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Marcos Ávila 
Professor Titular de Oftalmologia da Universidade Federal de Goiás (UFG) e Diretor do CEROF – Hospital de Olhos da UFG.
Após inúmeros desafios e muita perseverança, uma equipe de médicos oftalmologistas de Goiânia (GO) conseguiu finalmente realizar um sonho antigo de oferecer um serviço de oftalmologia de qualidade, ligado à Universidade Federal de Goiás (UFG), que atende exclusivamente pacientes pelo Sistema Único de Saúde (SUS). 
O CEROF – Centro de Referência em Oftalmologia da UFG, passou por diversas dificuldades antes de ter seu edifício completamente reestruturado e ampliado para atender a grande demanda de pacientes com diversas patologias oftalmológicas, como catarata, retinopatia diabética, glaucoma, descolamento de retina etc. 
Quem conta essa história, na entrevista abaixo, é o professor titular de Oftalmologia da Universidade Federal de Goiás (UFG), Marcos Ávila, um dos idealizadores e diretor do CEROF – Hospital de Olhos da UFG.
 
Revista Universo Visual – Conte um pouco da história de como nasceu a ideia de criar o CEROF? 
Marcos Ávila – O CEROF nasceu de um sonho de muitas pessoas, o qual veio sendo perseguido nos últimos 24 anos, até a sua concretização final em abril deste ano. Em 1997, após aprovação em concurso público, iniciei a minha carreira como professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás (UFG). Tínhamos, na ocasião, dois consultórios pequenos dentro do ambulatório central. Éramos cinco professores da Disciplina de Oftalmologia, cujo serviço oftalmológico era a própria disciplina, e atendíamos cerca de 200 pacientes por mês, para alguns pareceres internos do hospital e para as aulas práticas dos alunos da Faculdade de Medicina, e não realizávamos nenhuma cirurgia.
Em conversas com o secretário municipal de saúde, ele nos transmitiu a sua preocupação com a grande demanda em oftalmologia de pacientes do SUS em Goiânia – e no Estado de Goiás. Fizemos um projeto assistencial, que seria uma parceria entre a UFG e a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), através do qual foram contratados oito médicos oftalmologistas com título de especialista pelo CBO para atendimento em escala assistencial, e logo no início atendíamos mil pacientes por mês, e foi aí que tudo começou. Já nas primeiras semanas do atendimento, detectamos diversos problemas oculares que exigiam tratamento, entre os quais catarata, retinopatia diabética, glaucoma, pacientes com descolamento de retina que necessitavam de intervenção imediata, crianças com problemas oftalmológicos, além de uma grande demanda pela prescrição de óculos.
Com esse aumento, fomos obrigados a mudar para uma área física maior e conseguimos a reforma de uma sala em desuso na parte interna do Hospital das Clínicas, que era pouco utilizada. Havia também um depósito de material em desuso dentro do próprio centro cirúrgico e, então, conseguimos, com a ajuda de muitas pessoas, equipamentos para os novos consultórios que abrimos, para colocação dos lasers e aparelhos de diagnóstico, como ultrassonografia ocular, angiofluoresceinografia e OCT, e equipamentos cirúrgicos, que foram todos instalados.
Nesse momento estava nascendo a ideia do CEROF e, ao mesmo tempo em que esse movimento estava sendo colocado em prática, começamos a residência médica em oftalmologia, que foi a primeira residência do Estado de Goiás, já logo de início credenciada pelo CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia) e pelo MEC (Ministério da Educação e Cultura), além do fellowship de retina, que passamos a oferecer para médicos com título de especialista do CBO. 
Dois anos após esse movimento inicial, em 1999, fizemos um novo contrato de expansão com a Secretaria Municipal de Saúde para realizarmos um atendimento ampliado. Através desse contrato, no qual atenderíamos em especial a demanda das cirurgias de catarata, veio o recurso da SMS para a construção de um novo prédio em um terreno desocupado da Universidade Federal de Goiás, no mesmo bloco que o Hospital das Clínicas. Foi uma correria grande para botar o projeto em prática, para conseguirmos aprovação de construção e todas as demandas de alvarás e licenças necessárias. O edifício começou a ser erguido e no ano 2000 inauguramos o novo prédio da oftalmologia do HC, com muitas partes ainda inacabadas. Nascia, assim, oficialmente, naquele ano, o CEROF – Centro de Referência em Oftalmologia. 
UV – Qual o objetivo do CEROF e como ele funciona? 
Ávila – O CEROF tem como meta facilitar o acesso ao atendimento oftalmológico de qualidade aos pacientes dependentes do SUS, essa é a nossa grande missão. Acredito que o nascimento do Centro foi um dos divisores de água do atendimento do Sistema Único de Saúde no Estado de Goiás e em alguns Estados vizinhos. Éramos vinculados ao HC e atingimos a demanda do SUS contratualizada de Goiânia. Com a nossa participação e de outros, ocorreu também, nessa mesma época, a criação da FUNDAHC – Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (ver box) – e abriu-se a possibilidade de, através dela, expandir o atendimento oftalmológico aos pacientes do SUS, ao Estado de Goiás e a outros Estados vizinhos. Deu certo! Crescemos muito em atendimentos clínicos e cirúrgicos, publicações científicas e, em especial, na formação de novos médicos, através da residência e de fellows, não só de retina, mas de muitas outras subespecialidades. Porém, faltava a pós-graduação stricto sensu. Foi nessa época, então, que colaboramos com o Dr. Celmo Porto (professor da Faculdade de Medicina da UFG) e foi, assim, criado o PPGCS – Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da UFG. De 1997 até hoje, centenas de oftalmologistas passaram por estes programas de treinamento do CEROF e estão trabalhando espalhados por todo o Brasil. 
Desde então, um número significativo de teses de mestrado e doutorado foi defendido, usando como campo de ação e orientação os professores do CEROF, que criaram a partir daí uma plêiade grande de pós-graduandos acadêmicos. Acredito que a equipe CEROF é, junta e coesa, a maior conquista de todas, pois são pessoas abnegadas e devotadas à missão de facilitar o acesso e tratar as causas prevalentes de cegueira na nossa região. E um aspecto importante é que dos 74 médicos hoje que atuam no CEROF, cerca de 40 foram nossos alunos em um dos cursos de residência, fellowship ou pós-graduação stricto sensu. E destes, 22 tiveram formação acadêmica stricto sensu no novo PPG, que foram orientados no CEROF e continuam conosco. São as novas gerações chegando e levando para frente a ideia do CEROF como centro de assistência irradiador do conhecimento.
UV – Quais as dificuldades pelas quais o CEROF passou e como esses problemas foram contornados? 
Ávila – Como em tudo na vida, o crescimento gera algumas dificuldades, sendo a principal delas os recursos finitos do sistema público de saúde no Brasil. Entretanto, em 2015, das muitas expansões da área física que fomos fazendo ao longo dos anos, houve a desestruturação de parte da estrutura física, o que colocava em risco a própria sustentação do prédio. Esse foi um momento de muita angústia e de união da equipe em torno do mesmo ideal.
Seguimos atendendo por dois anos em tendas no estacionamento do CEROF e deu certo, conseguimos atender o mesmo volume de pacientes. Na verdade, autoridades públicas que sempre nos visitam no CEROF, pessoas do poder legislativo, executivo e até do judiciário, puderam atestar que o movimento, ao invés de diminuir, aumentou com o atendimento realizado nas tendas. É a força de equipe levando ao crescimento. Essa dificuldade foi superada com a reestruturação do prédio, que voltou a ser ocupado em 2016 já todo reestruturado e com a sua ampliação concretizada.
Além dessas dificuldades, existe um outro problema que é a essência do crescimento de um hospital de especialidades. O funcionamento do hospital de especialidades gera demandas que não são atendidas pelo crescimento exponencial, ainda mais em uma especialidade com um volume de atendimento muito grande, como é o caso da oftalmologia, que atende desde crianças até idosos de ambos os sexos. Assim, nós do CEROF, nossos amigos, diretores e incentivadores do Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina e gestores da própria Universidade Federal de Goiás, passamos a buscar caminhos para superar esse obstáculo e encontrar maneiras de termos uma gestão individualizada e focada no crescimento, que seria vinculada diretamente à reitoria central da UFG.
Diante do crescimento exponencial – com mais de 1 milhão de atendimentos em 24 anos – da residência em oftalmologia, dos vários programas de fellowship, do mestrado e doutorado, havia, então, o senso comum da comunidade universitária de que precisávamos ampliar nossos horizontes. Nasceu assim, por votação unânime no conselho universitário, o CEROF – Hospital de Olhos da UFG, um novo hospital universitário com foco na qualidade assistencial, no ensino e na pesquisa. A fundamental parceria com a Secretaria Municipal de Saúde foi selada no final de 2020 e efetivada agora em abril de 2021, com a nova gestão da SMS. Neste momento, nossa equipe está mais do que nunca unida em torno do ideal do CEROF e, além de tudo, motivada ao extremo de crescer com sustentabilidade nos próximos anos, enfrentando os desafios que nos esperam e que, com certeza, serão suplantados. 
UV – Gostaria de abordar mais alguma questão?
Ávila – Aproveitando o espaço, apenas gostaria, em nome de toda a equipe do CEROF, de agradecer a todos os professores, médicos, colaboradores, as centenas de “amigos” do CEROF, as entidades, gestores públicos, pessoas dos poderes executivo, legislativo e judiciário, que de diversas formas ajudaram na concretização deste sonho. Afinal, ajudar as pessoas é o que vale na vida!  
BOX 
Excelência e Humanização em Saúde 
A história da FUNDAHC – Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás – começou em 1998, quando um grupo de professores, servidores e médicos do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC-UFG) se uniu para agilizar a contratação de profissionais para o hospital. Preocupados em continuar oferecendo um atendimento de qualidade aos pacientes, eles deram início à atuação da FUNDAHC com recursos próprios. 
Em paralelo à cogestão do HC, iniciou-se um amplo programa de incentivo e financiamento de pesquisas junto aos professores das Unidades Acadêmicas da área de saúde da UFG. Hoje, a FUNDAHC conta com um time de profissionais competentes e comprometidos com o propósito de gerir projetos que cooperem com a população que utiliza o Sistema Único de Saúde (SUS), tanto em Goiás como em outros Estados, buscando sempre o incremento da assistência, pesquisa e extensão. Com o auxílio dessa equipe, os pilares que nortearam o surgimento da Fundação continuam os mesmos:
– Transparência da gestão;
– Total comprometimento com a qualidade dos serviços assistenciais;
– Otimização de custos e recursos públicos e privados empregados para melhoria da saúde da população;
– Eficiência e eficácia em uma assistência humanizada.
Assim, a FUNDAHC tem por objetivo entregar Excelência e Humanização em Saúde com tecnologia de ponta e capital humano competente, atuando sempre com respeito, carinho e dedicação aos colaboradores e pacientes. Para mais informações, acesse o site: https://fundahc.hc.ufg.br/

Fonte: Revista Universo Visual

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