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O Julho Turquesa traz à tona um assunto que está cada vez mais presente na vida da população de todo o planeta: o olho seco. Como ressalta Leonardo Gontijo, preceptor de Córnea e Doenças Oculares Externas da Clínica de Olhos da Santa Casa de Belo Horizonte e do Instituto de Olhos da Faculdade de Ciências Médicas de Belo Horizonte, a doença ganhou novos contornos depois da pandemia de covid-19. “Antes, o olho seco era comum em mulheres na idade da menopausa. Hoje continua mais prevalente em mulheres, mas está mais frequente em todas as faixas etárias. O índice de pessoas com olho seco aumentou por causa do intenso número de horas em frente às telas”, comenta.

Juliana Almodin, oftalmologista do Próvisão Hospital de Olhos de Maringá, diz que entre 5 a 34% das pessoas em todo o mundo sofrem da doença de olho seco. “A avaliação diagnóstica da doença, antes de tudo, deve incluir um histórico detalhado do paciente, exame completo com lâmpada de fenda e testes adicionais. É importante também distinguir olho seco de infecções e alergias, que podem se apresentar clinicamente de uma forma muito semelhante, mas requerem tratamentos diferentes, e se tivermos um diagnóstico clínico incorreto e forem prescritos medicamentos antialérgicos ou antibióticos epiteliotóxicos, o olho seco pode piorar”, afirma.

Ela ressalta que, recentemente, foram introduzidos novos métodos para fornecer medidas objetivas e não invasivas de alguns sinais de olho seco. “Entre eles, podemos citar o Tear Check, um aparelho que analisa de forma completa a saúde da superfície ocular e a lubrificação. Com uma ferramenta diagnóstica mais precisa podemos indicar o tratamento mais adequado para o paciente”, diz a médica. O aparelho comercializado pela Drycom realiza nove exames, como meibografia, espessura do menisco lacrimal, NIBUT- tempo de quebra do volume lacrimal, análise de infecções e inflamações da superfície ocular, demodex, entre outros.

Gontijo também vê no equipamento um aliado no diagnóstico. “O Tear Check coleta dados do paciente referentes ao filme lacrimal, faz uma série de exames e entrega ao médico as impressões em relação ao lacrimejar, ao tempo de evaporação das lágrimas, ao estado das glândulas, ao estado inflamatório, etc”, revela.

Já em relação ao tratamento, Juliana comenta que pode ter muitas variáveis que vão desde o uso de colírios lubrificantes, medicações via oral, uso de ômega 3 e vitaminas, até o uso de luz pulsada, que vem auxiliando muito no dia a dia dos oftalmologistas. “O IRPL [Intense Regulated Pulsed Light] é um procedimento seguro que estimula e desobstrui as glândulas de meibômio, restaurando suas funções e melhorando a camada lipídica, fazendo com que ela não evapore. Porém, é preciso lembrar que o tratamento clínico deve ser associado para trazer mais conforto ao paciente”, diz.

Gontijo concorda e revela que a terapia de luz pulsada é indicada para a maioria das pessoas. “Ele ativa as glândulas que produzem a oleosidade necessária ao filme lacrimal. O tratamento é indolor, rápido – 1 minuto para cada lado olho, e são necessárias apenas quatro sessões”, aponta. “Fui o primeiro médico a usar esse equipamento no Brasil e fui o primeiro paciente brasileiro a receber esse tratamento num congresso europeu em 2016. Foi quando vi o valor desse aparelho, vi que realmente funciona bem. Em cada dez pessoas que fazem esse tratamento, nove notam melhora. E não é apenas para casos mais severos, é para todo mundo que sente desconforto”.

Gustavo Couri, CEO da Drycom, aponta que a missão da companhia é trazer ao país as soluções mais avançadas nesse tipo de terapia, proporcionando alívio e melhor qualidade de vida para os pacientes com olho seco. “Com um foco constante na inovação e no aprimoramento dos cuidados oftalmológicos, a Drycom tem sido pioneira na introdução de tecnologias e métodos de tratamentos revolucionários. Já estabelecemos parcerias com 80 clínicas oftalmológicas em todo o Brasil e essa ampla presença permite que mais pessoas tenham acesso a serviços de qualidade, garantindo que os pacientes com olho seco possam receber atendimento especializado”, conclui.

Casos clínicos

Caso 1 – O oftalmologista Leonardo Gontijo compartilhou um caso clínico de olho seco moderado, mas com muitos sintomas no ano de 2018. “Foi um dos meus primeiros pacientes tratados com IRPL”, revela.

  • DSS, feminino, 54 anos

História de olho seco há alguns anos e muito desconforto apesar, do uso irregular de colírios lubs. Foi-lhe RX Hialuronato Sódio quatro vezes ao dia, Omega 3 e retorno para mais exames.

  • Após alguns dias retornou para ex de osmolaridade com 346 e 324 miliosmois, caracterizando uma forma intensa em OD e leve em OE. Respondeu questionário OSDI com score de 93,75 que corresponde a um caso com sintomatologia severa. Ao exame de biomicroscopia observou-se rosácea nas bordas palpebrais com algum edema e o break -up time (BUT) diminuído, e após a expressão das glândulas (BUT-fat) observou-se presença de meibum que promoveu melhora do BUT, caracterizando assim uma deficiência lipídica. Punctata nos dois olhos no 1/3 inferior das córneas Recomendamos IRPL com o protocolo usual de quatro sessões e manter lubrificantes e ômega 3.

  • Após cerca de três meses, a paciente retornou referindo boa melhora dos sintomas e estava muito satisfeita. Usando hyaluronato agora apenas quando lembra.
  • Realizada nova osmolaridade com 288 e 292 miliosmois respectivamente OD e OE. Ao exame observamos melhora do BUT e ainda leve punctata, mas significativamente melhor. Recomendamos ainda manter o uso do lubrificante duas vezes ao dia, do ômega 3 e retorno em seis meses para nova avaliação.

Caso 2 – A oftalmologista Juliana Almodin também compartilha um caso clínico. Confira:

– Paciente sexo masculino, 37 anos

Construtor com diagnóstico de glaucoma primário de ângulo aberto há dois anos e seis meses, veio para seu primeiro atendimento em 01/09/2014. Fazia uso de latanoprosta 1vez à noite e de tartarato de brimonidina 0,1% com maleato de timolol 0,5% de 12 em 12 horas em ambos os olhos. Ao exame oftalmológico:

AV OD: 20/30 (-0,25 -0,75/20º — 20/20)

AV OE: 20/20 (-0,25 -0,50/165º — 20/20)

BIO AO: fácico

Gonioscopia: ângulo aberto 360º

Paquimetria OD: 548 µ e OE: 550 µ

PIO AO: 24 mmhg

FO OD: escavação 0,9/08, e OE 0,8/07 (em uso de bimatoprosta + maleato de timolol timolol 0,5% 1x/ noite + cloridrato de dozrolzamida 2%) — PIO 13/ 14  mmhg

Em fevereiro de 2015 teve progressão em ambos os olhos e foi submetido à trabeculectomia com implante de express. O olho esquerdo teve retração de conjuntiva no pós-operatório e foi submetido a ressutura de conjuntiva. Em setembro 2018 cursou com aumento da PIO em ambos os olhos e submetido à agulhamento com mitomicina. Em maio 2020 — PIO OD 24 mmhg e em OE 20 mmhg (em uso de bimatoprosta + timolol 0,5% AO  PIO: 13/12mmhg)

Em setembro 2020 — PIO 21/23 mmhg (associado combinação fica de brinzolamida + brimonidina – PIO 12/ 11 mmhg). Porém paciente teve intensa reação alérgica aos colírios. Paciente extremamente incomodado com vermelhidão, sintomas de olhos secos, além da reação alérgica aso colírios.

Tear check 

Em outubro 2020 foi submetido à cicofotocoagulação, momento em que usava bimatoprosta + maleato de timolol 0,5% AO sem conservantes, além de tratamento com luz pulsada, lubrificantes em gotas e gel, tacrolimus, ciclosporina tópica, ômega 3 via oral e higiene das pálpebras por três meses. Após três meses de tratamento e três sessões de luz pulsada, repetimos o Tear Check para verificar a melhora da superfície ocular do paciente, e o mesmo já relatava grande melhora no conforto e alívio dos sintomas.

Em 2020, paciente teve COVID e foi internado, onde fez tratamento com altas doses de corticóide e progressão do glaucoma. Submetido novamente a trabeculectomia em ambos os olhos com implante de colágeno. E com olho mais calmo obtivemos um maior sucesso na trabeculectomia.

Hoje o paciente encontra-se em três anos de pós-operatório com PIO OD: 11 mmhg e PIO OE: 12 mmhg sem medicação e em uso de colírios lubrificantes e ômega 3 via oral. Sabemos que a doença do olho seco é uma doença multifatorial; causando vários sintomas oculares com potencial dano à superfície ocular. A aplicação de colírios hipotensores pode iniciar ou exacerbar a doença existente do olho seco. O reconhecimento e o tratamento da doença da superfície ocular em pacientes com glaucoma podem melhorar a qualidade de vida do paciente e a adesão ao tratamento medicamentoso, além de ser benéfico no tratamento cirúrgico, podendo melhorar os resultados do tratamento do glaucoma.

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