Perpetuando o amor pelo cuidar e ensinar
Oftalmologista, oftalmopediatra e um pouco terapeuta. É assim que se autodefine a médica de Belém (PA) Luciana Almeida Morais que, desde cedo, inspirada pela profissão dos pais, já se interessava no cuidado da saúde das pessoas, sobretudo dos pequenos. Conciliando o trabalho no atendimento oftalmológico com a carreira na docência, pela qual também é apaixonada, ela diz que somente é possível ter uma vida bem-sucedida quando se compreende que a mesma é feita de ciclos.
Luciana comenta que sua infância foi cercada por médicos (do corpo e da alma). “Meu pai sempre foi um apaixonado pela oftalmologia. Lembro que em casa tínhamos uma TV e dois videocassetes para editar as cirurgias; dessa maneira, o olho, esse órgão-universo tão pequeno e imenso ao mesmo tempo, sempre foi o foco da minha admiração”, revela a especialista, explicando que a mãe, psicóloga, mostrou que a cura também está na escuta ativa e no acolhimento da dor. “E isso fez toda a diferença na minha carreira”, acrescenta.
“Minha mãe conta que com cinco anos eu dizia que seria médica de crianças. Na faculdade, fiz estágio de obstetrícia por três anos, ajudava no parto e depois corria para o neonatologista no intuito de também aprender sobre o atendimento do recém-nascido”, relembra a oftalmologista, salientando que a oftalmopediatria une tudo o que ela mais gosta. “Atendo crianças e acolho sua família. Trabalho na promoção da saúde visual, na prevenção e tratamento das doenças oftalmológicas na infância”, diz Luciana. Outra grande paixão é a docência. “Assim, perpetuo meu amor pela profissão e a especialidade”, enfatiza.
Uma vida feita de ciclos
Sobre a questão de conciliar carreira e família, Luciana afirma que, mesmo nos dias atuais, existe uma visão de que a mulher precisa atuar em vários âmbitos da vida (carreira, casa, filhos, marido etc). “Eu ouvi uma fala do psicólogo Luiz Hanns, na Casa do Saber, que foi bastante libertadora para mim com relação a essa conciliação, e o tema da apresentação dele era ‘não procure por uma vida equilibrada’”. A médica conta que Hanns realizou um estudo com seus alunos de psicologia para saber quanto tempo as pessoas deveriam dedicar seu tempo às diversas atividades de suas vidas (exs.: quanto tempo deve-se dedicar na organização financeira; quanto tempo deve-se dedicar a atividades físicas etc).
“E assim foi com todos os requisitos de uma vida de bem-estar e equilíbrio. E foi muito interessante porque, no final dessa pesquisa, quando eles juntaram todo o tempo necessário para se dedicar a todas às atividades, deu que era preciso 48 horas para conseguir fazer tudo, ou seja, nós não temos tempo suficiente no dia a dia para manter uma vida equilibrada”, analisa, salientando que a conclusão de Hanns foi que as pessoas precisam entender que a vida é feita de ciclos e que cada ciclo irá exigir um tempo maior para uma atividade ou outra. “Portanto, não vamos conseguir aquilo que se entende por uma vida bem-sucedida e equilibrada, a menos que a gente entenda que a vida é feita de ciclos”, avalia.
Para Luciana, as mulheres já conquistaram seu espaço na Oftalmologia Brasileira. “Só falta mesmo a presidência do Conselho Brasileiro de Oftalmologia” (risos). Entre 2021 e 2022, ela coordenou a 8ª Turma do Curso de Desenvolvimento de Lideranças do CBO, em que os alunos participam de encontros presenciais e virtuais, debates, atividades didáticas e sociais e desenvolvem um trabalho no qual analisam um problema relacionado à saúde ocular da população, ou à defesa das prerrogativas profissionais do médico oftalmologista, ou ainda ao funcionamento de entidades representativas da especialidade.
A médica revela que a atividade lhe deu enorme gratificação. “Achei que coordenar a 8ª turma seria um desafio. E foi! Foi um caminho de autoconhecimento e engrandecimento. Amizades e projetos belos e sólidos”, observa a oftalmologista. “Crescemos juntos (alunos e coordenadores) e assim o CBO também cresceu”, completa. A especialista enfatiza que estar próxima dessas pessoas que batalham pela Oftalmologia Brasileira em todos os âmbitos, da saúde ocular da população até o cuidado com o médico-oftalmologista foi encantador. “Quem vivencia essa experiência não quer mais deixar de estar ali”, declara. Quanto aos projetos para este ano, ela conclui: “Entendendo os ciclos da vida e me permitindo NÃO viver uma vida em equilíbrio, estarei mais focada em cuidar da família.”
Curso de Lideranças do CBO
O Curso de Desenvolvimento de Lideranças do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) tem por objetivos proporcionar orientação e desenvolver competências necessárias para líderes potenciais na Oftalmologia tanto estadual quanto nacional; facilitar a promoção dos alunos em posições de influência tanto nacional quanto internacional; desenvolver projeto de relevância para a saúde ocular da população brasileira e/ou defesa profissional, de interesse da Sociedade patrona e do CBO.
O Programa de Liderança é um compromisso e um investimento conjunto entre o CBO, o candidato e as Sociedades Oftalmológicas. Os trabalhos de uma turma começam no congresso brasileiro de um ano e terminam no congresso do ano seguinte. As turmas são compostas por até 20 alunos, indicados pelo Conselho de Diretrizes e Gestão (CDG), pelas sociedades estaduais de Oftalmologia ou ainda pelas sociedades temáticas filiadas ao CBO. Cada turma tem seus trabalhos coordenados por pessoas indicadas pela diretoria do CBO com experiência de edições anteriores e pelo aluno que mais se destacou na turma anterior.
O conteúdo do programa contém os seguintes temas: Conceitos de liderança; Ética e profissionalismo; Gerenciamento de associações; Defesa de classe; Representatividade com a imprensa; Saúde pública e suplementar; Relacionamento com a indústria; Marketing em saúde; Inovação em ações de liderança; Gestão de projetos. E os principais métodos de ensino são aulas expositivas-dialogadas, workshops, painéis, dinâmicas, instruções individualizadas e mentoria.
Luciana Negrão de Almeida Morais – Professora de Oftalmologia da Universidade Federal do Pará (UFPA); Doutora do Curso de Ciências Aplicadas a Cirurgia e Oftalmologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Flavia Lo Bello