Recentemente, o Food and Drug Administration (FDA), aprovou o primeiro tratamento para atrofia geográfica (AG) secundária à degeneração macular relacionada à idade (DMRI). Trata-se da injeção de pegcetacoplan, lançada comercialmente com o nome de Syfovre pela Apellis Pharmaceuticals. A empresa investigou a eficácia e a segurança do medicamento nos estudos Derby e Oaks. Os resultados dos estudos de Fase 3 mostraram que o pegcetacoplan reduziu a taxa de crescimento da lesão GA e aumentou os efeitos do tratamento ao longo do tempo, de acordo com o comunicado da companhia.
“Essa aprovação é o evento mais importante na oftalmologia da retina em mais de uma década e torna o Syfovre o primeiro e único tratamento para atrofia geográfica, uma das principais causas de cegueira no mundo. E isso é muito importante para quem sofre com esse problema, porque não existiam terapias aprovadas para ajudar as pessoas que vivem com GA e a visão piorava implacavelmente. Agora, finalmente, existe um tratamento seguro e eficaz para esta doença devastadora, com efeitos crescentes ao longo do tempo”, afirma Renato Braz Dias, especialista em retina e vítreo do Hospital de Olhos INOB, do Grupo Opty.
O retinólogo Maurício Maia, que participou dos ensaios clínicos dos estudos, revela mais sobre a droga. “Essa molécula inibe a cascata do complemento, ou seja, a cascata inflamatória envolvida na fisiopatogênese do desenvolvimento da atrofia geográfica, doença que consiste na atrofia da mácula e para a qual não havia tratamento desenvolvido até hoje”.
Segundo ele, os estudos pivotais, tanto Derby quanto Oaks, mostraram que houve diminuição da progressão da doença de 22% em relação aos grupos de controle (que não foram tratados, apensas acompanhados ou receberam placebo). “Para isso, é preciso fazer uma injeção mensal durante o primeiro ano, e uma a cada dois meses no segundo ano. São 18 injeções em dois anos para conseguir 22% de diminuição na progressão da doença. É um tratamento cujos resultados ainda precisam ser melhorados”, aponta.
Maia ressalta que a principal indicação do tratamento é para o paciente que perdeu a visão por atrofia geográfica em um olho, e está caminhando para a perda do olho contralateral. “Neste caso, conseguimos prolongar ou diminuir a progressão da doença no olho contralateral em 22% dos pacientes injetados”, revela. Outro questionamento do tratamento diz respeito ao custo-benefício. “Não sei exatamente qual será o custo da medicação no Brasil, mas o resultado limitado em termos de diminuição da progressão da doença faz com que consideremos um tratamento bem distante do que é o ideal”, diz.
Apesar disso, o médico afirma que o medicamento abre uma perspectiva muito interessante que é o tratamento para atrofia geográfica. “Ele abre o leque de novas opções terapêuticas e faz com que seja uma área de pesquisa altamente promissora e que pode, sim, melhorar a vida de milhões de pacientes ao redor do mundo com drogas que tenham eficácia maior no futuro”, comenta. O recado final de Maia é que os médicos sejam muito claros com os pacientes, para não gerar expectativas elevadas. “Temos que ser muito claros em relação aos efeitos clínicos limitados do tratamento para que os pacientes não fiquem frustrados com a terapia”, conclui.