Por Gustavo M. Hüning, MD, MBA, DiSSO. Especialista em retina, catarata e trauma.
Recentemente, a inauguração do primeiro hospital de inteligência artificial (IA) na China, desenvolvido por pesquisadores da Universidade Tsinghua, chamou a atenção global. O “Agent Hospital” pode atender até 3.000 pacientes por dia utilizando médicos-robôs equipados com IA; prometendo transformar radicalmente o atendimento médico. No entanto, enquanto as promessas da IA são empolgantes, é crucial abordar tanto suas vantagens quanto os desafios que ela apresenta, especialmente no campo especializado da oftalmologia.
Como oftalmologista, enxergo essas tecnologias como ferramentas poderosas para aprimorar nossa prática. A Google, por exemplo, desenvolveu algoritmos de IA capazes de analisar imagens de retina para detectar doenças oculares como retinopatia diabética e degeneração macular com uma precisão impressionante. Tais ferramentas podem identificar sinais precoces dessas condições, permitindo intervenções rápidas e eficazes. Contudo, é essencial reconhecer que esses sistemas dependem de vastos conjuntos de dados de alta qualidade para treinamento. Se os dados forem limitados ou enviesados, os resultados podem ser desastrosos, levando a diagnósticos incorretos ou tratamentos inadequados.
A IBM, por sua vez, explora o uso da IA na análise de imagens de íris para detectar doenças sistêmicas como hipertensão e diabetes. A aplicação dessas tecnologias pode aumentar a eficiência e precisão dos diagnósticos oftalmológicos, liberando os médicos para focarem em aspectos mais complexos do atendimento. No entanto, a implementação prática enfrenta desafios significativos, incluindo a necessidade de infraestrutura tecnológica robusta e a garantia de conformidade com questões bioéticas rigorosas.
Devido a esses exemplos, muitos expressam preocupações legítimas de que a IA possa substituir os médicos. Mas acredito que essas tecnologias são complementares e não substitutivas. A verdadeira força da IA reside em sua capacidade de processar grandes volumes de dados e realizar análises detalhadas, tarefas que podem ser demoradas e tediosas para humanos. Com a IA, os oftalmologistas podem se concentrar mais na interação humana e na personalização do tratamento, elementos que são insubstituíveis. No entanto, a dependência excessiva de sistemas automatizados pode levar à desumanização do cuidado, onde a empatia e o julgamento clínico são subvalorizados.
Por outro lado, tecnologias como as usadas no “Agent Hospital” oferecem uma plataforma avançada para treinamento médico. Médicos em formação podem praticar em ambientes simulados, propondo planos de tratamento sem risco real para os pacientes. Esse treinamento pode resultar em profissionais mais bem preparados. Todavia, a eficácia desse treinamento depende da fidelidade das simulações à realidade clínica, algo ainda distante, e há o risco de os futuros médicos se tornarem excessivamente dependentes de sistemas automatizados, perdendo a habilidade de tomar decisões críticas sem o auxílio da IA.
A pesquisa em oftalmologia também pode se beneficiar da IA, com outros modelos capazes de analisar grandes conjuntos de dados para identificar novos padrões e associações. Isso pode acelerar a descoberta de novos tratamentos. Contudo, a interpretação dos dados deve ser feita com cautela, evitando conclusões precipitadas que possam ser enviesadas pelos próprios algoritmos.
Em resumo, a adoção da IA na oftalmologia, um caminho sem volta, tem o potencial de transformar a prática médica, tornando-a mais eficiente e precisa. No entanto, é essencial abordar os desafios e limitações dessas tecnologias. A infraestrutura necessária para suportar a IA deve ser robusta e segura, os dados utilizados para treinar os algoritmos devem ser de alta qualidade e representativos, e a colaboração entre humanos e IA deve ser cuidadosamente gerenciada. A IA não deve substituir a intuição e a empatia humanas, mas sim complementá-las, aprimorando o cuidado aos pacientes.
Como profissionais de saúde, devemos adotar uma abordagem crítica e equilibrada em relação à IA. Enquanto abraçamos suas capacidades para melhorar diagnósticos e tratamentos, também devemos estar atentos aos riscos e limitações, garantindo que a prática médica continue centrada no paciente e guiada pelo julgamento clínico humano. A revolução da IA na oftalmologia é um desenvolvimento emocionante, mas seu sucesso depende de nossa habilidade em integrar essas tecnologias de maneira responsável e ética.
PS: Este texto foi criado com ajuda da IA.