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Por Cristiane Souza
 
Esse foi só o primeiro dos cinco municípios da calha do Rio Madeira a serem atendidos nesta missão humanitária no interior da Amazônia. Ainda na noite de domingo, 14, médicos voluntários e representantes das empresas parceiras partiram no navio da Marinha para dar continuidade aos atendimentos nas cidades de Manicoré, Novo Aripuanã, Borba e Nova Olinda do Norte, onde será finalizada esta edição da atividade, em 21 de abril. A expectativa, ao fim dos trabalhos, é realizar até 500 cirurgias e entregar cinco mil óculos.
Os números do projeto surpreendem, afinal, já são mais de 30 mil pessoas atendidas com assistência especializada e prescrição de medicamentos, doação de mais de 20 mil lupas para perto e intervenções cirúrgicas que superam os dez mil. Vice-reitor da Ufam e coordenador do programa, o professor Jacob Cohen ressalta a importância da iniciativa para essas populações, cuja demanda por especialistas é crescente. “A situação se agrava ainda mais por conta da exposição contínua aos raios ultravioleta nesta região. Além disso, devido ao abandono, muitas pessoas convivem com a doença durante cinco, oito, dez anos”, avalia o professor Cohen, quanto à incidência da catarata na população do interior do Amazonas.
Francisco Gomes da Silva, aposentado de 78 anos, teve a oportunidade de voltar a enxergar depois de 13 anos de perda de visão evoluindo de uma catarata nigra, o tipo mais duro e de difícil remoção. “Ela começou um pouco fraquinha, só embaçando a minha vista, mas depois foi piorando. Foi quando eu vim pra Humaitá. Aqui me ensinaram muitas receitas de remédio caseiro, mas fez foi piorar, aí eu tive que parar de trabalhar desde 2014. Eu vim morar com o meu filho, mas eu não tinha quem me ajudasse a fazer as minhas coisas. E hoje eu saio com muito alívio no coração, porque eu já consigo ver as coisas melhor. Eu estou tão feliz de poder voltar para a minha casa, em Boa Vista do Madeira. Quando eu chegar lá, vou plantar roça e plantar banana também. Vou voltar a fazer as coisas que eu gosto nessa vida”, comemora ele.
Felicidade em igual medida sentiu a costureira Eluiza Nunes Góes, que, aos 66 anos, já faz planos de voltar ao ofício. Ela recebeu um par de óculos de grau 3,5, doado pela empresa Lupas Leitor, parceira nessa missão desde 2014. “Eu costuro há uns 40 anos, e eu já uso óculos desde os vinte e seis anos. Os óculos que eu tenho em casa não está servindo mais para eu fazer as minhas costuras e eu ainda não tive condições de fazer um particular. Fiquei sabendo que tinha esta doação pelo meu irmão, que conseguiu óculos, e vim ver se eu conseguia. Agora, eu vou conseguir costurar melhor”, prospectou Eluiza.
A distribuição dos óculos só foi possível após a adesão da Lupas Leitor ao projeto, ainda no ano de 2014. Desde então, Jean e Ana Jankovsky têm acompanhado as missões ao interior do Amazonas. Juntos, eles coordenam a distribuição de cerca de cinco mil lupas para perto a cada viagem, o que ajuda a amenizar o cansaço da visão, mais comum pela falta de proteção dos olhos contra a luz solar direta, como é aqui nesta região. “A perda de visão de perto atinge cerca de 50% da população a partir dos 40 anos. E é uma tecnologia muito simples, porque a visão cansada é algo que pode acontecer naturalmente pela idade”, explica Jean Jankovsky.
Parcerias & resultados
Não há dúvidas de que o binômio know how dos profissionais e qualidade técnica dos equipamentos é o segredo para o sucesso da operação ao longo desses anos. A equipe médica que atua nesta edição é composta pelos oftalmologistas Lincoln Freitas, Marcos Cohen, Walton Nosé, Ricardo Nosé, Bárbara Clemente e Fernando Drudi, e pelos anestesistas Lenilson Moreira Filho e Gustavo Saraiva. Os especialistas atuam nas seguintes instituições, parceiras do programa Oftalmologia Humanitária: Fundação Piedade Cohen (Fundapi), Instituto da Visão (Ipepo), Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina (Unifesp/EPM) e Eye Clinic.
“Tem quase dez anos que eu participo do projeto e a minha função é operar. Sou cirurgião oftalmológico que faço tanto as cirurgias de catarata quanto as de pterígio. E nós usamos tecnologia que está disponível nos melhores centros do mundo”, explica o médico. “Todos os médicos vieram voluntariamente na missão de ajudar a pessoas que estão precisando. A gente já realizou milhares de cirurgias e, em todas as expedições de que eu participei tivemos resultados excelentes, tanto para a população quanto cirurgicamente”, afirma o médico Ricardo Nosé, da EPM e Eye Clinic, cujo pai, professor Walton Nosé, é um dos entusiastas do projeto desde o fim dos anos 1980, ao lado dos professores Jacob Cohen e Rubens Belfort Jr.
Parcerias promissoras
A Marinha do Brasil, cuja adesão ao programa ocorreu em 2017, por meio da Sociedade Amigos da Marinha (Soamar), hoje tem um papel fundamental no programa, garantindo a segurança da operação e o transporte de equipamentos e insumos utilizados nas cirurgias e das lupas para doação, estas fornecidas pela Lupas Leitor. “Nesta comissão, a Marinha, por meio do navio de assistência hospitalar Soares de Meirelles, além de fazer diversos atendimentos básicos de saúde, apoia na triagem para as cirurgias, na distribuição dos óculos e também na logística, transportando os médicos para os municípios atendidos. Esta é a terceira vez que integramos esse programa, que é muito importante para a sociedade local”, resumiu o vice-almirante Paulo César Colmenero Lopes, comandante do 9º Distrito Naval.
Atuando pela primeira vez na missão, a Johnson & Johnson ficou responsável pelo suporte técnico de equipamentos e materiais utilizados nos procedimentos cirúrgicos. “Abraçamos este projeto por entender que as pessoas que serão beneficiadas não têm a assistência de que necessitam na área oftalmológica. Então, a empresa está fornecendo todo o aparato de equipamento, de lente intraocular e os insumos cirúrgicos para que os médicos possam fazer todos os exames e, para aquelas pessoas que precisam da cirurgia, já saírem daqui operadas da catarata. Esse procedimento cirúrgico está bem evoluído, e as lentes dobráveis são introduzidas no olho através de micro incisões. Dessa forma, a população tem acesso ao que há de mais moderno na área da cirurgia oftalmológica”, explica o engenheiro Márcio Messias, que prestou todo o suporte na montagem e na preparação dos equipamentos.

Fonte: Universidade Federal do Amazonas

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