Estudo conduzido na Universidade de Washington, pela professora Ione Fine, questiona a viabilidade da previsão do empresário Elon Musk publicada recentemente na rede social X (ex-Twiter). Segundo ele, o Blindsight, um implante cortical para restaurar a visão, teria baixa resolução no início, “mas pode acabar excedendo a visão humana normal”.
O Blindsight faz parte de um projeto da Neuralink, startup fundada por Musk em 2017 com o objetivo de construir uma interface cérebro-computador que ajudaria pessoas com lesões traumáticas a operar telefones e PCs usando apenas seus pensamentos. Para isso, a empresa trabalha na implantação de eletrodos no cérebro.
Segundo Fine, a ideia de que a implantação de milhões de minúsculos eletrodos no córtex visual – região do cérebro que processa as informações dos olhos – poderia fornecer visão de alta resolução é baseada em uma suposição incorreta.
Como foi o estudo
Para a pesquisa, publicada na Scientific Reports, os cientistas desenvolveram um modelo computacional que imita a experiência de vários estudos corticais humanos, incluindo um implante de alta resolução como o Blindsight. Uma simulação mostra um filme de um gato com resolução de 45.000 pixels como cristalino. No entanto, uma simulação refletindo um paciente com 45.000 eletrodos no córtex visual vê o gato embaçado e difícil de reconhecer.
A professora explicou que um único eletrodo não corresponde a um pixel, mas estimula um único neurônio, na melhor das hipóteses. Ao contrário de minúsculos pontos na tela do computador, cada neurônio no córtex visual informa o cérebro sobre imagens dentro de uma pequena região chamada campo receptivo, com esses campos sobrepostos. Assim, um único ponto de luz ativa uma rede complexa de neurônios. A clareza da imagem depende de como a informação é processada por milhares de neurônios, não apenas do tamanho ou número do eletrodo.
Os pesquisadores usaram dados de animais e de humanos para criar pacientes virtuais, demonstrando pela primeira vez como a estimulação elétrica humana no córtex visual pode ser. Embora a visão embaçada ainda seja um avanço significativo para muitos, essas simulações – que representam o provável melhor cenário para implantes visuais – exigem cautela, conforme aponta a equipe.
Segundo Fine, “os engenheiros costumam pensar em eletrodos como produtores de pixels, mas não é assim que a biologia funciona”. Embora sejam reconhecidos os esforços de Musk nos aspectos de engenharia de implantes visuais, há ainda um desafio relevante que é o de replicar um código neural que produza uma visão clara após implantar e estimular células individuais com eletrodos.
Atualmente, segundo Fine, os cientistas não têm métodos para identificar o código neural correto em um indivíduo cego. Portanto, a visão fornecida pela Blindsight e projetos semelhantes permanecerá limitada e imperfeita, independentemente da sofisticação tecnológica, aponta o estudo.
Fonte: Ophthalmology Breaking News