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Um amplo estudo clínico liderado pelo Brigham and Women’s Hospital concluiu que a suplementação com flavonoides do cacau não oferece benefício significativo a longo prazo na prevenção da degeneração macular relacionada à idade (DMRI). Os resultados foram divulgados na revista JAMA Ophthalmology.

A DMRI continua sendo uma das principais causas de perda visual

A degeneração macular relacionada à idade é uma condição progressiva que afeta a mácula — região central da retina responsável por tarefas visuais detalhadas como leitura, direção e reconhecimento facial. Embora a visão periférica geralmente seja preservada, a perda da visão central impacta severamente a qualidade de vida. O comprometimento da circulação sanguínea na retina é uma das causas apontadas para o desenvolvimento da doença.

Flavanóis do cacau e seus efeitos vasculares

Os flavanóis do cacau, compostos naturais presentes no grão de cacau, já foram amplamente estudados por seus efeitos benéficos na saúde vascular, como:

  • Melhora da função endotelial
  • Aumento da produção de óxido nítrico
  • Apoio à vasodilatação e à saúde circulatória

Estudos anteriores sugeriram que o consumo moderado desses compostos poderia contribuir para a redução da pressão arterial, melhora do perfil lipídico e diminuição de processos inflamatórios — o que levantou a hipótese de que poderiam também beneficiar doenças de origem vascular, como a DMRI.

O que mostrou o estudo COSMOS

Intitulada “Suplementação com flavanóis do cacau e risco de degeneração macular relacionada à idade: estudo complementar do ensaio clínico randomizado COSMOS”, a pesquisa avaliou se a ingestão diária de extrato de cacau poderia prevenir o aparecimento ou a progressão da DMRI.

Detalhes do estudo:

  • Tipo: Ensaio clínico randomizado, duplo-cego e controlado por placebo
  • Participantes: 21.442 adultos nos EUA (12.666 mulheres com 65 anos ou mais e 8.776 homens a partir dos 60 anos)
  • Duração: acompanhamento médio de 3,6 anos
  • Intervenção: suplementação diária com 500 mg de flavanóis de cacau, incluindo 80 mg de (-)-epicatequina
  • Grupo controle: placebo com aparência idêntica
  • Avaliação da DMRI: relatos autodeclarados confirmados por prontuários médicos

Durante o estudo, os participantes não podiam consumir outros suplementos de cacau ou multivitamínicos, já que o COSMOS contava com uma linha própria de multivitaminas em outra fase do estudo.

Resultados e análises estatísticas

No total, foram registrados 344 casos confirmados de DMRI, sendo:

  • 316 diagnósticos novos
  • 28 casos de progressão da doença

A incidência foi:

  • 1,5% no grupo que recebeu extrato de cacau
  • 1,7% no grupo placebo

Principais achados:

  • Risco reduzido nos primeiros dois anos, mas sem significância estatística (HR: 0,77; IC 95%: 0,59–1,01)
  • Nenhum efeito significativo após esse período (HR: 1,06; IC 95%: 0,76–1,50)

Um possível efeito em pessoas sem hipertensão

A análise por subgrupos revelou um dado interessante: entre os participantes sem hipertensão, houve uma redução estatisticamente significativa no risco de DMRI (HR: 0,63; IC 95%: 0,44–0,92). Já entre os hipertensos, não foi observado nenhum efeito relevante (HR: 1,04; IC 95%: 0,80–1,36).

Conclusão: cacau não previne DMRI

Os autores concluíram que a suplementação com extrato de cacau não demonstrou eficácia na prevenção da DMRI ao longo do período estudado. Embora uma tendência de benefício inicial tenha sido observada, os dados não sustentam o uso de flavanóis de cacau como estratégia preventiva.

Entre as limitações do estudo, destacam-se:

  • Duração relativamente curta do acompanhamento
  • Dosagem moderada do suplemento
  • Dependência de autodeclarações para diagnóstico da DMRI

Além disso, as restrições de acesso a exames oftalmológicos durante a pandemia de COVID-19 podem ter contribuído para a subnotificação de casos.

Referência:
William G. Christen et al. Cocoa Flavanol Supplementation and Risk of Age-Related Macular Degeneration, JAMA Ophthalmology (2025). DOI: 10.1001/jamaophthalmol.2025.0353

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