O estudo “Percepção dos cuidados e atenção com a saúde ocular da população brasileira”, divulgado em julho pela Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO) durante o congresso da entidade, revela que 11% dos entrevistados nunca foram ao oftalmologista. Esse índice sobe quando analisados recortes de grupos específicos como, por exemplo, indígenas (20%).
Entra as pessoas que afirmaram ir ao oftalmologista, 57,8% revelaram que vão periodicamente para prevenção; 35% só procuram esse especialista quando há algum sintoma ocular ou visual; 29,5% foram a esse médico há mais de dois anos; e 72% o procuram por indicação de amigos ou parentes ou indicação/disponibilidade do plano de saúde. O fator idade também contribui para a frequência com que a população busca o oftalmologista. Enquanto 61,1% dos que têm 50 anos ou mais fazem consultas periódicas, na faixa entre 16 e 24 anos esse índice cai para 49,3%.
A pesquisa identificou também que 9,8% dos respondentes já fizeram uso de colírios independente da consulta com o oftalmologista, índice que sobe entre autodeclarados indígenas (36,4%) e entre aqueles com menor escolaridade (17,3% dos analfabetos até a 4ª série; 15,6% da 5ª à 8ª série; 7,9% com ensino médio completo e 8,7% com ensino superior completo). Além disso, cerca de 11% já compraram óculos de grau sem prescrição médica, índice que entre os indígenas sobe para 50%.
O levantamento, que teve abrangência nacional e entrevistou 2132 pessoas entre os dias 2 a 4 de janeiro de 2023, contou com a participação da gRM Inteligência de Mercado e Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). “Nosso principal objetivo foi mensurar a opinião dos brasileiros sobre os cuidados com a saúde ocular, o que também incluiu avaliar como se dá a busca pelo profissional oftalmologista, o grau de conhecimento das doenças da visão e a prática da automedicação”, afirma Ricardo Augusto Paletta Guedes, presidente da SBO.
Problemas visuais
Segundo o relatório da SBO, 55,8% dos entrevistados afirmaram ter algum problema visual. Os autodeclarados brancos tiveram a maior proporção, 58,9%, e os indígenas, a menor, 36,4%. Os problemas visuais mais comuns apontados foram os erros de refração (miopia, astigmatismo, presbiopia e hipermetropia, nesta ordem). Quase metade dos entrevistados, 43,2%, disseram ter miopia, cuja presença é maior nas faixas etárias mais jovens e nas pessoas com maior escolaridade.
Além da refração, a catarata e o glaucoma foram os problemas visuais mais citados. Das pessoas ouvidas, 9,9% declararam ter a doença, que tem a idade como fator preponderante. Não houve casos declarados entre os entrevistados de 16 e 34 anos de idade; já o índice entre as pessoas entre 35 e 49 anos foi de 1,8%, chegando a 22,5% de quem tem mais de 50 anos. O levantamento apontou a relação entre o tabaco e a catarata. Enquanto ela atinge 18% dos fumantes, os que não fumam e têm catarata somaram 7,7% dos entrevistados. Ao considerar a população acima de 50 anos, 19,4% dos não fumantes relataram catarata, contra 29,2% dos tabagistas atuais ou passados, podendo chegar a 40,9% entre aqueles que fumaram por mais de 10 anos.
Já o glaucoma foi autodeclarado por 4,6% dos entrevistados. Porém, de acordo com o relatório, essa frequência sofre grande influência da idade e da raça dos respondentes. A incidência de glaucoma nas pessoas acima de 50 anos foi de 8,7%, chegando a 15,6% nos que se declararam negros. O tabagismo também apareceu como fator relevante para a doença. Dos que relataram glaucoma, 32,7% eram tabagistas atuais ou passados, índice que ficou em 22,4% entre aqueles que não tinham glaucoma.
Pacientes do SUS e as consultas ao oftalmologista
O relatório da SBO mostrou ainda que a maior parte da população brasileira tem cobertura do SUS (47,9%) para os cuidados com a visão, seguido pela saúde suplementar (33,4%) e gastos do próprio bolso (17,1%). Contudo, a diferença de acesso ao oftalmologista foi significativa quando comparada ao tipo de cobertura. Das pessoas que utilizam o SUS, 14,7% nunca foram ao oftalmologista, contra 4,8% das que têm com plano de saúde. “A pesquisa evidenciou que há maior dificuldade de acesso ao especialista pelo SUS. As consultas periódicas são realizadas apenas por 47,4% dos usuários do SUS, enquanto aqueles que fazem uso do plano de saúde, este dado é de 70%”, comenta Guedes.
Segundo ele, a pesquisa aponta para a necessidade de se reforçar a importância do cuidado preventivo com a visão, por meio de consultas periódicas ao especialista. “Grande parte das causas de deficiência visual poderia ser evitada se diagnosticada e tratada em tempo hábil. Algumas doenças oculares não apresentam sintomas no seu início, o que pode atrasar ainda mais o diagnóstico e tratamento. Assim, é importante que haja uma conscientização da importância do exame oftalmológico periódico, mesmo na ausência de sintomas”, conclui.