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Na repercussão do Podcast Rx – Por dentro da sua próxima receita médica! com o empresário Ogari Pacheco, o oftalmologista Paulo Schor deixa claro que, atualmente, a residência médica é um processo muito seguro, realizado sob supervisão. No entanto, ele observa que os simuladores tendem a fazer com que os médicos adquiram destreza e segurança mais rapidamente e, por consequência, os pacientes também se sentirão seguros mais rápido. Embora exista tecnologia para simuladores de várias cirurgias, técnicas e em diversas especialidades, Schor enfatiza que, ainda assim, os simuladores não substituem o ambiente real. 

O médico Ogari Pacheco fundou a Cristália, que é um grande laboratório brasileiro, e depois adquiriu a Latinofarma, que é outro grande laboratório especializado na área de oftalmologia. Para ficar mais próximo um pouco dos prescritores jovens, ou seja, estudantes e residentes, ele investiu em simuladores cirúrgicos, que são máquinas que existem atualmente e que fazem com que cirurgias sejam simuladas fora das pessoas. Isso é relativamente comum em outros campos, como aviação, por exemplo”, diz o oftalmologista, emendando: Vocês não entrariam em um avião cujo piloto é inexperiente e que vai aprender a pilotar com vocês dentro do avião. Isso já aconteceu no passado, porque não havia simuladores, e aí os pilotos aprendiam de verdade com os passageiros dentro do avião. Hoje, muito menos”, completa.  

Schor explica que o custo de um simulador vale a pena se uma empresa tiver mais do que dez aviões. “Menos do que dez aviões, vale mais a pena a empresa colocar os pilotos para onde o simulador está. Isso quer dizer que o simulador é muito caro e muito preciso e muito importante na indústria aeronáutica”, destaca, apontando que as pessoas se tornam especialistas em destreza quando têm mais do que dez mil horas de simulação. Para ele, isso é correto, sabido e concordante do ponto de vista dos pilotos, mas e em relação aos médicos? Nós nos perguntamos muito pouco sobre isso como pacientes e tentamos nos perguntar mais como educadores e professores e não conseguimos muitas respostas”, afirma.  

Segundo o especialista, isso se deve um pouco por conta da falta de tecnologia e também pelo fato de ser um tema mais recente. E como é que nós fazemos? Já que esse podcast se chama por dentro da sua próxima receita médica, e cirurgia é um tipo de prescrição, hoje nós fazemos cirurgias em animais cada vez menos, em cadáveres cada vez menos, fazemos em simuladores que são, por exemplo, órgãos de animais que já não estão mais vivos (ex-vivo)”, comenta o cirurgião. Na oftalmologia, ele esclarece que se utiliza muito olho de porco em cirurgias em um ambiente denominado de wet labs – laboratórios molhados, onde existe uma estrutura parecida com a do centro cirúrgico, com microscópio, pinças, tesouras, fios etc 

É uma estrutura bastante cara e difícil de manter, principalmente porque não tem ressarcimento. E esse é um dos motivos pelos quais os hospitais universitários, os locais de formação, sofrem muito pelo financiamento que não vem em ações desse tipo”, informa Schor, salientando que não tem consultas e cirurgias pagas pelo SUS feitas para treinar os próprios cirurgiões que depois irão operar os pacientes do SUS, mas que são realizados em ambientes acadêmicos. Ele enfatiza que os simuladores substituem em parte esses ambientes orgânicos, com muitas vantagens e algumas desvantagens. Como desvantagens óbvias é que para simular, para fazer ficar igual a um órgão, existem muitas variáveis que não controlamos ainda. Por mais modernas, detalhadas e complexas que sejam essas máquinas, não conseguimos a mesma sensação que em olhos de animais, que também são bem de diferentes dos olhos humanos” 

O médico revela que é por isso também que até então as pessoas confiam muito em cirurgiões experientes. Mas o que quer dizer cirurgião experiente? Segundo o especialista, é aquele cirurgião com muitas horas de voo”, muita destreza, mas também com muita vivência em complicações, para poder resolvê-las. “Porque essas pessoas com mais horas de voos tiveram mais chance de ver ou de orientar complicações. Só que com os simuladores, isso tende a mudar um pouco”, destaca, contando que quando era chefe do Departamento de Oftalmologia da Escola Paulista de Medicina (EPM), os residentes faziam uma certa competição entre si para ver quem operava catarata mais rápido. Isso porque as cirurgias de catarata são bastante conhecidas em seu passo a passo e quando os residentes operam um volume grande de cirurgia na residência, que é um local de treinamento sob supervisão, acabam ficando muito destros e conseguem fazer isso de um jeito repetido e bastante preciso, observa.  

Ele esclarece que na época ficou muito preocupado, porque essa rapidez poderia vir às custas de uma diminuição na qualidade da cirurgia. E eu combinei com eles que nenhuma cirurgia poderia durar menos do que 17 minutos e vocês podem pensar nossa, só isso? Pois é, tinha gente operando bem abaixo desse tempo. Mas não eram resultados ruins, eram muito bons, na verdade, eles eram muito hábeis, mas eu não queria que essa fosse a regra, eu queria que a regra fosse a qualidade e que mais tempo poderia ser utilizado, até para revisar os passos, para realizar o procedimento com mais tranquilidade, porque não precisaria dessa produtividade tão grande em um ambiente de treinamento”, relata. Schor diz que os simuladores, portanto, tendem a mudar um pouco essa realidade. Eles tendem a fazer com que os médicos consigam colocar em prática essa destreza adquirida em outro lugar”, acrescenta.  

De acordo com o especialista, hoje existe bastante segurança aos pacientes que se submetem a cirurgias oftalmológicas. A residência é um processo de treinamento sob supervisão, os residentes não ficam sozinhos, alguém muito capacitado, no sentido de destreza e de experiência, ao lado deles, supervisionando-os o tempo todo. E qualquer coisa que minimamente saia dos trilhos o orientador assume o caso e finaliza a cirurgia”, enfatiza, revelando não achar necessário haver qualquer restrição em relação ao paciente ser operado em serviços de residência médica atualmente. Mas, provavelmente, em um futuro próximo, quanto mais simuladores tivermos espalhados pelo Brasil e mundo afora, mais rápida será essa destreza e segurança dos pacientes frente aos atos cirúrgicos”, opina o especialista.  

O médico afirma que esse é um aspecto bastante peculiar, interessante e que lhe veio à cabeça como repercussão da conversa com Pacheco: investir em informação usando tecnologia. “Existe tecnologia para simuladores de várias cirurgias, inúmeras técnicas e em diversas especialidades. Claro que isso não substitui o ambiente real, quanto mais real for a situação e conseguirmos resolver, sair de ciladas, de complicações, mais experientes ainda e, provavelmente, melhores estaremos”, avalia, pontuando que fazer um procedimento repetitivo com precisão é bastante importante. Existe a simulação também da prática clínica, que é uma outra coisa interessante de conhecermos. Diversas faculdades, ou por opção didática ou às vezes por falta mesmo de local de ensino e treinamento, optam por usar pessoas ou manequins para fazer consultas, exames ou anamnese, que é a conversa”, completa.  

Ele diz que se conversa com atores/pessoas que são treinadas para ter as mais diversas respostas e os estudantes treinam a sua posição emocional e técnica frente a essas situações. Esse é um recurso muito útil, mas que não deve ser usado unicamente. Ele vai ser muito bem utilizado em conjunto com outros recursos, como conversar com o paciente real”, assegura. Segundo ele, a tecnologia pode trazer a voz do paciente real de alguns outros meios para os ouvidos do médico em treinamento, para que ele não precise ouvir a mesma história do mesmo paciente, e que o mesmo paciente precise contar a mesma história para vários médicos inúmeras vezes. Dessa forma, a tecnologia nesse sentido, quando bem empregada, com questionamento crítico e bem focada, vem ajudar muito a prática médica”, conclui Schor.  

 

 

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