Em 2015, durante o XXXVIII Congresso Brasileiro de Oftalmologia realizado em Florianópolis (SC), a oftalmologista Tania Schaefer encontrou um colega que, como ela, também é estudioso de ortoceratologia e que comentou sobre a necessidade de criar no país uma academia de controle da miopia e ortoceratologia como existe no mundo inteiro. “Naquela ocasião, falei que iria conversar com colegas e com os membros da diretoria da Soblec e pensaríamos no tema com carinho”, lembra Tania.
No ano seguinte, a publicação de um estudo no Opthalmology Journal deixou em alerta especialistas em todo o mundo. Um grupo internacional de cientistas analisou os resultados de 145 estudos totalizando 2,1 milhão de participantes. De acordo com os pesquisadores, no ano 2000, cerca de 1,41 milhão de pessoas tinham sido diagnosticadas com miopia (22,9% da população mundial) e 163 milhões de pessoas tinham miopia grave. Para 2050, a estimativa é que cerca de 4,758 milhões de pessoas serão míopes (49,8% da população mundial) e que 938 milhões de pessoas terão a doença em estágio avançado. O relatório indica que isto será resultado da exposição desenfreada às telas de tablets, smartphones, computadores e outros produtos eletrônicos.
“O assunto do aumento da miopia no mundo era um tema bastante grave e precisava ser abordado muito de perto”, comenta Tania. Era o momento de o Brasil, como maior país da América Latina, traçar uma estratégia para minimizar esse futuro cenário. Em 2020, quando a oftalmologista assumiu novamente a presidência da Sociedade Brasileira de Lentes de Contato, Córnea e Refratometria (Soblec), foi criada uma campanha de alerta ao controle da miopia unindo diversas entidades como, por exemplo, o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), a Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo (SBRV), a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a Sociedade Brasileira de Visão Subnormal (SBVSN).
Segundo a médica, nasce daí, dentro da Soblec, “o espírito de que a miopia é um tema amplo e que não pode ser apenas do oftalmologista”. “Tem de ser um assunto dos médicos que estão em contato com o desenvolvimento da criança, ou seja, precisávamos ter uma entidade que falasse e tivesse em seu corpo pediatras, médicos da família, todos ligados diretamente ao desenvolvimento da criança que é onde repousa a verdadeira prevenção da progressão da miopia”, aponta.
A ideia amadureceu e, em agosto de 2022, surge a Academia Brasileira de Controle da Miopia e Ortoceratologia (Abracmo). “A entidade conta com fundadores eméritos, todos ligados ao tema, em sua maioria médicos oftalmologistas, e há dois médicos pediatras que fazem parte e representam a Sociedade Brasileira de Pediatria”, conta Tania, presidente da Abracmo. A entidade tem como vice-presidente a oftalmologista Izabela Godinho.
A associação nasce com o objetivo de promover conhecimento sobre a importância do controle da miopia. “Até 2021, tínhamos basicamente duas ferramentas no controle da miopia, a atropina e a ortoceratologia. Hoje, é preciso atenção às atividades outdoor. O principal fator da progressão da miopia ocorre pela mudança de hábitos, quando as crianças deixaram de se expor à luz, o que é fundamental para que exista a liberação de determinados hormônios, como a dopamina, que faz com que haja controle do crescimento da miopia. Também há indicativos, apesar de ainda não estar comprovado cientificamente, de que o número de horas de sono contribui para que ocorra o crescimento normal dos olhos”, explica. “Sabemos que a genética é um fator muito importante, mas a ausência da exposição à luz tem sido apontada, cientificamente, como um dos grandes determinantes do aumento da miopia”, enfatiza.
“Por isso, falar com os médicos em geral, principalmente pediatras e médicos de família, é um dos grandes objetivos da entidade e que estamos começando a cumprir. Além de alertar o público em geral, pais, familiares e os educadores, no sentido de que precisam auxiliar neste trabalho, que é um trabalho hercúleo”, finaliza a presidente da Abracmo.
Confira os objetivos institucionais da Abracmo
a) Fomentar o estudo, a pesquisa e difusão da ortoceratologia, da miopia e distúrbios da visão;
b) Congregar os médicos interessados em fomentar o progresso e aperfeiçoamento da especialidade;
c) Melhorar a qualidade da assistência à saúde ocular, estabelecendo padrões na propedêutica e nos métodos de tratamento dentro do mais alto nível de competência e ética;
d) Defender a apoiar os interesses dos seus associados, bem como, defender os direitos difusos e coletivos individuais homogêneos por meio de ações civis públicas;
e) Promover educação continuada por meio da promoção de cursos livres, correlatos, de categorias profissionais e aperfeiçoamento;
f) Promover iniciativas direcionadas ao púbico em geral nas áreas de atuação da Academia;
g) Estabelecer termos de cooperação com entidades da sociedade civil, com órgãos da administração pública e entidades da iniciativa privada.