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É bilateral e geralmente assimétrica. A maioria dos casos presentes em famílias são de padrão de herança autossômica dominante e a prevalência é de aproximadamente 0,05%.
A etiologia é multifatorial. A associação entre atopia e o ato de coçar os olhos se estabeleceu como um fator desencadeador para o desenvolvimento e progressão do ceratocone. Outros fatores que podem influenciar são a intensidade e a frequência do ato de coçar. O microtrauma epitelial pode aumentar os níveis de metaloproteinases e mediadores inflamatórios, o que também poderia levar a manifestação e progressão da doença. Os níveis elevados de IL-1 podem levar inclusive a apoptose de ceratócitos e a diminuição do volume estromal. O ceratocone já foi associado também a síndrome de frouxidão palpebral (Floppy Eye Syndrome FES), o que poderia ter associação com a compressão dos olhos no travesseiro levando ao desenvolvimento da doença e às alterações da estrutura do tarso palpebral relacionadas a FES.
 
Estudo recente
Um estudo publicado esse ano por Santos et al. nos Arquivos Brasileiros de Oftalmologia avaliou a relação entre a gravidade do ceratocone, do prurido ocular, dos hábitos de sono, destreza manual e rinite alérgica. A série de casos analisada foi dos pacientes atendidos de maio de 2015 a julho de 2016 no Departamento de Oftalmologia da UNIFESP. O estudo incluiu pacientes com ceratocone candidatos ao implante de anel intraestromal. Dos 34 indivíduos avaliados, 14 eram mulheres e 20 eram homens. Não houve associação entre a idade e o olho mais coçado (direito ou esquerdo), nem lado preferencial para dormir. A presença de rinite alérgica e prurido foi reportada em 76.5% e 85.3%.
Em relação ao olho preferencial para coçar, não houve diferença entre direito, esquerdo e ambos. Metade dos pacientes não tinha certeza sobre um olho preferencial. 41.2% respondeu que dormia a maior parte do tempo para o lado direito e 73.5% que acordava em posição diferente da posição inicial do sono. Nesse estudo, 55.9% dos pacientes tinha pior evolução do ceratocone no olho direito. Apesar das diferenças não terem sido significantes, foi observada uma tendência dos valores de Kmax (ceratometria máxima) serem maiores no lado que o paciente dizia preferir dormir.
Mensagem final
A análise mostra uma tendência de correlação entre altas ceratometrias com o lado preferencial de sono, porém não foi observada tendência de correlação entre altos valores ceratométricos e olho preferencial de coçar. Apesar de não ter encontrado essa diferença, na nossa prática observamos que o ato de coçar os olhos é extremamente correlacionado com o ceratocone e outros estudos suportam essa hipótese. Outra questão importante é que muitos indivíduos com ceratocone tendem a usar mais os dedos ou a interfalange distal para coçar vigorosamente os olhos. As vias inflamatórias podem ter papel fundamental no desenvolvimento do ceratocone. Todos esses fatos nos alertam da importância de controlar os fatores alérgicos, diminuir a inflamação e evitar os traumas oculares em pacientes com ceratocone.

Referências bibliográficas:
Santos RT, Moscovici BK, Hirai FE, Benício CMF, Nakano EM, Nosé W. Association between keratoconus, ocular allergy, and sleeping behavior Associação entre ceratocone, alergia ocular e comportamento ao dormir. Arq. Bras. Oftalmol. 2021;84(1). doi: 5935/0004-2749.20210003

Fonte: PebMed

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