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Por Marina Almeida
Em abril, a Alcon anunciou sua estreia como uma empresa independente, de capital aberto, e concluiu a separação da Novartis. As ações da companhia começaram a ser negociadas na SIX Swiss Exchange e na New York Stock Exchange (NYSE) sob o símbolo “ALC.” em 9 de abril. O cuidado com os olhos é um mercado de aproximadamente US$ 23 bilhões por ano e cresce a uma taxa anual de cerca de 4%. No último ano, a Alcon acumulou vendas de US$ 7,1 bilhões, sendo US$ 4 bilhões na divisão cirúrgica – um aumento de 7% cento em relação ao ano anterior – e US$ 3,1 bilhões em cuidados com a visão – crescimento de 3%.
Como uma empresa independente, a Alcon terá mais foco e flexibilidade em prosseguir sua própria estratégia de crescimento, orientada pela rápida inovação. Em entrevista à Universo Visual, Luciano Marques, que está há quatro anos no comando da Alcon no Brasil, fala sobre a independência da Alcon perante a Novartis, como fica a relação com os oftalmologistas e as expectativas para o mercado nacional.
Universo Visual: Depois de ter passado por momentos turbulentos, como está a Alcon neste momento, se desligando do Grupo Novartis?
Luciano Marques: O dia oficial do spin-off global foi 9 de abril. Na prática, muitos processos ainda estão acontecendo porque para uma empresa fazer uma cisão e sair de outra envolve legislação, aspectos regulatórios e processos, e isso leva tempo. Acredito que o spin-off 100% no Brasil passa a ser no final deste ano, início de 2020, quando conseguiremos migrar tudo para a nova empresa. 
Mas já desde o primeiro dia a gestão estratégica e operacional é 100% da Alcon, não há mais nenhuma influência da Novartis. São duas empresas totalmente independentes. Até porque nossos papeis agora são ações Alcon em Nova Iorque e Suíça. 
UV: Como foi chegar nesse dia?
Marques: O dia chegou, mas já temos trabalhado nele há bastante tempo. Estamos digerindo e curtindo essa independência há algum tempo e preparando para que acontecesse sem nenhum impacto para todos os clientes. Dia 9 de abril é uma data de celebração, um marco histórico. Nos últimos trimestres, a Alcon foi a divisão que cresceu igual ou acima do resultado do Grupo Novartis. Construímos essa saída de forma planejada, com bons resultados para que o mercado recebesse essa nova empresa da melhor forma possível. O grande objetivo é que o pessoal que está mais próximo ao cliente nem perceba que essa mudança aconteceu, e o cliente menos ainda.
UV: Então o oftalmologista nem sentirá mudanças no relacionamento com a empresa?
Marques: O oftalmologista não precisa ter preocupação alguma porque tudo o que está bom irá continuar, e o que pudermos melhorar, vamos melhorar. Nada vai retroceder. E aproveitaremos este momento para revisar muitos dos nossos processos e ver quais as oportunidades de fazer diferente, melhor, e isso começa agora. 
UV: A Alcon sempre investiu em pesquisa e inovação. Como fica a partir de agora?
Marques: O compromisso de investimentos continua. E até se olharmos os últimos dois ou três anos, a quantidade de lançamentos que trouxemos para o Brasil é um exemplo real desse compromisso. Como a Clareon, nova plataforma de lente intraocular da Alcon para substituir a AcrySof, que tem mais de 100 milhões de lentes implantadas e é a mais usada no mundo. Então viemos em uma aceleração para trazer novidades para o mercado, não aceleramos a partir de 9 de abril, mas sim demos continuidade a esse foco e tiramos proveito da independência. Isso quer dizer que qualquer decisão que se tomar na Alcon hoje é para oftalmologia, não está diluída em outras áreas de saúde.
Um dos grandes exemplos de inovação, foi a inauguração do Alcon Experience Center no fim de 2018, sendo o primeiro centro de experiências em oftalmologia do Brasil e o quinto da Alcon no mundo. 
UV: Como fica a atuação da Alcon na área de glaucoma?
Marques: Os produtos de glaucoma ficaram na Novartis. Eles não são portfólio da Alcon. Desde 2016, por decisão do grupo, se entendeu que haveria mais sinergia transferi-los para a divisão de medicamentos da Novartis. 
UV: O que o oftalmologista pode esperar?
Marques: Atualmente a empresa tem dois grandes focos de negócios: o cirúrgico, que envolve as lentes intraoculares e também toda a parte de equipamentos, seja retina, refrativa, catarata, e todos os consumíveis que se utilizam na parte cirúrgica. E toda a infraestrutura que está por trás disso, os consultores cirúrgicos e assistência técnica. E que mobiliza cerca de 65% das receitas da companhia no país.
Outro foco é a divisão Vision Care, que gera 35% de receita para a companhia, e que inclui soluções para limpeza de lentes de contato, vitamina ocular e o portfólio de lágrimas artificias, cuja grande estrela é o Systane. E devemos trazer muitos produtos para lançar no mercado brasileiro porque existe uma família completa de Systane lá fora, e o olho seco é uma patologia que está crescendo muito por causa de novos hábitos, como o uso excessivo de telas, por exemplo.
Nós da Alcon, temos um compromisso muito grande em trazer inovações, tanto que acabamos de comprar uma empresa focada em olho seco, não em colírio, mas em tratamento e diagnósticos. Assim nossa presença em olho seco não está somente no colírio, mas em tudo que existe para melhorar essa condição no paciente. 
UV: Em termos mundiais, o que representa a Alcon Brasil para a Alcon global?
Marques: A Alcon Brasil é muito relevante porque estamos entre os top 10. Claro que há mercados muito consolidados, como o americano, que tem uma grande diferença em relação aos outros países, mas o Brasil é o maior da América Latina. Com isso, há muita visibilidade em tudo o que fazemos aqui e temos muito suporte também. Os investimentos acontecem no Brasil por conta dessa representatividade. 
UV: Para encerrar, quais as expectativas da companhia para este ano, com as mudanças políticas e econômicas?
Marques: Acho que o cenário já é melhor do que antes da eleição. Agora existe otimismo. Quando olhamos números internos percebemos que há aumento no volume cirúrgico, e em investimentos por parte da oftalmologia no país. Tudo isso é muito positivo. 
Estamos muito focados em três pilares: inovação, serviço e oftalmologia. Como empresa independente, não há distração. Subimos nos últimos anos um pouco a barra para trazer inovação. Existe uma série de produtos que já estão a caminho, alguns já com registros outros em fase de aprovação. Este ano ainda teremos o lançamento do nosso microscópio, de soluções na parte cirúrgica, e vamos trazer novas lentes de contato, como para tratamento de astigmatismo. Quanto ao serviço, que não é menos importante, temos a oportunidade de melhorar ainda mais. Entendemos que melhorando o serviço, também contribuiremos para o crescimento do setor. 

Fonte: Universo Visual

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