da saúde, familiares próximos, utilize luvas, máscaras, avental e óculos de proteção. Lave regularmente as mãos com água e sabão ou utilize álcool em gel, principalmente após o contato com a pessoa infectada, suas roupas, lençóis, toalhas e outros itens ou superfícies que possam ter entrado em contato com as erupções e lesões da pele ou secreções respiratórias (por exemplo, utensílios, pratos).

Outro cuidado necessário é lavar roupas pessoais e de cama, toalhas, lençóis, talheres e objetos pessoais da pessoa com água morna e detergente. Limpe e desinfete todas as superfícies contaminadas e descarte os resíduos contaminados, como curativos, de forma adequada.(4)

Destaque aqui para a rotina do consultório e a necessidade de higiene adequada do ambiente e equipamentos utilizados durante o exame clínico e outros complementares do paciente com possível acometimento pela Mpox.

Quanto ao tratamento, não há tratamento específico para a infecção pelo vírus da Mpox. A atenção médica é usada para aliviar dores e demais sintomas e prevenir sequelas em longo prazo.(4)

O surto apresenta baixo nível de transmissão fora do continente africano até o momento. Em 2024, foram notificados 709 casos confirmados ou prováveis da doença no Brasil, sendo 85% do sexo masculino e 42,2% são pessoas que vivem com HIV/Aids.

O número é bem menor quando comparado aos mais de 10 mil casos notificados em 2022, durante o pico da doença no país. Desde 2022, foram registrados 16 óbitos, sendo o mais recente em abril de 2023.

Até o momento, não há registro de casos da nova variante no Brasil.(4)

A Mpox foi relatada na República Democrática do Congo (RDC) por mais de uma década, e o número de casos relatados a cada ano aumentou de forma constante durante esse período. No ano passado (2023), os casos relatados aumentaram significativamente, e o número de casos relatados até agora neste ano já excedeu o total do ano passado, com mais de 15.600 casos e 537 mortes.(5)

O surgimento no ano passado e a rápida disseminação de uma nova cepa de vírus na RDC, clade 1b, que parece estar se espalhando principalmente por meio de redes sexuais, e sua detecção em países vizinhos da RDC é especialmente preocupante, e uma das principais razões para a declaração da emergência de saúde pública de interesse internacional (PHEIC).(5)

No mês passado, mais de 100 casos confirmados em laboratório de clade 1b foram relatados em quatro países vizinhos da RDC que não relataram Mpox antes: Burundi, Quênia, Ruanda e Uganda. Especialistas acreditam que o número real de casos seja maior, pois uma grande proporção de casos clinicamente compatíveis não foi testada.(5)

A observação das autoridades de saúde é que a variante Clado 1b [Um clado é um agrupamento que inclui um ancestral comum e todos os descendentes (viventes e extintos) desse ancestral] (6), que circula na África Central, é mais fácil de transmitir e está afetando principalmente crianças. Ela também pode se espalhar por meio de diferentes modos de transmissão e não apenas por contato próximo e prolongado.

O cenário epidemiológico da Mpox no Brasil não apresentou mudança, ou seja, há estabilidade no volume de casos, mas em razão do alerta emitido pela OMS, a vigilância da doença é uma prioridade.

O Ministério da Saúde reforça que não há motivo de alarme, mas sim de alerta.(4,6)

Quanto a vacinação, ela não está prevista neste momento como estratégia mais eficiente para conter a doença. Em 2023, durante a Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou a vacinação contra a Mpox no Brasil de forma provisória. Em 2023, foram distribuídas todas as 49 mil doses das vacinas adquiridas pelo Ministério da Saúde.

A vacina contra a Mpox tem disponibilidade limitada, em razão do alto grau de complexidade de produção do medicamento, o que dificulta a aquisição do imunizante em todo o mundo.(4)

Recentemente, a OMS ativou o processo de inclusão das vacinas contra a doença na lista de uso emergencial. Essa ação vai ajudar a acelerar o acesso às vacinas para países de baixa renda que ainda não emitiram a própria aprovação regulatória nacional.(5)

Referências bibliográficas:

 

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