O ano de 2021 está chegando ao fim e o que podemos dizer é que não faltaram novidades no campo da oftalmologia. Entre descobertas científicas, novas diretrizes e tratamentos sendo realizados, entendemos que é difícil se manter a par de tudo.
Por isso, preparamos esse material contendo os sete principais destaques da oftalmologia de 2021, para que você, médico oftalmologista, e sua equipe tenham a certeza de estar por dentro dos novos achados e tendências.
Ajudar você a se manter informado sobre o que acontece no universo da oftalmologia é a nossa missão e esperamos contar com a sua companhia durante 2022, acompanhando as notícias em nosso site e também as edições da revista impressa. Até lá, aproveite o conteúdo desse material.
Ah, ao final de cada tópico estão os links de referência caso você deseje se aprofundar nos temas.
Boa leitura!
Equipe Universo Visual
Primeiro implante de córnea artificial do mundo
Logo no início de 2021, com uma boa notícia: médicos israelenses realizaram o primeiro implante de córnea artificial bem sucedido no mundo. A cirurgia foi realizada pelo Departamento de Oftalmologia do Rabin Medical Center Bahar e o beneficiado foi um paciente de 78 anos cego dos dois olhos há 10 anos.
A córnea sintética (CorNet KPro) foi desenvolvida pela startup israelense CorNet Vision. Durante o procedimento, ela foi inserida sobre a conjuntiva do paciente e, através de uma nanofibra não degradável sintética, conseguiu se integrar ao tecido ocular. A cirurgia foi considerada relativamente simples pela equipe médica liderada pelo professor Irit Bahar e, no dia seguinte, após a retirada dos curativos, o paciente foi capaz de reconhecer a família e ler textos.
O implante CorNet KPro é recomendado para casos de córneas deformadas, com cicatrizes e opacificadas. O Departamento de Oftalmologia do Rabin Medical Center e a startup CorNet Vision continuam realizando procedimentos de maneira experimental para analisar os resultados. A longo prazo, o objetivo é produzir as córneas artificiais em grande escala para tornar o implante viável ao redor do mundo e diminuir o tempo de espera por um transplante.
Fonte:
Homem cego recupera a visão graças à córnea artificial de uma startup israelense
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Nova anomalia nos olhos ligada à Covid-19
Em 2020, com o início da pandemia do Coronavírus, oftalmologistas de todo o mundo passaram a estudar os impactos da doença sobre os olhos, entre eles, a formação de conjuntivite e a retinopatia. Em fevereiro de 2021, pesquisadores franceses descobriram um novo problema associado ao Coronavírus: a formação de pequenos nódulos no globo ocular em alguns dos infectados e que pode apresentar risco à visão.
Foram avaliados 129 pacientes que tiveram quadro grave da doença e nove deles (7%) apresentaram um ou mais nódulos na região responsável pela parte central da visão que fica na parte de trás do olho. Desses nove, oito passaram por internação na UTI por conta da Covid-9.
Os nódulos foram identificados a partir de exames de ressonância magnética feito ainda na época em que os pacientes estavam internados. Apesar de ainda não saberem ao certo porque eles se formam, os cientistas responsáveis pela pesquisa acreditam que pode haver relação à inflamação causada pelo coronavírus ou, ainda, à circulação sanguínea inadequada durante o tempo de internação na UTI em pacientes entubados.
O estudo evidencia a importância do acompanhamento oftalmológico dos pacientes que enfrentaram quadros graves de Covid-19, sobretudo aqueles que passaram por cuidados intensivos, para identificar e acompanhar a evolução desses nódulos.
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Miopia infantil aumenta com a pandemia
Se a exposição a telas já representava um risco à visão das crianças, com a pandemia a ameaça se tornou maior. Durante 2021, diferentes pesquisas revelaram o impacto do isolamento social sobre a saúde ocular, principalmente nos primeiros 8 anos de vida, período em que o olho se desenvolve e é mais sensível a fatores ambientais.
Em janeiro, um estudo realizado na China com mais de 120 mil crianças entre 6 e 13 anos, considerou a miopia como o efeito mais expressivo da pandemia sobre os olhos. Essa é uma pesquisa longitudinal, realizada desde 2015, e os resultados publicados na revista científica JAMA Ophtalmology demonstraram que o número de casos em crianças entre 6 e 8 anos aumentou três vezes em 2020 se comparado aos cinco anos anteriores.
Um outro estudo realizado pela The Chinese University of Hong Kong e publicado em agosto no British Journal of Ophtalmology teve um resultado similar, com a incidência de miopia em crianças entre 6 e 8 anos aumentando de 11,6% para 29,6%. Foram analisadas 1973 crianças, sendo que 709 delas foram recrutadas antes do surto de Covid-19 e as outras 1.084 após o início da pandemia.
No Brasil, 72% dos oftalmologistas relataram ter diagnosticado miopia com mais frequência em pacientes com idades entre 0 e 19 anos ao longo de 2020 e 2021. A pesquisa é do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) que entrevistou 29 médicos oftalmologistas em abril e junho de 2021.
Que fatores influenciam o aumento nos casos de miopia?
Os estudos e pesquisas realizados sobre o tema apontam dois principais fatores para o aumento dos casos de miopia nos pacientes mais jovens: a exposição excessiva às telas e o pouco tempo passado ao ar livre.
O uso de computadores, tablets e celulares, que aumentou entre as crianças devido ao isolamento social e as aulas online, leva a um maior esforço visual para perto, o que causa fadiga ocular e alongamento do olho. Já a falta de atividades ao ar livre, provoca uma diminuição da dopamina, que tem a sua produção estimulada pelo sol e controla o crescimento axial do olho.
Como até os oitos anos os olhos têm maior plasticidade, eles são mais suscetíveis a alterações devido a fatores ambientais. Por isso, os pais têm que ter maior controle sobre o tempo que os filhos passam em frente às telas. A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que o tempo de exposição varie conforme a idade:
” Até 2 anos não devem ter contato com telas;
” 2 a 5 anos até 1 hora por dia, fracionada e supervisionada;
” 6 a 10 anos, até 2 horas fracionadas e supervisionadas;
” 11 a 18 anos até 3 horas;
” Sem telas durante as refeições e desligar pelo menos 1 hora antes de dormir.
Fontes:
Isolamento antecipa a miopia em crianças – /secaodesktop/noticias/763/isolamento-antecipa-a-miopia-em-criancas
Casos de miopia aumentam consideravelmente. Entenda o por quê –
Como a pandemia multiplicou os casos de miopia infantil no mundo –
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SBP divulga guia com diretrizes para oftalmopediatria
O Grupo de Trabalho em Oftalmologia da Sociedade Brasileira de Pediatria divulgou, em setembro de 2021, o documento Diretrizes brasileiras sobre avaliação oftalmológica de crianças saudáveis menores de 5 anos: exames recomendados e frequência. O guia foi elaborado a partir de revisão bibliográfica e da experiência clínica do comitê da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (SBOP) a fim de estabelecer os intervalos ideias para avaliação oftalmológica de crianças saudáveis até os cinco anos de idade e também os exames recomendados para essa faixa etária.
Além da revisão de estudos clínicos e observacionais, a equipe responsável pelo documento elaborou um questionário com 12 questões que foi respondido por 193 integrantes da SBOP. Destes, 73,6% recomendaram o exame oftalmológico completo durante o primeiro ano de vida.
A necessidade de estabelecer um guia oftalmológico focado na primeira infância, considerando as especificidades regionais do Brasil, é justificada pelo fato de que erros de refração não corrigidos são responsáveis por até 69% dos problemas visuais que ocorrem na infância. Em alguns casos, esses problemas podem levar à deficiência visual. Além disso, os erros de refração na faixa etária escolar são considerados um problema de saúde pública que afetam a aprendizagem, desenvolvimento e o desempenho social.
Conheça as diretrizes para avaliação oftalmológica de crianças:
Criança com desenvolvimento neuropsicomotor apropriado para a idade é considerada criança saudável na ausência de:
” Anomalia ocular aparente (leucocoria, ptose, nistagmo ou estrabismo);
” Extrema prematuridade (1.500 g ou menos; 32 semanas ou menos de IG);
” Exposição a infecções verticalmente transmissíveis (toxoplasmose, sífilis, citomegalovírus ou Zika);
” Doenças associadas com manifestações oculares (desordens metabólicas, artrite idiopática juvenil ou síndrome de Down);
” História familiar de doença ocular na infância (catarata, glaucoma ou retinoblastoma);
” Suspeita clínica de déficit visual;
” Na presença de qualquer uma acima, os exames oftalmológicos devem ser realizados idealmente dentro do primeiro mês do reconhecimento da questão.
Neonatos:
” O teste do reflexo vermelho deve ser feito pelo pediatra nas primeiras 72 horas de vida e repetido durante as consultas pelo menos 3 vezes por ano durante os primeiros 3 anos de vida.
0 a 36 meses:
” Inspeção de olhos e anexos (pálpebra, conjuntiva, córnea, íris e pupila);
” Acesso à função visual, fixação ocular e alinhamento ocular pode ser feito por um profissional da atenção primária ou pediatra.
0 a 12 meses:
” Observar os marcos do desenvolvimento visual :
o1 mês: fixação visual;
o2 meses: movimentos oculares verticais;
o3 meses: segue objetos e faz movimentos sacádicos;
o6 meses: alinhamento ocular, foca em objetos;
o9 meses: reconhece faces e expressões;
” Crianças que não fazem contato visual nos primeiros 2 meses ou não tem sorriso social ou percepção das próprias mãos aos 3 meses, que não pegam brinquedos com 6 meses ou não reconhecem faces com 11 meses devem ser consideradas para exame oftalmológico completo.
12 a 36 meses:
” Fixação (bilateral e em cada olho separadamente);
” Habilidade de seguir a luz e objetos;
” Reação a oclusão de cada olho;
6 a 12 meses:
” Exame oftalmológico incluindo inspeção de olhos e anexos, função visual (fixar e acompanhar monocular), avaliação da motilidade ocular e alinhamento (covertest simples e alternado), refração sob ciclo e avaliação fundoscópica sob dilatação.
3 a 5 anos:
” Idealmente aos 3 anos: exame oftalmológico incluindo inspeção de olhos e anexos, função visual (optotipos apropriados para a idade), avaliação da motilidade ocular e alinhamento (covertest simples e alternado), refração sob ciclo e avaliação fundoscópica sob dilatação. Se o exame for inconclusivo ou não satisfatório é recomendado novo exame em 6 meses.
5 a 8 anos:
” Screening visual monocular anual – os com visão pior que 20/40 em pelo menos um olho devem passar por exames oftalmológicos completos.
Fontes:
Novas diretrizes na oftalmopediatria –
Quais são os exames oftalmológicos em crianças menores de 5 anos? –
Documento traz orientações sobre avaliação oftalmológica em menores de 5 anos – https://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/documento-traz-orientacoes-sobre-avaliacao-oftalmologica-em-menores-de-5-anos/
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Terapia gênica para tratar doenças oculares é realidade no Brasil
Aconteceu, em maio de 2021, no Hospital Albert Einstein (São Paulo), a primeira cirurgia de terapia gênica da América Latina. Durante o procedimento, que durou cerca de uma hora, uma paciente que sofria de Amaurose Congênita de Leber recebeu uma aplicação do medicamento Luxturna (voretigene neparvoveque) utilizado para tratar degeneração na retina provocada por mutações no gene RPE65. Trata-se de um grande avanço para a medicina e um marco para a oftalmologia no Brasil que deu o primeiro passo em direção a um tratamento mais preciso para doenças genéticas oculares.
A Amaurose Congênita de Leber é uma distrofia rara de retina que ocorre ainda na infância e tem como sintomas a baixa acuidade visual, nistagmo, fotofobia e nictalopia. Dentre os pacientes com o problema, alguns o têm em decorrência de mutações bialélicas no gene RPE65, que é o responsável por codificar uma proteína do ciclo da vitamina A. Por conta da mutação, a proteína perde sua ação enzimática, o ciclo visual não funciona de forma adequada e a retina degenera progressivamente. Em agosto de 2020, o medicamento Luxturna foi aprovado pela Anvisa, possibilitando a realização da terapia no Brasil – o que veio a acontecer pouco menos de um ano depois do aval da agência.
O procedimento foi coordenado por Juliana Salum, médica oftalmologista, geneticista e professora do departamento de oftalmologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) que explicou à Universo Visual alguns detalhes da terapia. Sobre o Luxturna, ela explicou que “trata-se de um adenovírus associado que serve como vetor para o transporte do gene RPE65 para a célula alvo da retina”. A professora ainda acrescentou que “Os pacientes elegíveis [para o tratamento] devem ter as duas cópias do gene RPE65 com variantes patogênicas, isto é, que tenham relação causal com a doença. Para que o tratamento tenha possibilidade de melhora visual é necessário também que existam células ainda viáveis na retina, pois elas serão alvo da transfecção”.
A cirurgia, uma parceria entre a UNIFESP e o Hospital Albert Einstein, foi uma vitrectomia via pars plana com a injeção subretiniana da medicação com uma microcânula criando um bolsão de descolamento da retina que englobava a área macular. Já no primeiro dia do pós-operatório houve aplanamento de cada um dos olhos e, em poucos dias, o ciclo visual foi restabelecido com a presença do gene RPE65, melhorando a capacidade visual funcional do paciente.
A professora Dra. Juliana Salum ressalta que não devemos esperar milagres da terapia gênica, o que não torna o tratamento menos promissor: “A visão não volta totalmente, afinal células foram perdidas e sofreram pelo caminho; no entanto, muitas vezes, recobrar parte do que perdeu e até mesmo conseguir impedir uma piora já é um ganho”.
Você pode conferir o conteúdo completo sobre a primeira cirurgia de terapia gênica na América Latina e os avanços do tratamento no Brasil na edição 120 da revista Universo Visual.
Fonte:
Revista Universo Visual nº 120 – https://issuu.com/release.universovisual.com.br/docs/uv120_anun
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Novo neurônio de retina é descoberto
Pesquisadores da Universidade de Utah, nos Estados Unidos, descobriram um novo tipo de célula na retina. Em artigo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, a equipe liderada por Ning Tian afirma tratar-se de uma nova classe de interneurônios. O achado é um marco de desenvolvimento científico, já que é mais um passo em direção à compreensão do funcionamento do sistema nervoso.
Os interneurônios atuam como intermediários na cadeia de comunicação do sistema nervoso central e ajudam a transmitir informações sensoriais e motoras. Após análise morfológica, fisiológica e genética, os pesquisadores de Utah descobriram que a célula estudada não se encaixa em nenhuma das cinco classes de neurônios da retina já identificadas há mais de 100 anos. Como a novidade tem formato semelhante a uma sineta de mão, os cientistas a batizaram de “célula de Campana”.
Afinal, qual a função dessas células?
De acordo com a pesquisa, as células de Campana retransmitem sinais visuais tanto dos cones quanto dos bastonetes fotorreceptores e permanecem ativas por um longo período: cerca de 30 segundos após receber um estímulo luminoso de 10 milisegundos.
A finalidade de atuação desse novo neurônio ainda está sendo avaliada, mas Ning Tian e seu time acreditam que sua função seja relacionada a gerar uma memória temporária dos estímulos que recebem, já que, no cérebro, os neurônios que sustentam os disparos por mais tempo estão relacionados à memória e ao aprendizado.
Fontes:
Cientistas descobriram um novo tipo de célula na retina –
Researchers discover new type of nerve cell in the retina – https://medicalxpress.com/news/2021-11-nerve-cell-retina.html
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Primeiro colírio para tratamento de presbiopia é aprovado nos Estados Unidos
A FDA, agência de fármacos e alimentos dos Estados Unidos, aprovou, em novembro, a comercialização do primeiro colírio para presbiopia. Trata-se de uma solução de cloridrato de pilocarpina 1.25% desenvolvida pela Allergan, subsidiária da AbbVie, capaz de melhorar a visão de perto sem afetar a visão de longe.
A presbiopia, ou visão turva de perto, é uma doença ocular comum e progressiva que reduz a capacidade do olho de focalizar objetos próximos. Muito comum após os 40 anos, ela ocorre porque as lentes dos olhos tornam-se menos flexíveis, afetando a capacidade de foco. Aproximadamente 128 milhões de pessoas nos Estados Unidos sofrem com a doença, o que representa quase metade da população adulta do país.
Durante os estudos clínicos, o colírio nomeado Vuity teve sua eficácia comprovada, com melhora da visão de perto em condições de pouca luz (visão mesópica) sem perda da visão à distância. Não foram observados eventos adversos graves, e os efeitos colaterais não graves mais comuns foram dor de cabeça e vermelhidão nos olhos. Os testes foram realizados com 750 participantes, com idade entre 40 e 55 anos, divididos em dois grupos: um utilizando Vuity, com uma gota em cada olho por dia, e outro, placebo.
O medicamento pode ser utilizado diariamente e causa melhoria na visão em 15 minutos após a aplicação e tem efeito por seis horas. O tratamento ainda não está aprovado no Brasil.
Fontes:
Allergan submete tratamento para presbiopia para aprovação do FDA /secaodesktop/noticias/971/fda-aprova-o-primeiro-colirio-para-presbiopia
Fonte: