Tempo de leitura: 3 minutos
Em tempos de pandemia, muito se fala em não colocar as mãos no rosto. Mas quando um cisco cai nos olhos ou surge uma sensação de coceira, a reação mais comum é a de esfregar a região para diminuir o incômodo. Pois esse hábito que parece ser inofensivo pode não somente tornar os olhos porta de entrada para o novo coronavírus (Covid-19), como também ser responsável pelo surgimento de problemas oculares, como o ceratocone, doença que é o tema da campanha Junho Violeta promovida por profissionais da saúde e cujas estatísticas da literatura especializada mostram, de acordo com a Sociedade Brasileira de Oftalmologia, a incidência de um caso para cada duas mil pessoas.
O ceratocone é uma enfermidade não inflamatória que afeta a estrutura da córnea, camada fina e transparente que recobre toda a frente do globo ocular. É uma patologia que deforma a córnea, fazendo com que ela afine e fique com formato de um cone. Essa alteração na curvatura impede a projeção de imagens nítidas na retina e pode promover o desenvolvimento de grau elevado de astigmatismo irregular ou mesmo miopia.
Entre os sintomas do ceratocone estão visão embaçada, imagens “fantasmas”, visão dupla, dor de cabeça e coceira. Começa com a dificuldade para enxergar de perto e a sensibilidade à luz. Embora os sinais sejam muito semelhantes aos de outros problemas que acometem os olhos, o oftalmologista André Ruppert, do HCLOE, empresa do Grupo Opty explica que a piora na visão tende a ser mais rápida, fazendo com que o paciente troque de óculos e lentes com mais frequência. “É muito importante que, nesse momento que vivemos, os pacientes diagnosticados não deixem de seguir o tratamento e continuem com o acompanhamento médico. E pessoas que sintam incômodos e a redução da visão consultem um oftalmologista para identificar a causa”, afirma o médico.
Causas e diagnóstico – O ceratocone surge entre os 10 e 25 anos de idade, mas pode progredir até os 40 anos ou estabilizar-se com o tempo. Além de uma tendência genética, alguns hábitos também podem potencializar o aparecimento da enfermidade. “O estímulo mais importante é a associação com alergia ocular. Coçar os olhos é o fator de risco mais significativo para o desenvolvimento do ceratocone”, comenta o oftalmologista.
Ainda de acordo com Ruppert, especialista em transplante de córnea, o diagnóstico pode ser feito pelo exame clínico nas fases mais tardias ou por meio de exames como topografia computadorizada de córnea (estudo da curvatura do órgão) e da paquimetria (análise de sua espessura), que permitem identificar a doença nas fases mais precoces.
Tem cura?
O controle deve ser feito com realização de exames específicos para avaliação de provável progressão a cada quatro ou seis meses, dependendo da idade do paciente e do estágio evolutivo do caso. De acordo com Ruppert, o ceratocone pode levar à cegueira reversível, ou seja, o paciente pode ter uma perda significativa da visão, mas pode recuperá-la com os tratamentos atualmente disponíveis.
Dependendo do avanço da patologia, as principais formas de reabilitação são a prescrição de óculos e adaptação de lentes de contato rígidas corneanas ou esclerais, em casos mais leves. Já o crosslinking é um método cirúrgico minimamente invasivo que vem se mostrando bastante promissor, podendo até evitar a evolução da doença. “O procedimento consiste no fortalecimento das fibras de colágeno, que representam as pontes de sustentação da córnea, com o uso de radiação ultravioleta, associada a uma substância chamada riboflavina, que aumenta a rigidez biomecânica da córnea”, explica o médico.
Outras opções são o implante do Anel de Ferrara ou, em último caso, a realização de transplante de córnea. “Os tratamentos estão cada vez mais eficientes. Há novos tipos de anéis de Ferrara que trazem melhor resultado pós-operatório e novidades nas técnicas de transplante de córnea, como o DALK (transplante lamelar anterior profundo), que diminuem consideravelmente as possíveis complicações cirúrgicas, principalmente a rejeição ao transplante”, finaliza o oftalmologista. Em 2019, conforme registra a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, foram realizados 14.943 transplantes de córnea no País, sendo o ceratocone a maior causa desse tipo de procedimento, de acordo com o Ministério da Saúde. 

Fonte: Grupo Opty

Compartilhe esse post