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Pesquisadores do Cleveland Clinic Cole Eye Institute identificaram uma possível associação protetora entre o uso de terapias com agonistas de receptor de GLP-1 (GLP-1RA) e a redução do risco de desenvolver uveíte não infecciosa, uma grave condição inflamatória ocular.

O que é a uveíte e seu impacto global

A uveíte é uma inflamação da úvea — camada intermediária do olho — que também pode afetar tecidos vizinhos, como a retina. Os sintomas incluem dor ocular, vermelhidão e visão turva. Quando não tratada, pode levar à perda irreversível da visão.

Estima-se que 4 milhões de novos casos sejam diagnosticados anualmente no mundo. Pessoas com predisposição genética, doenças autoimunes ou histórico familiar de inflamação ocular estão entre os grupos de maior risco. O tratamento geralmente envolve corticoides e, nos casos crônicos, imunossupressores de uso prolongado.

Detalhes do estudo

Os resultados, publicados na revista JAMA Ophthalmology, são fruto de um amplo estudo retrospectivo de coorte utilizando a plataforma TriNetX, que reúne registros eletrônicos de saúde de mais de 120 milhões de pacientes em mais de 60 instituições.

Entre 2006 e 2025, foram avaliados 516.052 pacientes, divididos em dois grupos principais:

  • Grupo GLP-1RA: 258.026 pacientes em uso de agonistas de receptor de GLP-1
  • Grupo controle: 258.026 pacientes que nunca utilizaram GLP-1RA, embora pudessem receber outros tratamentos para diabetes

A análise foi feita em quatro coortes: população geral, pacientes com diabetes, pacientes com diabetes tipo 2 e indivíduos sem diabetes. O objetivo foi medir a incidência de novos casos de uveíte não infecciosa, com acompanhamentos após 1, 3 e 5 anos da primeira prescrição.

Principais achados

Os resultados mostraram que a terapia com GLP-1RA esteve associada a uma redução relativa de 51,7% no risco de uveíte não infecciosa em toda a população estudada. O efeito protetor foi consistente em todos os subgrupos analisados.

Pacientes em uso de GLP-1RA apresentaram cerca de 50% menos risco de desenvolver a condição em comparação aos não usuários.

“Este é o primeiro estudo a identificar um efeito protetor da terapia com GLP-1RA em uma doença autoimune, o que é muito animador e mostra um benefício adicional desses medicamentos além da perda de peso e do controle do diabetes”, afirmou o Dr. Sumit Sharma, especialista em retina e uveíte da Cleveland Clinic e autor sênior do estudo.

Implicações mais amplas

Embora tradicionalmente indicados para diabetes tipo 2 ou obesidade, os GLP-1RAs podem oferecer benefícios anti-inflamatórios, sugerindo potencial para reduzir a incidência de inflamações oculares em populações de risco.

Para pacientes que já são candidatos a essa classe de medicamentos por condições metabólicas, os achados acrescentam valor ao tratamento, ao indicar uma possível proteção contra a uveíte não infecciosa.

Próximos passos

Mais pesquisas são necessárias para compreender os mecanismos que explicam esse efeito. Ainda assim, os resultados reforçam o potencial terapêutico dos agonistas de receptor de GLP-1 no enfrentamento de doenças oculares autoimunes e inflamatórias.

Referência:
Nitesh Mohan et al. Glucagon-Like Peptide-1 Receptor Agonists and Risk of Uveitis. JAMA Ophthalmology (2025). DOI: 10.1001/jamaophthalmol.2025.2822

 

Fonte: Ophthalmology Breaking News

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