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Entre os dias 4 e 7 de setembro, a capital carioca foi palco do 63º Congresso Brasileiro de Oftalmologia, o maior encontro da especialidade em número de participantes e palestrantes promovido pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO). Cerca de cinco mil médicos oftalmologistas circularam pelo Windsor Barra nos quatro dias de congresso, entre eles mais de 700 palestrantes, sendo 16 convidados internacionais. Foram mais de 500 horas de aula divididas em várias modalidades de apresentação. 
Na cerimônia de abertura do CBO 2019, oftalmologistas ressaltaram a importância da união da classe médica para defender o acesso da população brasileira à saúde ocular. José Augusto Ottaiano, presidente do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, falou que o CBO tem duas premissas. A primeira delas os oftalmologistas. “E por isso realizamos agora a transmissão do conhecimento por meio deste magnífico evento”, disse. Mas, segundo ele, a principal premissa é a preocupação com a saúde ocular da população brasileira. “Entre algumas realizações do CBO nos últimos dois anos estão dois fóruns que tratam da pessoa com deficiência visual, e duas convenções em que discutimos particularidades da especialidade”, explicou. 
Ottaiano ainda destacou a importância das pessoas para construir projetos significativos. “Não se consegue construir nem conquistar nada sozinho. Tive o privilégio de trabalhar com gente de primeira e conviver com pessoas especiais que ajudaram não só no evento, como nos dois anos de gestão”, ressaltou. “Particularmente gostaria de enfatizar a importância do deputado Hiran Gonçalves pelo engajamento em relação a toda a classe médica”, destacou. O presidente do CBO ainda falou sobre a relevância da Associação Médica Brasileira em defesa da classe médica e da saúde populacional.
Ainda na cerimônia, Haroldo Vieira de Moraes Junior destacou que todas as associações são bem-vindas na defesa de classe dos interesses da medicina e da oftalmologia. “Mais que associações que exercem seu papel democrático, valorizando os anseios da classe, nós, individualmente, podemos fazer muito em favor de nossa especialidade e de nossos pacientes”, disse. “É muito bom termos os melhores equipamentos para atender em consultórios. Mas 150 milhões de brasileiros dependem do Serviço Único de Saúde (SUS). Um ato voluntário de poucas horas de nossos dias podem contribuir para uma população mais saudável e melhor atendida”, apontou. 
Já o oftalmologista Marco Antonio Rey de Faria enalteceu a Comissão Científica do CBO. “A comissão nos brinda com uma programação que esmiúça cada tema atual e inovador, além de trazer à luz temas polêmicos que envolvem a classe médica”, ressaltou. “Durante o congresso também será discutido o engajamento da oftalmologia na atenção básica do SUS. Sendo esse o compromisso que assumimos junto às autoridades aqui presentes”, concluiu Rey de Faria. 
O Deputado Hiran Manuel Gonçalves da Silva, homenageado durante o evento,  agradeceu a celebração e a dividiu com o CBO “que tem defendido com  muita galhardia e dedicação a nossa atividade médica”. Segundo ele, a Frente Parlamentar da Medicina tem lutado por questões como a dos pacotes que confundem atos médicos com exames complementares e ao modelo que se quer implantar de telemedicina. “Reconhecemos a telemedicina, mas temos de combater com muito argumento a questão de se fazer teleconsulta sem médicos nas pontas”, afirmou. “Esse tipo de trabalho da Frente Parlamentar da Medicina que presido no Congresso Nacional tem ligação forte com a AMP, com sociedades de especialidades, e sindicatos por meio do Instituto Brasileiro da Medicina”, ressaltou.  
Para finalizar, o presidente da Associação Médica Brasileira, Lincoln Ferreira, falou sobre a importância do congresso. “Aqui temos ciência e boa prática empenhadas em fazer com que saiamos daqui melhor do que quando entramos”, exaltou. “Minha expectativa é que a hora mais escura seja suplantada e tenhamos um horizonte mais rosa, com escolas com conteúdo humanista e ético, discussões de alto nível e não sucateamento da assistência médica com consequências nefastas para a saúde do povo brasileiro. Tem de ter compromisso e equilíbrio entre o resultado financeiro e o serviço prestado”, finalizou.
O futuro da medicina
Um dos pontos altos do CBO 2019 aconteceu no primeiro dia do evento. Com a sala praticamente lotada, a mesa redonda “O Futuro da Medicina reuniu, sob a moderação do coordenador da Comissão Científica do CBO, Wallace Chamon, o oftalmologista Dimitri Azar, CEO da Verily, (Google Life Sciences), o investidor Anderson Thees e o oncologista integrante da divisão global da Watson Health na IBM, Daniel Shammas Morel. 
“Nosso principal objetivo é favorecer a polêmica e a reflexão sobre as transformações que a tecnologia trará em futuro próximo para médicos e pacientes a partir da apresentação de visões distintas”, declarou Wallace Chamon. O coordenador da Comissão Científica do CBO enalteceu a grande experiência profissional e científica de cada um dos participantes, bem como a diversidade cultural e social que os caracteriza o que, segundo ele, garantiu um debate rico e instigante.
Dimitri Azar, coordenador de toda a Oftalmologia da Google International e grande parte de sua área médica através da empresa coligada Verily, tratou em sua apresentação das pesquisas em andamento na Google sobre dispositivos que têm potencial de mudar completamente a oftalmologia e a assistência oftalmológica na forma como conhecemos atualmente. Dimitri ainda destacou que apesar de toda a tecnologia disponível, o humanismo é a base do trabalho do médico. “Medicina é arte baseada em ciência. E em relação à tecnologia e atendimento humano não é uma coisa ou outra, mas sim uma coisa e outra”, disse ao apontar a importância de se aliar o mundo tecnológico ao pessoal. 
O segundo convidado, Anderson Thees, é um investidor em ideias e empresas de vanguarda que estão iniciando suas atividades. É um dos responsáveis pelo Cubo Coworking para incentivar o empreendedorismo digital e inovações tecnológicas. É sócio de cerca de 500 start-ups e tem interesse especial em empresas de tecnologia em medicina. “A tecnologia vai tirar o emprego de todo mundo aqui”, provocou Thees. “O fato é que toda a cadeia da medicina está sendo revolucionada pela tecnologia. Tudo está mudando, inclusive a maneira como o médico interage com o hospital e com os pacientes. O WhatsApp, por exemplo, já transformou a interação com os pacientes”, ressaltou. “Em 10 anos, vocês farão medicina totalmente diferente do que fazem hoje. Disso não há dúvidas”, concluiu.  
Daniel S. Morel, que integra a divisão global da Watson Health na IBM na função de Clinical Adoption Specialist e é especialista em inteligência cognitiva aplicada à oncologia, falou sobre como a tecnologia tem contribuído para a atuação dos médicos. Morel deu exemplos de tecnologias como o Watson for Genomics, programa que faz a análise do DNA do tumor, busca na literatura e traz de forma clara e objetiva a avaliação molecular, as vias de sinalização intracelular e as drogas que podem ser usadas n o tratamento. Outro caso é o Clinical Trial que procura o dado no prontuário do paciente e pelo site do programa busca quais os estudos em que o paciente pode se incluir. “Além disso, temos o Micro Medics, que funciona como se fosse um super bulário eletrônico e hoje tem suporte do Watson. Vamos supor que queiram pesquisar sobre determinada droga, seus efeitos e doses. Isso pode ser feito em forma de chat. Tudo isso faz sentido trabalhando junto com os profissionais de saúde, com os planos de saúde, com os hospitais, com os registradores para acelerar aprovação de novas terapias, com as indústrias farmacêuticas etc”, explicou.
Morel comentou ainda em sua apresentação sobre algumas publicações que validam a importância da tecnologia na medicina. Um trabalho publicado na American Academy of Dermatology, por exemplo, comparou o algoritmo de inteligência cognitiva com a avaliação de dermatologistas treinados para o diagnóstico de melanoma. Os dermatologistas identificaram que a pinta preta era um melanoma em 71% dos casos, enquanto que o algoritmo de inteligência cognitiva apontava que isso ocorria em 86% dos casos. Na psiquiatria, há determinação de quadros de depressão maior pela análise da voz. Foi publicado no Journal of Affective Disorders que em 81,9% das vezes a avaliação do timbre de voz do paciente era capaz de revelar se ele era portador de um quadro depressivo maior. Outro exemplo citado pelo palestrante vem da endocrinologia. “Já está sendo comercializado nos Estados Unidos, e ainda em aprovação pela Anivsa no Brasil, o Sugar IQ. Um transmutor transdérmico que fica na pele do paciente e se comunica em tempo real com aplicativo em celular. Além da glicemia do paciente em tempo real, o equipamento analisa a alimentação que o paciente teve e é capaz de predizer com até 2 horas de antecedência quando o terá crise de hipoglicemia com acurácia de 90%”, explicou. “A questão aqui não é substituir o médico, mas melhorar a capacidade diagnóstica em relação ao paciente dele. O que queremos com tudo isso é melhorar o trabalho do médico para que amanhã ele se dedique mais ao paciente, saindo da medicina fast-food, que atende um paciente atrás do outro e mal escuta ou conversa com eles. Queremos que esta nova medicina seja baseada na transparência e confiança mostrando que o médico tem sim o conhecimento técnico, está empoderado pela máquina, e transformar isso algo simbiótico. Nosso futuro é parceria entre a tecnologia e o médico”, concluiu.
As dificuldades de diagnóstico em Glaucoma
O dia 4 de setembro foi dedicado ao Dia Especial, que contou com apresentações e debates focados nos avanços ocorridos em grandes áreas da oftalmologia. Uma dessas apresentações, o Dia Especial de Glaucoma, contou com quatro módulos e foi coordenada por Paulo Augusto de Arruda Mello e Wilma Lelis Barbozas. Um dos módulos abordou “Conduta Atual em Casos de Glaucoma de Pressão Normal”.
Roberto Galvão, oftalmologista de Pernambuco, falou sobre Glaucoma de Pressão Normal (GPN). “Os principais desafios relacionados ao diagnóstico diferencial são a tonometria e a gonioscopia”, ressaltou Galvão. Ele concluiu afirmando que o Glaucoma de Pressão Normal é diagnóstico de exclusão. “A causa vascular hoje é a melhor documentação”, concluiu.
No mesmo módulo, Heloísa Russ, professora associada de pós-graduação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), apontou que o principal diagnóstico diferencial de GPN é o glaucoma primário de ângulo aberto (GPAA). “Isso ocorre com grande variação diurna da PIO e-ou espessura corneal central diminuída”, ressaltou.
A professora ainda listou outros diagnósticos diferenciais: burn-out glaucoma, neurite óptica isquêmica, neuropatia óptica, lesão compressiva do nervo óptico, perda sanguínea importante, hipertensão sistêmica noturna, doença meníngea, sinais de má perfusão do sistema nervoso central, e esclerose múltipla. 
O oftalmologista Fabio Kanadani, de Minas Gerais, comentou que boa parte dos profissionais baseiam-se na PIO abaixo de 21 para diagnosticar glaucoma. Mas isso não é o suficiente. “De  30 a 40% de pacientes com glaucoma apresentam PIO abaixo de 21. Entre os sul-coreanos, este número sobe para 94%. “A avaliação do campo visual central pode ser o pulo do gato para o diagnóstico precoce”, revelou. 
Kanadani deu ainda várias dicas para que se determine se o paciente tem ou não glaucoma. Uma delas é examiná-lo além dos olhos. “Ao pegar na mão de uma pessoa, por exemplo, se as pontas dos dedos estiverem muito frias pode indicar baixa pressão periférica”, comentou. Outras dicas são estar atento aos grupos mais suscetíveis, investigar apneia obstrutiva, e o descenso noturno no Mapa de 24 horas. “É sempre importante investigar além do que o paciente informa”, finalizou.   
Lasers em Oftalmologia
Na manhã do dia 5 de setembro aconteceu a sessão de apresentação do tema oficial do 63º Congresso Brasileiro de Oftalmologia, “Lasers em Oftalmologia”. Esse também é o nome da obra que tem como relatores Armando Stéfano Crema, Elisabeto Ribeiro Gonçalves e Francisco Eduardo Lopes de Lima e como coordenadores Adriana dos Santos Forseto, Marcony Santhiago e Roberto Limongi. 
O livro é dividido em seis partes: Introdução (propriedades físicas dos lasers utilizados em oftalmologia); Córnea e Conjuntiva; Cirurgia Refrativa; Glaucoma; e Retina e Vítreo. A obra tem 105 capítulos e sua elaboração contou com a participação de 187 especialistas de todo o Brasil. 
A apresentação do tema oficial do congresso contou com a presença dos relatores, coordenadores, de alguns colaboradores e também do representante da Cultura Médica, que editou o livro. José Augusto Alves Ottaiano, presidente do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), falou da relevância da técnica para a especialidade. “O laser evoluiu de forma grandiosa e tem uma aplicabilidade maravilhosa na oftalmologia, proporcionando uma série de benefícios aos pacientes”, revelou. 
Roberto Limongi, da Universidade Federal de Goiás, falou sobre a Plástica Ocular e Vias Lacrimais. O médico ressaltou que em pálpebra se usa muito o laser de CO2. “Ele vem com duas ponteiras sendo que a de maior uso é a de corte que permite, por exemplo, fazer a cirurgia de pálpebra com menos hematoma, além do paciente se recuperar mais rapidamente”, comentou. Limongi disse que na pálpebra costuma usar a ponteira tanto para dissecar os tecidos no corte como para cauterizar. 
Marcony Santhiago, da Universidade de São Paulo (USP) abordou o laser na Cirurgia Refrativa.  “A relação entre laser e cirurgia refrativa é tão intensa que foram 33 capítulos sobre o assunto no livro, com a participação de 45 autores. Hoje o laser é aplicado tanto para tornar a cirurgia mais segura como para a correção da ametropia”, disse. Santhiago disse que entre os pontos abordados na publicação estão a evolução da Cirurgia Refrativa, modelos de excimer laser, femtosegundo, cirurgias refrativas, e ametropias específicas. 
Quem também coordenou o livro foi a oftalmologista Adriana Forseto, que explicou sobre Córnea e Conjuntiva e disse que o capítulo é bastante completo para quem quiser se aprofundar no tema. “A publicação traz temas como microscopia confocal da córnea e suas aplicações clínicas, como o auxílio em diagnóstico de olho seco e doenças contagiosas”, comentou. Além disso, a obra trata de temas como OCT para avaliação de córnea e conjuntiva, aplicações de laser em conjuntiva como pinguécula, pterígio e conjuntivocálase, tratamento das neoplasias conjuntivas e histórico, aplicações e principais características de transplantes de córnea e lasers de femtosegundo.
Já o oftalmologista Fransciso Lima, um dos relatores da obra, comentou sobre os impactos do uso do laser na iridectomia e na trabeculoplastia. “Não há como separar glaucoma e laser. A iridectomia se tornou muito mais confiável e segura com o advento do laser”, afirmou. “Estima-se que em 2020 haverá 21 milhões de pessoas com glaucoma de ângulo fechado. Em vários países, os governos estão fazendo conta de quanto custaria o tratamento com colírio e passaram a indicar trabeculoplastia seletiva a laser. Assim, se protela o uso do colírio e evita o impacto negativo na vida dos pacientes”, concluiu o médico. 
Também relator da publicação, Armando Stéfano Crema apresentou um panorama geral do livro e disse que ao pesquisar a existência de publicações que tratam do tema, não encontrou na literatura nenhuma que agregue todas as áreas da oftalmologia. “É o primeiro livro de laser que contempla aplicações em todas as subespecialidades”, destacou o oftalmologista. 
O oftalmologista Elisabeto Ribeiro Gonçalves disse que uma das questões que surgiu ao escrever o capítulo sobre Retina do livro é se o anti-VEGF vai desbancar o laser. “Acredito que não, ele veio para complementar o laser, um ajudando o outro a resolver questões retinianas. Não é um contra outro, mas sim anti-VEGF e laser”, explicou. E lembrou que quando o laser foi introduzido na medicina foi um grande frisson. “Houve quase que uma panaceia, depois foi sendo decantado e hoje é uma arma fundamental e indispensável ao exercício profissional”, ressaltou.  
Foi justamente para relatar a história e a atualidade desse desenvolvimento que “Lasers em Oftalmologia” foi escolhido como tema oficial do 63º Congresso Brasileiro de Oftalmologia. 
CBO: sob nova direção
Durante o 63º Congresso Brasileiro de Oftalmologia, aconteceu a eleição da diretoria do CBO para a gestão no período de 2020/2021. Nas urnas foram computados 657 votos à chapa única, 18 votos brancos e 6 nulos, totalizando 681 votos. “Daremos continuidade aos programas em andamento, como o aprimoramento do Ensino da Especialidade via online, a consolidação do curso de pós-graduação strictu sensu e o acompanhamento de nossos 101 cursos de especialização, além do constante aprimoramento da Prova Nacional de Oftalmologia”, ressaltou José Beniz Neto, atual vice-presidente do CBO que liderou a chapa única para a eleição da diretoria da entidade para a próxima gestão. 
Beniz Neto declarou também que, nos próximos dois anos, o CBO continuará com sua política de valorização da oftalmologia brasileira. “Utilizaremos os recursos jurídicos para coibir a atuação ilegal de profissionais sem formação médica ligados ao comércio óptico e para combater práticas predatórias de algumas operadoras de planos de saúde, como o “empacotamento de consultas e exames oftalmológicos”, completou. O médico é professor associado de Oftalmologia e chefe do Serviço de Catarata da Universidade Federal de Goiás (UFG), bem como chefe dos Serviços de Córneas e Uveítes do Centro Brasileiro de Cirurgia de Olhos (CBCO), de Goiânia (GO).
Cristiano Caixeta Umbelino, responsável pelo Setor de Glaucoma do Departamento de Oftalmologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, será o vice-presidente da nova gestão, e Newton Kara José Júnior, professor livre-docente e colaborador e de pós-graduação da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), assume como secretário geral. 
Ainda no dia 5 de setembro foram eleitos como membros efetivos do Conselho Fiscal Professor Heitor Marback os oftalmologistas Abrahão da Rocha Lucena (CE), Ana Luísa Höfling-Lima (SP) e Beogival Wagner Lucas Santos (MS) que terão como suplentes Antônio Marcelo Barbante Casella (PR), Bernardo Menelau Cavalcanti (PE) e Gustavo Victor de Paula Baptista (SP). 
No mesmo dia, também ocorreram as eleições para escolher os representantes da comunidade oftalmológica no Conselho de Diretrizes e Gestão (CDG), órgão encarregado do planejamento e proposições de metas e estratégias do CBO. O CDG é formado por membros vitalícios (ex-presidentes da entidade) e quatro representantes da comunidade oftalmológica. Nessa eleição foram computados os seguintes votos: 
Alexandre Cabral de Mello Ventura, 76 votos; Ana Rosa Pimentel de Fiqueiredo, 62; Daniel Alves Montenegro, 65; Frederico de Souza Pena, 137; Isabel Habeyche Cardoso, 76; Luciene Barbosa de Sousa, 143; Wilma Lelis Barboza, 120. De acordo, foram eleitos para os cargos do conselho Luciene Barbosa de Sousa, Frederico de Souza Pena e Wilma Lelis Barboza. Ficaram empatados em quarto lugar Alexandre Cabral de Mello Ventura e Isabel Habeyche Cardoso. Segundo o CBO, tendo em vista que houve empate no preenchimento da última vaga, e não havendo previsão estatutária ou regimental sobre a questão, ficou decidido que ambos farão parte do conselho.
Conferência CBO
Na manhã do dia 5 de setembro aconteceu umas das mais importantes programações do evento, a Conferência CBO. Proferida a cada dois anos pelo ex-presidente do CBO que terminou sua gestão no ano anterior, em 2019 foi a vez de Homero Gusmão de Almeida apresentar o tema “Trabeculectomia: a saga”.
De acordo com Gusmão de Almeida, a trabeculectomia, criada há cerca de 50 anos, continua sendo a principal técnica quando há indicação cirúrgica para o controle da doença. A cirurgia passou por modificações, que foram abordadas durante a conferência, mas manteve sua essência. “Em cinco décadas, a técnica evoluiu e passou por várias modificações. E, ainda hoje, a trabeculectomia é o padrão ouro no tratamento cirúrgico do glaucoma”, disse o médico.
Durante sua apresentação, o médico disse que vale lembrar daquilo que parece óbvio.  Para cada novo método há um entusiasmo inicial, seguido por uma prolongada discussão sobre a sua eficácia, e eventualmente toma o lugar para o qual foi criado, ou seja, são colocadas em prática. “Toda a técnica é nobre e em algum momento ocupará um lugar positivo entre as inovações que estão por acontecer”, ressaltou. “Meu desejo é que as Cirurgias Minimamente Invasivas para Glaucoma (Migs) substituam todos os estágios do glaucoma”, concluiu o professor Gusmão de Almeida.
Em pauta, liderança e inovação
Uma das atividades que reuniu um público relevante foi a palestra “Liderança, Inovação, Network e Startup”, que ocorreu no dia 6 de setembro. A atividade foi coordenada por Cristiano Caixeta Umbelino, (SP), Marcos Pereira de Ávila (GO), Alexandre Marques Rosa (PA) e Fernanda Belga Ottoni Porto (MG). 
Em sua explanação, Marques Rosa, da Universidade Federal do Pará, ressaltou a importância de definir alguns pontos que farão a diferença nos negócios. O primeiro deles é definir qual é o propósito que a pessoa, ou a empresa, tem, ou seja, o que a motiva a sair de casa pela manhã. “Se o seu foco não fosse ganhar dinheiro, você continuaria fazendo o que faz hoje? Essa seria uma importante pergunta a se fazer, afinal hoje as pessoas querem se conectar com empresas e pessoas que vendem propósito e não apenas produtos e serviços”, constatou. “Quem consome seu produto tem de sair melhor do que quando entrou nesta relação. O check-out tem de ser melhor que o check-in”.
Outro fator importante levantado pelo professor é a necessidade de olhar a próxima curva, o que ainda está por vir, como, por exemplo, alteração genômica e telemedicina. Ele deu o exemplo da Embraer, uma das poucas brasileiras que tem escritório no Vale do Silício e se posiciona como a empresa que transporta pessoas de um lugar para o outro. “Baseada nisso, investe em todas as tecnologias que se referem a transporte”, explicou. O terceiro foco de atenção é questionar sempre. “Quando só se encontra a mesmice, não se recria. Conecte-se com pessoas diferentes”. Segundo ele, é preciso questionar também o modelo educacional tradicional. “É preciso treinar a mente para pensar, essa é a função como mentor dos alunos. Tem de inspirá-los cada vez mais , completou.
Ele ainda destacou ser necessário focar na experiência que as pessoas têm, seja por meio de produtos ou serviços. “Dessa forma, o cliente torna-se embaixador da sua marca”, apontou. O quinto ponto que o professor destacou é a aposta na diversidade. “Convivam com pessoas diferentes, mas que estejam olhando para o mesmo ponto”, aconselhou. Exemplos disso são o Vale do Silício, que reúne 51% de trabalhadores que não são americanos, e as empresas de coworking que agregam em um mesmo espaço companhias de diferentes segmentos, como arquitetura, direito e gestão. “Só se consegue trazer coisas novas para o cotidiano se me libero das antigas, e isso se refere também às pessoas. Elas são peso ou combustível. Se querem ser águias, convivam com as águias”, finalizou. 
Na sequência, Maurício Prudente, cardiologista intervencionista e CEO do Grupo Encore, de Goiânia, falou sobre a Gestão do Amanhã. “Estamos vivendo a revolução digital, passando do raciocínio analógico para o digital”, ressaltou. Para fazer a gestão no futuro, o cardiologista comentou que é necessário planejar, corrigir o rumo dos negócios, tomar decisões e acompanhar regularmente sua execução. “É preciso desaprender para aprender de novo, inovar, assumir riscos”, apontou. “Não adianta pegar mapa velho para descobrir terras novas. Fazer sempre do mesmo jeito não irá gerar resultados diferentes”, destacou Prudente. Usando o conceito de design thinking, falou ainda que a tecnologia não vai fazer nada pela saúde, é a saúde que vai fazer por ela. “A tecnologia é ferramenta e saúde é o propósito”, disse. 
Prudente também enumerou os desafios que os médicos têm como empreendedores: fluxos de caixa, feudos internos, estrutura de custos, transformação digital, rotatividade e ineficiência de processos. “A previsão é que até 2030 os negócios de saúde movimentem US$ 10 trilhões. Até 2050 a população do planeta atingirá a marca de 10 bilhões de pessoas. Sem contar que a população está envelhecendo. Para aqueles que se apavoram com o surgimento de novos cursos de medicina, não haverá profissionais para cuidar de tanta gente”, apontou o cardiologista.
O palestrante terminou dizendo que os computadores podem ser inteligentes, mas não têm consciência. “Temos de nos concentrar no nosso comportamento. Teremos de ser mais humanos, mesmo que menos inteligentes. O computador nunca será mais consciente que a raça humana. Faremos a diferença sempre em problemas complexos. O profissional do futuro resolverá problemas complexos, terá flexibilidade cognitiva e inteligência emocional”, concluiu.
O olhar feminino
Na tarde de 6 de setembro, durante o 63º Congresso Brasileiro de Oftalmologia, a Comissão CBO Mulher, coordenada pelas oftalmologistas Denise de Freitas, Keila Monteiro de Carvalho e Maria Cristina Nishiwaki Dantas e que na programação no CBO 2019 contou com a colaboração da professora Andréa Araújo Zin, se reuniu e promoveu algumas palestras. 
Uma delas tratou dos Desafios da Mulher na Ciência e Tecnologia, proferida pela reitora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Denise Pires de Carvalho. Denise comentou que o que acontece na sociedade é o efeito tesoura em que homens e mulheres têm a mesma capacidade técnica, de liderança e formação parecidas e mesmo assim os homens acabam se sobressaindo. “A discussão não é se a mulher é ou não capacitada, mas como, avançar para atingir a igualdade de gênero”, enfatizou. A reitora disse ainda que em 2018, em Ciências Biológicas, as mulheres ocuparam 25% das cadeiras. Entre as engenheiras esse índice é bem menor. “Somente 2,5% de mulheres engenheiras estão na Academia Brasileira de Ciências (ABC). Hoje o MIT só tem 30% de mulheres porque foi implementada uma política que determina isso”, finalizou.
Ana Teixeira, diretora de consumer e market insights da L Oréal, apresentou o programa For Women in Science e comentou que a empresa inaugurou, há dois anos, um centro de pesquisa e inovação no Brasil. “O país é um enorme mercado de beleza e tem diversos tipos de pele e cabelo. Tendo esse centro de pesquisa aqui nos beneficiamos de toda a riqueza brasileira de biodiversidade”, disse. Em parceria com a ABC e a Unesco, a companhia lançou no país o programa que tem a tripla missão de transformar o panorama atual da ciência buscando mais equilíbrio, inspirar a nova geração e focar na causa do público feminino. O programa existe há 20 anos em vários países, premiou mais de três mil mulheres e no Brasil tem como objetivo oferecer bolsas de pós-doutorado. “No Brasil. o For Women in Science começou em 2006 e todo ano são selecionados sete projetos, que recebem bolsas de R$ 50 mil. “O mundo precisa da ciência e a ciência precisa das mulheres”, concluiu Ana
A professora Eliete Bouskela, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), ministrou a palestra Como vai o nosso telhado de vidro. A pesquisadora ressaltou que o Brasil não está sozinho no quesito desigualdade de gênero. “Morei na Suécia e no departamento em que trabalhei, de 100 pessoas, eu era a única que não era nem estudante, nem técnica, nem da equipe de limpeza. Então o Brasil não está sozinho”, disse. 
Ela ressaltou alguns fatores que mostram as diferenças entre os mundos masculino e feminino. “Uma mulher casada pôde abrir conta em banco e escolher uma profissão sem autorização do marido apenas em 1962. A falta de virgindade deixou de ser motivo de anulação de casamento em 2002. Somente em 2015 a mãe conseguiu o direito, que antes era do pai, de registrar o filho em cartório”, exemplificou. 
E ainda há muito a ser feito. De acordo com o Fórum Econômico Mundial serão necessários dois séculos para acabar com a desigualdade de gênero no mercado de trabalho. “As mulheres ganham, em média, 30% menos que os homens na mesma posição. Além disso, 58% das empresas da Bovespa não têm nenhuma mulher no conselho de administração. Na ciência, ainda temos pequena representação em posições de destaque e liderança”, disse Eliete.
Em clima de Copa
Além de palestras e mesas redondas, o 63º Congresso Brasileiro de Oftalmologia também teve  ar de competitividades. Durante o congresso aconteceu a quarta edição da Copa InterOftalmo do Conhecimento. A ação reuniu 33 equipes dos cursos de especialização em oftalmologia credenciados pelo CBO em uma atividade que combina o dinamismo das gincanas e de programas de auditório com a agilidade mental e o conhecimento necessário para participar da prova.
A atividade baseou-se na competição entre três representantes de cada curso e teve duas fases. A primeira delas teve a participação de todas as 33 equipes, cujos representantes responderam a questões sobre oftalmologia. Um aplicativo (app) analisou as respostas em tempo real e permitiu a participação, controlada, da plateia. Na segunda fase, as seis equipes que obtiveram maior pontuação na primeira etapa foram submetidas a uma competição semelhante às dos programas de auditório, com perguntas sobre vários assuntos, contendo pontuações diferenciadas e também algumas surpresas. A Copa InterOftalmo do Conhecimento foi coordenada por Dácio Carvalho Costa, Pedro Carlos Carricondo, Rafael Freire Kobayashi, Sérgio Henrique Teixeira e Wallace Chamon.

Fonte: Universo Visual

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