A estimativa da OMS (Organização Mundial da Saúde) é de que entre 2020 e 2050 a alta miopia cresça 89% no Brasil e 49% no restante do mundo. A pandemia de coronavírus pode estar fazendo o Brasil superar esta estimativa. Para se ter ideia, divulgação da secretaria de saúde de Brasília mostra que os atendimentos de crianças com miopia na rede pública hospitalar aumentaram 39% neste período. Para o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto do Instituto Penido Burnier este aumento está relacionado a muitas horas com os olhos grudados em telas digitais. Isso porque, um levantamento feito pelo médico no hospital com 360 crianças mostra que o uso de celular e outras tecnologias por horas ininterruptas provoca miopia acomodativa, uma dificuldade temporária de enxergar à distância. Outra causa apontada pelo oftalmologista é a falta de exposição ao sol. Isso porque, um estudo inglês realizado com 3 mil adolescentes revela a prevalência 25% menor de miopia entre os que ficam mais tempo ao ar livre.
Os vícios de refração – miopia, hipermetropia e astigmatismo – sem correção respondem por mais de 50% das deficiências visuais no Brasil segundo a OMS Em parte, a falta de correção está relacionada à ausência de acompanhamento médico e em parte à vaidade Queiroz Neto afirma que a miopia e a presbiopia são os problemas de refração que mais crescem no País. Os prontuários do hospital mostram que 4 em cada 10 mulheres não gostam de usar óculos.
Caso da cabeleireira Daiane Balestrin, de 27 anos, portadora de 5 graus de miopia, dificuldade de enxergar de longe, mais 6 de astigmatismo, visão distorcida por irregularidades na córnea (lente externa do olho). Ela conta que os óculos tinham lentes grossas e deixavam sua autoestima literalmente no chão. “Eu até tinha lente de contato, mas no meu trabalho não dava para usar”, afirma. O calor e a fumaça de alguns tratamentos deixavam os olhos dela muito irritados. Chegou a ter uma infecção na córnea e perdeu a lente de contato. Passou por vários oftalmologistas, mas só sentiu segurança em operar com Queiroz Neto. “A cirurgia era um sonho de vida. Ele foi muito sincero. Me explicou toda a cirurgia e avisou que eu podia ficar com algum grau depois da operação, mas não fiquei”, afirma. Além do ganho em qualidade de vida está fazendo uma boa economia. “Antes tinha de trocar os óculos e lentes de contato anualmente. Agora não tenho mais este gasto”, comenta.
A cirurgia
Queiroz Neto afirma que o laser pode corrigir graus leves e moderados de vícios refrativos, remodelando a córnea. Nos últimos anos a precisão do laser evolui muito e a técnica se tornou menos invasiva. “Esta evolução e a estabilidade do grau de Daiane antes da cirurgia permitiram que ela não ficasse com algum grau residual , explica. O laser só é indicado para quem tem boa espessura de córnea, mais de 21 anos e estabilidade de grau, salienta.
Presbiopia
O oftalmologista afirma que o laser também pode corrigir simultaneamente a presbiopia. Quem nunca viu um míope com mais de 45 anos tirar os óculos para ler? Isso acontece porque a partir desta idade surge a presbiopia ou vista cansada que diminui a visão de perto. Sem a correção da miopia a visão proximal melhora, explica. “Por isso, a correção cirúrgica simultânea da miopia e presbiopia deixa um olho do paciente com algum grau de miopia e o cérebro se encarrega de tornar nítidas as imagens de perto e de longe. Esta técnica, conhecida como monovisão, não é nova, mas com certeza, hoje é mais precisa, afirma.
Anvisa aprova novo implante para altos míopes
A boa notícia é que a ANVISA recentemente aprovou uma nova lente intraocular que é implantada no olho sem a retida do cristalino. O implante corrige até 20 graus de miopia, 10 de hipermetropia e 6 de astigmatismo. A lente é implantada entre a íris, parte colorida do olho e o cristalino. Há evidências de que pode reduzir a cegueira causada por descolamento da retina mais frequente na alta miopia. Uma metanálise da Cochrane mostra que este implante é mais seguro que usar lente de contato. A cirurgia só pode ser feita em grau estabilizado, é contraindicada em olhos com glaucoma, câmara posterior rasa, alterações na córnea ou retina conclui Queiroz Neto
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