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Pedro Antônio Nogueira Filho  – Vice Presidente da SOBRETO – Sociedade Brasileira De Emergências, Urgências e Trauma Ocular; Chefe Do Pronto Socorro Do Grupo H. Olhos/Vision One – São Paulo; Doutorando UNIFESP – EPM (Escola Paulista De Medicina)

A maioria dos casos confirmados com histórico de viagens relatou viagens para países da Europa e América do Norte, em vez da África Ocidental ou Central, onde o vírus da varíola dos macacos é endêmico. Esta é a primeira vez que muitos casos e aglomerados de varíola dos macacos foram relatados simultaneamente em países não endêmicos e endêmicos em áreas geográficas muito díspares. (1)

A Monkeypox (MPXV), ou varíola dos macacos (símea), é uma doença causada pelo vírus Monkeypox do gênero Orthopoxvirus e família Poxviridae. Apesar do nome popular, é importante destacar que os macacos não são reservatórios, ou seja, não são capazes de permitir que o vírus da varíola viva e se multiplique em seus organismos. Embora o reservatório seja desconhecido, os principais candidatos são pequenos roedores (como esquilos, por exemplo) nas florestas tropicais da África, principalmente na África Ocidental e Central. (2)

A Monkeypox é uma doença transmitida por contato com pessoas infectadas ou secreção humana contaminada pelo vírus. Tal como contato pessoal com secreções respiratórias, lesões de pele de pessoas infectadas ou objetos recentemente contaminados. (3)

Os sintomas mais frequentes são: febre, fadiga, cefaléia frontal envolvendo as órbitas (4, 5, 7, 8), dores pelo corpo, fraqueza, linfadenopatia (ocorrendo no estágio inicial da doença, é uma marca distintiva que diferencia a varíola humana da varíola símea e da varicela (4, 5), podendo envolver linfonodos pré-auriculares como visto na conjuntivite viral (4, 5, 6, 7, 8), além das erupções cutâneas bolhosas que aparecem primeiro como maculares, depois papulares, vesiculares e pustulares.

As erupções na pele normalmente começam dentro de um a três dias após o início da febre. Podem ser planas ou um pouco elevadas. Se parecem com bolhas preenchidas com um líquido claro ou amarelado. O número de bolhas em uma pessoa pode variar de poucas a milhares. As bolhas geralmente aparecem mais no rosto, nas palmas das mãos e plantas dos pés. Também podem ser encontradas na boca, genitais (pênis e vagina) e olhos. Depois de algum tempo, as bolhas formam uma crosta, secam e caem. Os sintomas normalmente duram entre duas e quatro semanas e desaparecem sem tratamento. (9)

Os sintomas de apresentação do MPXV são bastante semelhantes aos da varíola humana, com um período de incubação que varia de 5 a 21 dias (10). No entanto, as evidências disponíveis destacam a presença de várias manifestações oftálmicas, ainda que frequentes, associadas a esse vírus. Dada a carga atual da doença, tais sintomas devem ser reconhecidos pelos profissionais de saúde, aqui em destaque, os oftalmologistas.

Relatos descrevem várias manifestações oftalmológicas e que frequentemente envolvem a pele periorbitária, lembrando a erupção cutânea da Varicela-Zoster, afetando 25% dos casos. (6)

Conjuntivite e edema das pálpebras também podem ser comuns (ocorrendo em mais de 20% dos pacientes afetados) e resultaram em sofrimento substancial, mas temporário, para os pacientes afetados. (4, 6, 7, 11) Lesões focais na conjuntiva e ao longo das margens das pálpebras foram observadas com maior incidência entre os pacientes não vacinados. (12) Estudos também relataram que os pacientes, nos quais foi observada “conjuntivite”, apresentaram maior frequência sintomas como náuseas, calafrios/sudorese, úlceras orais, dor de garganta, mal-estar geral, linfadenopatia e fotofobia em comparação com aqueles sem relato “conjuntivite”.

Além disso, acredita-se que a conjuntivite é provavelmente preditiva do curso da doença. Outro estudo evidencia que 47% dos pacientes acometidos com conjuntivite relataram estar “acamados”, em comparação com 16% dos pacientes em que a “conjuntivite” não foi relatada. (11)

Sabe-se ainda que o envolvimento da córnea pode variar de leve a grave havendo descrições de cegueira uni ou bilateral secundária a infecção por Monkeypox. A fotofobia, isoladamente, foi relatada em aproximadamente 22% dos pacientes afetados. (6)  Além disso, infecções graves da córnea que podem resultar em formas graves de ceratite (observadas em 7,5% dos pacientes em um estudo), cicatrizes na córnea (observadas em 4% dos pacientes não vacinados e 1% dos casos previamente vacinados contra varíola) e visão permanente perda também foram relatados. (5, 6, 7, 12)

Uma lista completa das manifestações oftalmológicas do MPXV é fornecida na Tabela 1. (18)

Os benefícios potenciais de terapias relativamente simples para complicações oculares como o uso de lubrificantes ou antibióticos tópicos, podem ser considerados. (13) Destaque para a trifluridina, a medicação tem sido utilizada para tratar lesões da córnea associadas ao Orthopoxvirus. No entanto, não há evidências disponíveis de sua eficácia em casos de MPXV especificamente. (11)

A vacinação contra a varíola recebida até o final da década de 1970 parece também ser eficaz para a monkeypox. No entanto, pessoas com 50 anos ou menos podem estar mais suscetíveis já que as campanhas de vacinação contra a varíola foram interrompidas pelo mundo quando a doença foi erradicada em 1980. Segundo a OMS, novas vacinas foram desenvolvidas dentre as quais uma foi aprovada pela organização, no entanto não temos vacinas no Brasil ainda. (16)

A Organização Mundial De Saúde (OMS) emitiu um relatório que fornece uma visão geral global da situação epidemiológica da varíola, conforme relatado em 27 de outubro de 2022. O documento se concentra em casos confirmados em laboratório e totaliza 76.871 casos, 36 óbitos e 109 países reportados. Sendo que, a confirmação de um caso de varíola, em um país, é considerada um surto e o aparecimento inesperado da varíola em várias regiões na ausência inicial de ligações epidemiológicas com áreas da África Ocidental e Central, sugere que pode ter havido transmissão não detectada por algum tempo.

A OMS avalia o risco global como Moderado, e regionalmente, avalia o risco na Região Europeia e na Região das Américas como Alto e Moderado na Região Africana, Região do Mediterrâneo Oriental e Região do Sudeste Asiático. O risco na região do Pacífico Ocidental é avaliado como Baixo-Moderado. Após reunião em 21 de julho de 2022, tendo como pauta o surto multinacional de varíola dos macacos e considerando o Regulamento Sanitário Internacional (2005), o Diretor da OMS declarou este surto uma emergência de saúde pública de interesse internacional e emitiu recomendações temporárias.

Atualização da situação global mostra que os 10 países mais afetados globalmente são: Estados Unidos da América (n = 28.196), Brasil (n = 9.045), Espanha (n = 7.317), França (n = 4.094), Reino Unido (n = 3.698), Alemanha (n = 3.662), Colômbia (n = 3.298), Peru (n = 3.048), México (n = 2.654) e Canadá (n = 1.437). Juntos, esses países respondem por 86,4% dos casos notificados globalmente, sendo que os dados globais são coletados por fontes públicas. Esses dados são, em grande parte, casos agregados que foram relatados por fontes abertas e oficiais do país. (17)

 

Referências Bibliográficas

  • https://www.who.int/emergencies/situations/monkeypox-oubreak-2022
  • https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/monkeypox
  • https://saude.sp.gov.br/orientacoes-sobre-a-monkeypox/
  • Ježek Z, Szczeniowski M, Paluku K, Mutombo M. Human monkeypox: clinical features of 282 patients. J Infect Dis. 1987;156:293–8.
  • McCollum AM, Damon IK. Human monkeypox. Clin Infect Dis. 2014;58:260–7.
  • Ogoina D, Iroezindu M, James HI, Oladokun R, Yinka-Ogunleye A, Wakama P, et al. Clinical course and outcome of human monkeypox in Nigeria. Clin Infect Dis. 2020;71:e210–e4.
  • Farahat RA, Abdelaal A, Shah J, Ghozy S, Sah R, Bonilla‑Aldana DK, et al. Monkeypox outbreaks during COVID-19 pandemic: are we looking at an independent phenomenon or an overlapping pandemic? Ann Clin Microbiol Antimicrob. 2022;21:26.
  • Huhn GD, Bauer AM, Yorita K, Graham MB, Sejvar J, Likos A, et al. Clinical characteristics of human monkeypox, and risk factors for severe disease. Clin Infect Dis. 2005;41:1742–51.
  • https://portal.fiocruz.br/pergunta/quais-sao-os-sintomas-da-doenca
  • Velavan TP, Meyer CG Monkeypox 2022 outbreak: an update. Trop Med Int Health. 2022;27:604–5.
  • Hughes C, McCollum A, Pukuta E, Karhemere S, Nguete B, Lushima RS, et al. Ocular complications associated with acute monkeypox virus infection, DRC. Int J Infect Dis. 2014;21:276–7.
  • Ježek Z, Grab B, Szczeniowski M, Paluku K, Mutombo M. Clinico-epidemiological features of monkeypox patients with an animal or human source of infection. Bull World Health Organ. 1988;66:459.
  • Reynolds MG, McCollum AM, Nguete B, Shongo Lushima R, Petersen BW. Improving the care and treatment of monkeypox patients in low-resource settings: applying evidence from contemporary biomedical and smallpox biodefense research. 2017;9:380.
  • Damon IK. Status of human monkeypox: clinical disease, epidemiology and research. 2011;29:D54–D9.
  • Ruben FL, Lane JM. Ocular vaccinia: an epidemiologic analysis of 348 cases. Arch Ophthalmol. 1970;84:45–8.
  • https://www.conass.org.br/o-que-precisamos-saber-sobre-a-monkeypox/
  • https://worldhealthorg.shinyapps.io/mpx_global/
  • Tabela https://www.nature.com/articles/s41433-022-02195-z/tables/1
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