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A Tear Film and Ocular Surface Society (TFOS) acaba de divulgar o TFOS DEWS III Digest Report, publicado na edição de junho do American Journal of Ophthalmology. O relatório reúne os principais avanços científicos desde a publicação do DEWS II, em 2017, com foco em áreas como hormônios, gênero, epidemiologia, fisiopatologia, filme lacrimal, dor ocular, causas iatrogênicas e desenho de estudos clínicos.

Segundo a TFOS, o Digest foi criado como um complemento às futuras publicações do TFOS DEWS III Diagnostic Methodology e Management and Therapy, com contribuições de 80 especialistas de 18 países.

Avanços na compreensão da fisiopatologia e do filme lacrimal

Sob a liderança da professora Fiona Stapleton, da Universidade de New South Wales (UNSW Sydney), o relatório destaca progressos na diferenciação entre os dois principais subtipos da doença — olho seco evaporativo (EDE) e olho seco por deficiência aquosa (ADDE) —, além de avanços no entendimento da percepção de dor ocular.

Influência do sexo, gênero e hormônios

O relatório traz evidências importantes publicadas desde 2017 sobre como o sexo biológico e os hormônios influenciam estruturas como as glândulas lacrimais e de Meibômio, a espessura e sensibilidade da córnea, a frequência do piscar e o processo de reepitelização. Há ainda novos dados sobre a forma como os hormônios regulam a superfície ocular e estruturas anexas.

Os autores também alertam para a escassez de estudos que avaliem os impactos da terapia hormonal afirmativa de gênero na saúde ocular. Fatores como idade, comorbidades, adesão à terapia e acesso ao sistema de saúde complicam ainda mais a compreensão desses efeitos. A recomendação é que médicos e pesquisadores considerem essas variáveis em seus trabalhos.

“Houve avanços significativos na pesquisa que conecta sexo, hormônios e gênero à Doença do Olho Seco. Envelhecimento, câncer e terapias hormonais tornaram esse campo cada vez mais interdisciplinar”, observam os autores.

Dados epidemiológicos e lacunas ainda abertas

O Digest confirma a maior prevalência da doença em mulheres, especialmente com o avanço da idade. Em mulheres adultas jovens e idosas, os sintomas tendem a ser mais intensos. No entanto, ainda faltam dados robustos sobre:

  • Gravidade e progressão da doença por faixa etária
  • Variações geográficas
  • Prevalência em pacientes com menos de 40 anos
  • Estudos consistentes sobre fatores de risco em populações mais jovens

Composição do filme lacrimal e biomarcadores promissores

O documento também aponta áreas promissoras para pesquisas futuras:

  • Papel dos lipídios organizados e desorganizados no comportamento do filme lacrimal
  • Uso de biomarcadores lacrimais para classificar subtipos da doença
  • Influência do microbioma ocular em diferentes etnias e regiões
  • Potencial dos microRNAs como marcadores da Doença do Olho Seco

Causas iatrogênicas: diagnóstico e alternativas terapêuticas

Entre os fatores iatrogênicos, ganham destaque os colírios para glaucoma, especialmente os que contêm conservantes, excipientes e antibióticos, além da terapia hormonal de reposição.

“O primeiro passo é identificar qual medicação está provocando a Doença do Olho Seco e, se possível, interromper seu uso”, recomendam os autores. No entanto, isso nem sempre é simples — principalmente quando suspender o tratamento representa riscos ao paciente, há múltiplos fármacos envolvidos ou os efeitos adversos surgem tardiamente.

 

Referências

Stapleton F, Argüeso P, Asbell P, et al. TFOS DEWS III Digest Report. Am Journ of Opthalmol. 2025. https://doi.org/10.1016/j.ajo.2025.05.040

TFOS dry eye workshop (DEWS) III: completed! Tear Film and Ocular Surface Society. News release. https://www.tearfilm.org/dettnews-tfos_dry_eye_workshop_dews_iii_completed/7450_16/eng/

 

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