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Você provavelmente já deve ter ouvido falar de daltonismo, uma anomalia visual que interfere na diferenciação das cores. Várias pessoas apresentam esse problema. Para citar alguns famosos, a atriz Ana Furtado, que até falou sobre o assunto no início de 2020; o príncipe William, da Inglaterra; o ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton e o criador do Facebook Mark Zuckerberg, que confunde as cores verde e vermelha. No entanto, a maioria dos daltônicos vive no anonimato. Apesar disso, os daltônicos não enxergam todos exatamente da mesma forma, pois a própria condição deles, também conhecida por discromatopsia ou discromopsia, apresenta variações.
 
Quando as cores confundem
Em condições normais, o ser humano enxerga as cores vermelha, verde e azul e suas demais combinações. Para o daltônico, essas cores são alteradas ou estão ausentes. Geralmente, em cerca de 80% dos casos, os tons mais difíceis de serem distinguidos pelos daltônicos são o verde e vermelho e suas nuances. Não tão comum, eles também enfrentam dificuldades com o azul e o amarelo e, mais raramente, enxergam apenas em tons de preto, branco e cinza.
A visão desses últimos é classificada como monocromática ou acromática, sendo rara”, informa Minoru Fujii, oftalmologista do Hospital Cema, em São Paulo. O médico acrescenta que os demais daltônicos estão distribuídos entre dicromatas (não conseguem identificar uma das três cores primárias) e tricomatas anômalos (possuem todos os receptores de cor, mas um deles com alterações).
O daltonismo pode ainda se dividir em três tipos de deficiência, que pode ser parcial (protanomalia, deuteranomalia e tritanomalia) ou total (protanopia, deuteranopia e tritanopia).
Na primeira, a cor mais afetada é o vermelho, que pode ser enxergado desbotado, alterado ou sem pigmento. Esse tom então fica puxado para o marrom, cinza ou verde. O efeito da protanopia ou protanomalia, em partes, se parece com o da segunda deficiência.
Na deuteranomalia ou deuteranopia, as cores também acabam pendendo para o marrom e o verde é o mais difícil de ser enxergado. Por fim, a terceira versão de daltonismo modifica os tons de azul e amarelo. Enquanto o azul pode ficar parecido com o verde ou até bege, o amarelo ganha uma aparência de rosa-claro ou violeta e o laranja não é identificado.
O que está por trás da anomalia?
Quase sempre a causa do daltonismo é genética, o que faz dele também hereditário, e está relacionada com uma disfunção cromossômica. “Além de determinar o sexo na espécie humana, os cromossomos sexuais X e Y podem conter genes com variantes patogênicas que codificam algumas doenças, sendo o daltonismo ligado ao cromossomo X”, explica Marina Ciongoli, oftalmologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Repassada de um ou ambos os pais para o filho, que já nasce daltônico, essa alteração então atinge células visuais chamadas cones, responsáveis pela visão diurna e que absorvem as cores. Os cones podem estar presentes, mas com alterações, ou em quantidade insuficiente e até ausentes.
A mutação também pode afetar mais facilmente os homens, como citado estatisticamente no início. É que enquanto as mulheres recebem dois cromossomos X, os homens acabam recebendo um X e um Y. E isso conta no daltonismo, pois se elas têm dois cromossomos iguais, se um deles não tiver o problema acaba compensando o outro, alterado. Com os homens, essa “regulagem” feita pelo organismo já não funciona.
Por outro lado, mulheres podem ser daltônicas se receberem de ambos os pais cromossomos X com o distúrbio, e mesmo que só um dos cromossomos tenha sido afetado e naturalmente compensado, pode ser repassado para a geração seguinte. O daltonismo, quando não tem relação com a genética, o que é bem difícil, ainda pode ser consequência de doenças ou problemas de retina, danos físicos nos olhos, tumores cerebrais e até lesões neurológicas.
Diagnosticar é possível, mas a cura…
Saber se tem ou não daltonismo é relativamente simples e, geralmente, se descobre quando é filho de daltônicos ou percebe que identificar cores é uma tarefa complicada e elas divergem do que é visto por outras pessoas.
 
No oftalmologista, o paciente é submetido a um dos seguintes exames: anomaloscópio de Nagelan, lãs de Holmgren ou teste de Ishihara, sendo o último o mais empregado, afirma Lísia Aoki, oftalmologista do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).
“Nele, são usados cartões com letras ou números formados com círculos coloridos e por meio de uma sequência de vários deles nós conseguimos definir se o paciente tem daltonismo ou não”, informa a médica. 
No caso das crianças muito pequenas e que não sabem ler ou contar, esses cartões têm desenhos. “Não é um exame de rotina, pois não enxergar cor não prejudica a visão. Em geral, o teste só é realizado quando solicitado”, complementa Aoki.
Quanto à cura, ainda não foi encontrada. O que existe são lentes com filtro de cor que podem aliviar um pouco a percepção dos daltônicos. Porém, esses acessórios não funcionam para todos os casos e somente devem ser usados com prescrição médica. 
Mas mesmo sem eles, nada impede de os daltônicos levarem uma vida normal. Eles podem inclusive dirigir e trabalhar como motoristas. Para isso, só precisam dominar a posição das luzes do semáforo e os sinais de trânsito.
O daltonismo também não causa danos à saúde e nem se agrava com o tempo. É no máximo um fator limitante para algumas profissões que envolvam afinidade com tonalidades.

Fonte: VivaBem – Uol

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