Por Carolina Leal – Médica graduada pela Universidade do Grande Rio; Residente de Oftalmologia na Universidade Federal Fluminense; Médica do Hospital Naval Marcílio D
Ceratocone é uma desordem progressiva em que ocorre afinamento do estroma corneano central ou paracentral, acompanhado de protrusão apical e astigmatismo irregular. Aproximadamente 50% dos olhos contralaterais normais desenvolverão ceratocone. Na maioria dos casos, ambos os olhos são, possivelmente, afetados, pelo menos na imagem topográfica.
Pode ser classificado pelo eixo mais alto do poder corneano na ceratometria como leve (< 48 D), moderado (48-54 D) ou grave (> 54 D).
A prevalência de ceratocone é por volta de 50 a 230 por 100 mil habitantes. A maioria dos pacientes não tem história familiar, com cerca de apenas 10% dos descendentes desenvolvendo ceratocone; tem sido proposta transmissão autossômica dominante com penetrância incompleta.
Aparentemente não existe nenhum agente que influencie a progressão do ceratocone. Vários estudos foram realizados para tentar predizer a progressão ou identificar fatores de risco para transplante. A apresentação se dá, frequentemente, durante a adolescência ou na casa dos 20 anos, inicialmente com achados em apenas um dos olhos.
As possíveis causas da doença são mudanças bioquímicas, físicas e moleculares na córnea, entretanto, não há indícios que comprovem concretamente a etiologia do ceratocone. As principais suspeitas para o surgimento da manifestação oftalmológica são uso prolongado de lentes de contato, frequente fricção dos olhos e doenças hereditárias, atópicas e algumas sistêmicas.
O diagnóstico para avaliar a gravidade do ceratocone é realizado por meio da análise retinoscopia e biomicroscopia, deve ser investigada a presença de afinamento da córnea localizado, anel de Fleischer, sinal de Munson, sinal de Rizzuti e estrias de Vogt).
O diagnóstico mais eficaz é por tomografia nas formas iniciais do ceratocone. O tratamento depende do grau de severidade, iniciando pelo uso de óculos. Correção com óculos em casos muito precoces pode corrigir astigmatismo regular e graus muito baixos de astigmatismo irregular, o qual nem sempre é possível, especialmente nos casos em que há astigmatismo irregular e/ou protrusão de grande magnitude.
Com a progressão da doença as irregularidades da córnea impedem os óculos de proporcionarem uma visão satisfatória. As lentes de contato estão indicadas e geralmente proporcionam boa visão. As lentes de contato proporcionam uma superfície refrativa regular sobre o cone. Dentre as lentes de contato, as mais utilizadas são lentes de contato rígidas gás permeáveis (LCRGP), que além de corrigir o astigmatismo irregular, proporcionando melhora da acuidade visual possuem alta permeabilidade ao oxigênio.
Nos estágios mais avançados, em que as lentes de contato não mais proporcionam acuidade visual satisfatória ou a adaptação tornam-se impraticável, mesmo considerando os modelos especiais, como as de diâmetro reduzido, a terapêutica cirúrgica deve ser indicada. Ligação cruzada de colágeno corneano (crosslinking), usando colírio de riboflavina para fotossensibilizar o olho, seguida de exposição à luz ultravioleta A, pode estabilizar ou mesmo reverter a ectasia, mas isso não é isento de efeitos adversos.
Implante intracorneano de segmento de anel, usando laser ou criação mecânica de um canal, é relativamente seguro e, normalmente, proporciona, pelo menos uma moderada melhora da visão, facilitando a tolerância a lentes de contato nos casos avançados.
Ceratoplastia, seja penetrante ou lamelar profunda anterior (DALK), pode ser necessária em pacientes com doença grave. História de hidropsia contraindica DALK. Essas novas técnicas cirúrgicas como crosslinking, o implante de segmentos de anéis intraestromais, lentes fácicas, e técnicas de fotoablação são capazes de adiar ou mesmo evitar o transplante.
Fonte: PEBMED