Tempo de leitura: 3 minutosHoje é comemorado o Dia Nacional de Combate ao Glaucoma. Sabendo da complexidade que é a doença e da importância de levar informação de qualidade a todos para evitar as complicações irreversíveis do glaucoma, nós convidamos Augusto Paranhos (CRM-SP 84.213), oftalmologista e Presidente da Sociedade Brasileira de Glaucoma, para um bate-papo. O especialista discorreu sobre os principais aspectos do diagnóstico e do tratamento da doença e também esclareceu as principais dúvidas que giram em torno da temática. Confira:
Qual é a predominância do glaucoma?
Augusto Paranhos – A revista Ophthalmology é uma das principais no setor e traz um compilado de diversos estudos realizados na área. Com base nestes materiais, a publicação aponta que 3,5% da população mundial tem glaucoma¹. Claro que essa prevalência varia de acordo com a região analisada, mas se fossemos pensar que temos em torno de 88 milhões de pessoas acima dos 40 anos no Brasil isso significa que são cerca de três milhões de glaucomatosos. E já temos estudos mostrando – não especificamente no nosso País – que metade das pessoas com glaucoma não sabem que têm a doença 2,3,4,5.
O glaucoma é uma doença degenerativa que ocorre em decorrência do envelhecimento?
Paranhos – Sim, em parte. À medida que a população envelhece, a prevalência da doença e a velocidade de progressão também aumentam. Parte do problema é, sim, porque se trata de uma doença degenerativa.
Nós nascemos com uma quantidade de células que conecta o olho ao cérebro – algo em torno de 1,6 milhões de células. Conforme nós envelhecemos, essa quantidade vai diminuindo sem ter reposição. E o que acontece no glaucoma é uma morte celular mais acelerada, então certamente existe o componente degenerativo associado ao problema ocular.
Existe mais de um tipo de glaucoma? Quais costumam ocorrer com mais frequência?
Paranhos – Temos mais de 30 tipos de glaucoma, sendo os mais recorrentes: glaucoma primário de ângulo aberto, glaucoma de ângulo fechado e glaucoma corticogênico.
Muitas vezes o paciente não percebe a perda visual. Como ele pode identificar que algo está errado? Quais os sintomas mais comuns?
Paranhos – O nosso organismo tem um mecanismo de defesa. Quando ele detecta algo errado já busca alternativas para corrigir o problema. No fundo do olho, onde os olhos recebem a luz, nós temos muitas células ganglionares com a mesma função. Vou dar um exemplo grosseiro para ilustrar: Em uma determinada região eu tenho cinco células ganglionares emitindo o mesmo sinal. Se eu perco três, eu vou continuar percebendo o estímulo luminoso mesmo que eu tenha perdido mais da metade das células da retina. O próprio organismo se encarrega de “encobrir” esta deficiência. Ou seja, o “olho bom” compensa o “olho ruim”, por isso o glaucoma primário de ângulo aberto é inicialmente assintomático.
No entanto, quando falamos sobre glaucoma de ângulo fechado, este tem sintomas perceptíveis. O paciente pode sentir crises de embaçamento visual, de dor, de desconforto, auras coloridas quando vê luz. Inclusive, pode ocorrer uma crise aguda, que gera é uma dor insuportável e até leva a pessoa ao pronto-socorro. Este é um tipo de glaucoma que tem muitos sintomas associados.
Outro tipo de glaucoma com sintoma é o corticogênico. É bastante comum as crianças terem alergia ocular e, dependendo do caso, o médico oftalmologista orienta o uso de corticoide. A mãe percebe que a medicação é rápida e eficaz, então nos episódios seguintes de alergia ocular ela mesma se encarrega de medicar o filho sem orientação profissional, uma vez que não é exigida receita para adquirir o remédio. Dali um tempo, essa criança começa a ter embaçamento da visão e vai ao médico oftalmologista achando que o problema será resolvido com óculos. Não é o que acontece. Trata-se de um glaucoma corticogênico e a criança perdeu a visão devido ao uso errôneo da medicação.
Entrando na questão da prevenção, qual é o direcionamento? Existe prevenção?
Paranhos – Sim, mas varia de acordo com o tipo da doença. Por exemplo, é possível prevenir os glaucomas secundários tratando a causa da hipertensão. Se o paciente tem um glaucoma secundário à uveíte, é preciso tratar a uveíte. Se for um glaucoma secundário a um trauma e este foi tratado adequadamente, o glaucoma não chega a se desenvolver. Já o glaucoma corticogênico, como falei anteriormente, basta não usar indevidamente o medicamento.
Referências:
[1] THAM, Yih Chang; XIANG, Li; WONG, Tien Y; QUIGLEY, Harry A; AUNG, Tin; CHENG, Ching-Yu. Global Prevalence of Glaucoma and Projections of Glaucoma Burden through 2040. Ophthalmology, Vol 121, Issue 11, pages 2081-2090, Nov 2014. (abstract)
² Half of Those with Glaucoma Don t Know It; Are You At Risk?. American Academy of Ophthalmology, 2015. Disponível em: < https://www.aao.org/newsroom/news-releases/detail/half-of-those-with-glaucoma-don-t-know-it-are-you->. Acesso em 21 de mai de 2020.
³ HENNIS, Anselm; WU, Suh-Yuh; NEMESURE, Barbara; HONKANEN, Robert; LESKE, M Cristina; Barbados Eye Studies Group. Awareness of Incident Open-Angle Glaucoma in a Population Study: The Barbados Eye Studies. National Library of Medicine 2007 Oct;114(10):1816-21.
4 TIELSCH, JM; SOMMER A; KATZ J; ROYALL RM, QUIGLEY HA, JAMA Javitt. Racial variations in the prevalence of primary open-angle glaucoma. The Baltimore Eye Survey. 1991 Jul; 266(3):369-74.
5LESKE MC, CONNEL AM, SCHACHAT AP, HYMAN L. Prevalence of open angle glaucoma. The Barbados Eye Study. Arch Ophthalmol. 1994 Jun; 112(6):821-9.
Fonte: Baruco Comunicação