Você provavelmente conhece alguém que teve catarata ou você mesmo está passando ou vai passar por essa condição. Afinal, a doença ocular caracterizada pela opacidade na lente do olho é uma das principais causas de cegueira no Brasil e no mundo. Mas, apesar de comum, muitas pessoas ainda não recebem o tratamento adequado.
“Há uma necessidade urgente de mais evidências relevantes em estudos científicos para entender como podemos melhorar a qualidade dos serviços de catarata”, revela o professor e oftalmologista João Marcello Furtado, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP. O apontamento está no artigo How can we improve the quality of cataract services for all? A global scoping review, que contou com a coautoria do professor Furtado e a participação de pesquisadores de diversos institutos do Reino Unido, Nova Zelândia, Nigéria e Quênia.
Os cientistas fizeram um levantamento sobre a produção científica já publicada sobre o aumento da qualidade dos serviços de cirurgia de catarata senil, ou seja, em idosos. Foram analisados 143 estudos que relatam resultados relevantes sobre a qualidade dos serviços ligados à doença.
O artigo foi publicado na revista Clinical & Experimental Ophthalmology. Os resultados mostraram que 65% dos 143 estudos foram realizados em países de alta renda e 41% deles têm como temática a eficiência da cirurgia, que atualmente é o único tratamento existente. “O principal achado é que, em linhas gerais, a literatura é muito falha nos aspectos relacionados à qualidade e integração das unidades de atendimento de saúde pública, principalmente em países onde a catarata é a principal causa de cegueira, como o Brasil”, explica.
Furtado explica que a maioria dos trabalhos focam em acuidade visual após a cirurgia, mas a qualidade tem uma dimensão muito maior, como: entender o que o paciente sentiu durante o recrutamento até o pós-operatório, qual foi o nível de ansiedade, o quanto melhorar a visão impactou financeiramente, como reduzir os resíduos gerados para diminuir os impactos no meio ambiente e até se a visão pode ser melhorada por intervenções não-cirúrgicas.
“Tudo isso precisa ser melhor estudado para que a gente consiga avançar na diminuição de cegueira por catarata. Nós temos excelentes serviços e profissionais no Brasil e no mundo, mas nem sempre o tratamento chega na população que precisa”, afirma.
O artigo recomenda que as produções científicas levem em consideração a amplitude do termo qualidade dos serviços de acordo com índices da OMS. “O principal indicador da Organização é a combinação da cobertura do serviço, que significa a porcentagem da população que precisa de tratamento, com o nível de visão que a pessoa possui após a cirurgia. Esse índice é gerado através de estudos populacionais, que não são feitos com frequência e não temos um dado nacional no Brasil.”
Neste sentido, Furtado explica que é necessário investimento para avançar na produção de estudos nos países de baixa e média renda. “É necessário investir em aumento de bolsas de estudo, verbas e condições para que pesquisadores possam se dedicar à ciência. Além disso, lembrar que a maioria das pessoas que precisam de cirurgia de catarata possuem alguma barreira ao acesso a mesma. Se não avançarmos nessas questões, daqui 10 ou 20 anos vamos continuar conversando sobre os mesmos problemas que vemos hoje.”
O que é catarata e como é feito o tratamento
Muito frequente em pessoas com 65 anos ou mais, a catarata é uma doença ocular e, normalmente, é caracterizada pelo sintoma de visão embaçada. A condição consiste na opacidade do cristalino, que é uma lente natural que permite a entrada de raios de luz para a formação de imagem. Entre os principais efeitos da doença está a dificuldade para ver e a sensação de que há uma névoa impedindo a visão com qualidade.
O tratamento da catarata é a cirurgia com a substituição do cristalino por uma lente artificial. “O procedimento é bastante efetivo, rápido e normalmente feito com anestesia local. É considerada uma das intervenções em saúde com melhor custo-benefício , finaliza Furtado.
Mais informações: e-mail [email protected], com João Marcello Furtado
Fonte: Jornal da USP