O cantor filipino-americano Allan Pineda Lindo Jr., conhecido por “Apl.de.ap” e integrante da banda Black Eyed Peas, nasceu com uma condição chamada de nistagmo, que é caracterizada por um movimento involuntário dos olhos.
“Essa movimentação, conhecida popularmente como “olhos dançantes”, pode ser horizontal, vertical ou giratória, em um ou nos dois olhos. Pode acontecer o tempo inteiro ou quando de alguma forma ela é incentivada, por exemplo, se a pessoa tentar fixar o olho em um ponto específico ou abrir e fechar as pálpebras repetidamente”, diz Danyelle Csettkey, oftalmologista, especialista em córnea e doenças externas e refrativas do HRO (Hospital de Referência Oftalmológica), no Maranhão.
Quando a condição aparece antes dos seis meses de idade, ela é considerada congênita, como é o caso do cantor. “Pode ser por alteração na musculatura dos olhos, sem ter nenhuma anormalidade dos olhos em si, ou por causa de uma anormalidade no fundo do olho. Ou seja, ela pode ser tanto a causa quanto a consequência de uma baixa visual”, explica Luisa Hopker, presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica.
Para Apl, o nistagmo era forte a ponto de fazer com que o músico fosse considerado legalmente cego. Em 2012, ele disse, em entrevista à ABC News, que não conseguia ver detalhes faciais. “Eu vou pelo som da voz ou consigo ver vultos, de forma que posso sentir quando alguém está perto.”
Além do quadro, ele também tinha um alto grau de miopia, que impede que a pessoa enxergue à distância – a depender da seriedade da condição, até a mão do próprio braço estendida em frente ao rosto pode se tornar desfocada.
“O nistagmo atrapalha um paciente míope no uso de lentes de contato, por conta da movimentação involuntária dos olhos, e também pode tornar incômodo o uso de óculos de grau”, aponta Hopker.
A operação
Por isso, Apl passou por cirurgia facorrefrativa, que usa técnica similar ao procedimento de retirada de catarata, para corrigir a miopia. “O médico retira o cristalino, parte do globo ocular, e substitui por uma lente artificial.” A principal diferença, de acordo com Hopker, é que é necessário aplicar uma anestesia mais complexa do que a tópica (anestesia local), porque o olho pode se mexer involuntariamente durante a cirurgia.
À ABC News, o músico contou que a cirurgia melhorou sua qualidade de vida e que ele pôde enxergar melhor sua mãe – o que, segundo ele, foi o momento mais feliz da sua vida.
A oftalmologista Danyelle Csettkey aponta, ainda, que a única cirurgia possível para o nistagmo não oferece uma cura para o problema. “Algumas pessoas conseguem estagnar a movimentação dos olhos com alguma determinada posição de cabeça, e quando a cirurgia é indicada, em raros casos, é com o objetivo de fazer com que essa posição mais confortável seja com a cabeça reta.”
Também existem outras terapias, todas focadas em melhorar a qualidade de vida do paciente. “Uma vez identificada a causa, o tratamento é direcionado ao problema de base. Às vezes o motivo é uma baixa de visão por uma lesão específica naquele olho, como por exemplo uma catarata. Há alguns tratamentos não cirúrgicos com exercícios dos músculos extraoculares, mas não há uma regra que indique a todos os casos”, diz Tiago Cesar, professor de cirurgia oftalmológica na Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais.
Outra opção, de acordo com o médico, é o botox. “Não é a primeira linha de tratamento, mas quando temos um movimento involuntário, isso é causado por um músculo. A toxina botulínica já foi muito estudada e é considerada uma terapia comprovadamente eficaz para fazer a paralisação da musculatura.”
Fonte: BBC