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No dia 9 de fevereiro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou a  Resolução nº 475 no Diário Oficial da União, que suspende a comercialização de pomadas para modelar, trançar e fixar os cabelos por causa da irritação nos olhos que tem provocado em muitos usuários. Antes da resolução, a agência já havia publicado dois alertas e interdições sobre estes produtos.Dra Diane Marinho

Com a chegada do Carnaval, torna-se preocupante o fato de que muitas pessoas devem usar esse tipo de produto para modelar os cabelos para esta festa popular.  Segundo Diane Marinho, chefe do Setor de Córnea do Serviço de Oftalmologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA/UFRGS) e professora da Unidade de Oftalmologia, a questão desse produto realmente merece atenção. “Alguns componentes da pomada são tóxicos (como polietilenoglicol, edta e ácido cítrico) e estão causando sérias lesões na superfície ocular”, comenta.

Como os médicos oftalmologistas devem proceder ao receber casos de irritação/dor nos olhos no PS provocados pelo uso da pomada? A professora explica que o mecanismo é semelhante a uma queimadura ácida nos olhos. Quando os usuários tomaram chuva, banho ou entraram na piscina, a pomada entrou em contato direto com olhos, desencadeando uma queimadura química. “Nesse caso, a primeira medida é lavar exaustivamente os olhos com soro fisiológico ou com água limpa. O uso de anestésico tópico permite facilitar essa lavagem na tentativa de retirar ao máximo o produto. Quanto menor o tempo de contato, menores serão os danos na superfície ocular”, ressalta.

Depois do tratamento agudo, Diane diz que tem de ser feita uma avaliação da extensão do dano na córnea, conjuntiva e limbo e utilizar colírios lubrificantes e antibióticos para evitar contaminação secundária, além de colírios anti-inflamatórios esteroides. “Conforme a extensão do dano, que pode variar desde uma ceratite até mesmo úlceras extensas, o acompanhamento deve ser diário até que se tenha certeza de que ocorreu a cicatrização”, aponta.

A médica explica que, na fase aguda, a visão pode ficar bem comprometida e o paciente pode sentir uma dor muito forte, uma vez que a queimadura descama o epitélio e deixa expostas as terminações nervosas da córnea. “Conforme o tratamento surte efeito, a visão vai retornando e a dor e sensação de areia nos olhos melhoram. Caso a queimadura seja mais grave pelo contato com o produto em maior quantidade e por mais tempo, podemos ter sequelas graves por destruição das células do limbo com opacificação, úlceras recorrentes, olho seco e vascularização da córnea, podendo levar a quadros graves de perda visual e, nesses casos, vários procedimentos podem ser necessários para o tratamento dessa deficiência. O tratamento inicial rápido e eficaz pode fazer toda diferença no prognóstico deste problema”, finaliza.

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