Um recente estudo realizado em quatro centros médicos no Brasil, entre 2013 e 2015, revelou um alerta: há um aumento preocupante da sífilis ocular no país e a doença pode causar dano permanente à visão, mesmo com o tratamento adequado. O estudo foi publicado na revista Scientific Reports, do grupo Nature, e no jornal da USP.
Causada pela bactéria Treponema pallidum, a sífilis é transmitida, principalmente, por meio da relação sexual desprotegida com um parceiro infectado. Pode ocorrer também por via transplacentária, no caso da sífilis congênita, ou por transfusão sanguínea, compartilhamento de agulhas (usuário de drogas) ou acidente com material perfurocortante contaminado. “Ela se torna sífilis ocular quando a bactéria Treponema pallidum atinge uma ou mais estruturas do olho e ativa o sistema imunológico, desencadeando uma reação inflamatória de defesa. Cerca de 9% dos pacientes contaminados com a sífilis desenvolvem a forma ocular, que pode ocorrer em qualquer estágio da sífilis e envolver diferentes partes da estrutura dos olhos”, afirma Natanael de Abreu Sousa, neuroftalmologista do Hospital Oftalmológico de Brasília (HOB) e do Hospital de Olhos INOB, empresas do Grupo Opty.
De acordo com o médico, devido à proximidade do olho com o sistema nervoso central, a sífilis ocular é considerada uma manifestação da neurossífilis e pode, portanto, ser acompanhada por sinais e sintomas neurológicos. As formas mais comuns de acometimento ocular são a uveíte posterior (inflamação na retina e na coroide) ou a panuveite (inflamação na íris, corpo ciliar e coroide); mas a neuropatia óptica (inflamação do nervo óptico), a ceratite intersticial (opacidade e inflamação da córnea), a uveíte anterior (inflamação da íris) e a vasculite retiniana (inflamação dos vasos da retina) também podem ser causadas pela doença. “Os sintomas são variados e incluem redução da visão, dor ocular, turvação visual, moscas volantes (percepção de pequenos pontos móveis no campo visual), fotopsia (flashes de luzes espontaneamente provocados no campo visual), aumento da pressão ocular, vermelhidão na conjuntiva e fotofobia, maior sensibilidade à luz”, explica Sousa.
O oftalmologista ressalta ainda que quanto mais grave for a inflamação provocada ou o atraso no diagnóstico e tratamento, maior o potencial de sequela, podendo causar, inclusive, uma perda visual irreversível. Por isso, o recomendado é que os pacientes diagnosticados com sífilis sejam encaminhados a oftalmologistas. “Não é todo o quadro de suspeita de inflamação intraocular (uveíte) que será causado pela sífilis. Entretanto, na presença de sinais e sintomas como olho vermelho, fotofobia, turvação visual ou dor ocular, o médico oftalmologista deve ser consultado. Nos casos com diagnóstico de sífilis genital, cutânea, sistêmica ou cerebral, mesmo na ausência de sintomas visuais, o oftalmologista pode ser consultado a fim de descartar alterações oculares subclínicas”, orienta o médico.
Tratamento
O tratamento da sífilis ocular é feito em regime de internação hospitalar, através da administração de penicilina cristalina intravenosa por 10 a 14 dias. Pacientes alérgicos à penicilina apresentam como opção o uso de ceftriaxone intramuscular ou intravenoso, também por um intervalo de 10 a 14 dias. Para o controle da inflamação intraocular, é necessário o uso de corticóide colírio ou oral e colírio midriático, responsável por causar a dilatação pupilar e melhorar a dor. “Dependendo da evolução do quadro, alguns pacientes podem precisar de tratamentos adicionais para a reabilitação visual, como a cirurgia de catarata (nos casos que evoluem com opacidade do cristalino), o tratamento para controle da pressão intraocular (clínico ou cirúrgico), laser, transplante de córnea ou uso de lente de contato rígida nos casos com opacidade corneana, entre outros”, orienta.
Prevenção
A sífilis é uma doença grave e reemergente. Não escolhe gênero, idade ou classe social e voltou a ser uma epidemia no Brasil. Segundo dados do Ministério da Saúde, entre 2016 e 2017, o aumento dos casos de sífilis adquirida, em todo o território nacional, foi de 31,8% (de 44,1 para 58,1 casos por 100 mil habitantes). Em 2017, a maior parte dos casos foi entre indivíduos entre 20 a 29 anos de idade. “É importante reforçar que o fato de existir tratamento eficaz não abona o indivíduo da responsabilidade com a prevenção. Portanto, é de extrema importância que a sociedade se conscientize, seguindo as mesmas orientações para a prevenção de outras doenças sexualmente transmissíveis. Ou seja, não se deve compartilhar materiais de higiene pessoal ou agulhas, ter cuidado na manipulação de objetos perfurocortantes e, principalmente, usar corretamente o preservativo para a prática sexual. Lembrando que, em caso de suspeita clínica de sífilis, é fundamental que a pessoas se submeta aos testes, diagnósticos e siga rigorosamente o tratamento proposto a fim de garantir a remissão completa da doença e evitar sequelas irreversíveis”, conclui o médico.
Fonte: Grupo Opty