As conjuntivites ou olho vermelho são uma apresentação de várias doenças oftalmológicas. O médico generalista deve lembrar que a síndrome do olho vermelho pode ser um sinal de sérias condições como uveítes, ceratite ou esclerite, mas também pode ser secundário a condições mais benignas como as inflamações da conjuntiva ou hemorragias subconjuntivais.
Em uma metanálise recente foi visto que a anisocoria e a fotofobia leves estão significativamente associadas às condições mais graves (em 59% dos casos), incluindo uveíte anterior e ceratite.
Conjuntivites infecciosas e não infecciosas
A história é muito importante. Início e duração dos sintomas, lateralidade, se afeta a visão, se espirra, se coça os olhos, se usa lentes de contato, se teve contato com pessoas com infecção respiratória superior, sinusite e linfadenopatia, episódios prévios de conjuntivite, alergias sistêmicas e medicação em uso e se houve exposição a agentes químicos.
A presença de sinais como febre, fadiga, linfonodos pré-auriculares e submandibulares e o contato com outros indivíduos com conjuntivite ajuda no diagnóstico de conjuntivite infecciosa. Deve ser avaliado o tipo de secreção e na biomicroscopia é possível avaliar a superfície ocular, incluindo a conjuntiva palpebral e a presença de pseudomembranas, simbléfaro, papilas, folículos e a presença de opacidades ou infiltrados corneanos.
A conjuntivite alérgica muitas vezes é subdiagnosticada e, dessa forma, não tratada. Está presente quadro de prurido ocular, quemose (edema conjuntival), hiperemia ocular sem envolvimento corneano. Comumente a quemose é muito mais importante que a hiperemia.
O principal achado na ceratoconjuntivite vernal é a presença de papilas gigantes na conjuntiva tarsal superior acompanhada de coceira importante. Já a presença de ulcera conjuntival e catarata subcapsular anterior falam a favor de ceratoconjuntivite atópica.
Outra condição conhecida como conjuntivite tóxica crônica pode se apresentar com secreção aquosa, reação papilar inicial seguida de reação folicular, erosão epitelial punctata e dermatite palpebral.
Como distinguir a conjuntivite bacteriana da conjuntivite viral?
Predizer a etiologia baseado em sinais e sintomas pode nos fazer errar de vez em quando. Em um estudo realizado em centro com especialistas em doenças da superfície ocular, a taxa de acurácia foi de apenas 48% em acertar o diagnóstico correto da conjuntivite adenoviral.
Alguns estudos já mostraram que bactérias são isoladas somente em 50% dos casos em que o diagnóstico presumido era de conjuntivite bacteriana. De acordo com os maiores livros textos de oftalmologia, o envolvimento de um olho seguido do segundo olho dentro de 24-48h é indicativo de infecção bacteriana, enquanto se esse prazo for maior que 48h com um linfonodo periauricular presente, deveria ser considerada a etiologia viral.
Além disso, a reação papilar ou a conjuntivite pseudomembranosa sugeriria origem bacteriana, enquanto a reação folicular indicaria a etiologia viral. De acordo com uma metanálise de 2003, a combinação de edema palpebral bilateral, sem prurido e sem historia previa de conjuntivite seria um preditor de conjuntivite bacteriana. O tipo de secreção (purulenta, mucosa, aquosa) ou outros sintomas não são específicos para nenhum tipo de conjuntivite.
Outra metanálise mais recente evidenciou que pacientes com secreção purulenta ou olho vermelho leve a moderado tem menos chance de se beneficiar de antibióticos tópicos. Esse achado mostra como a correlação entre sinais e sintomas e a etiologia podem não ter significado. Um estudo de 2013 encontrou correlação forte entre culturas positivas para bactérias em pacientes que acordavam com as pálpebras coladas pela manhã e com idade superior aos 50 anos.
Referências bibliográficas:
Azari A, Arabi A. Conjunctivitis: A Systematic Review. J Ophthalmic Vis Res. 2020 Jul-Sep; 15(3): 372 395. Published online 2020 Jul 29. doi: 10.18502/jovr.v15i3.7456
Fonte: PebMed