Tempo de leitura: 2 minutos

Pesquisadores da Universidade de Wisconsin-Madison alcançaram um avanço significativo no tratamento de doenças oculares ao desenvolver organoides retinianos de porco. O estudo, publicado na revista Stem Cell Reports, abre novas possibilidades para testar e aprimorar terapias com células-tronco voltadas à recuperação da visão.

Desafios na terapia com células-tronco para a retina

A retina humana contém fotoreceptores sensíveis à luz, essenciais para a visão. Quando esses células são danificadas devido a doenças ou lesões, a cegueira pode se tornar irreversível. Segundo o Dr. David Gamm, diretor do Instituto de Pesquisa Oftalmológica McPherson da UW-Madison, as terapias com células-tronco oferecem um caminho promissor para restaurar a função dos fotoreceptores perdidos.

No entanto, um grande obstáculo é a compatibilidade entre espécies, já que as células humanas podem ser rejeitadas em modelos animais. “As retinas de porcos e humanos compartilham diversas características-chave, tornando os suínos modelos ideais para estudar doenças da retina e testar novos tratamentos”, explica Gamm. “Ao usar fotoreceptores equivalentes aos humanos em porcos, podemos entender melhor seu desempenho sem o risco de rejeição imediata pelo organismo hospedeiro”.

Organoides retinianos suínos: uma revolução na oftalmologia

Em parceria com o Instituto Morgridge para Pesquisa, o Laboratório Gamm conseguiu criar organoides retinianos de porco. Esses minórganos simulam a interação celular da retina real, permitindo um estudo mais detalhado do desenvolvimento retiniano em ambiente controlado.

“Essa é a primeira vez que cientistas conseguiram desenvolver organoides retinianos de porco”, destaca Kim Edwards, doutoranda no Laboratório Gamm e autora principal do estudo. “Também realizamos uma comparação entre organoides retinianos humanos e de outra espécie, o que representa um marco inédito”.

Para desenvolver esses organoides, os pesquisadores usaram células-tronco pluripotentes derivadas de porcos, ajustando protocolos previamente utilizados com células humanas. A mudança permitiu reduzir o tempo de desenvolvimento pela metade, alinhando-se ao menor período gestacional dos suínos.

“Conseguimos produzir uma grande quantidade de organoides retinianos, o que foi muito empolgante”, afirma Edwards. “Esse estudo reforça a importância de adaptar as condições de desenvolvimento para cada espécie ao diferenciar tipos celulares específicos”.

Análise genômica avançada confirma resultados

Para validar a qualidade dos organoides, os cientistas utilizaram imunocitoquímica e sequenciamento de RNA de célula única (RNA-seq). Essas técnicas permitiram mapear a expressão gênica e confirmar a presença de tipos celulares essenciais da retina, como fotoreceptores e células ganglionares.

“Utilizamos RNA-seq de célula única para analisar os genes expressos em cada tipo celular do organoide”, explica Beth Moore, bióloga computacional do Grupo Stewart de Biologia Computacional do Instituto Morgridge. “Essa abordagem fornece uma visão abrangente e imparcial, complementando a identificação celular feita por imunocitoquímica”.

Próximos passos: testes em retinas vivas

A próxima etapa da pesquisa será transplantar fotoreceptores derivados de porcos em retinas suínas para avaliar sua integração e potencial para restaurar a visão.

“Estamos entusiasmados em mostrar que é possível cultivar organoides retinianos de diferentes espécies e que outros grupos de pesquisa estão começando a produzir esses modelos”, conclui Edwards. “Tudo começa com boas células-tronco”.

Os resultados desse estudo podem abrir caminho para terapias mais eficazes baseadas em células-tronco, oferecendo esperança para milhões de pessoas afetadas por doenças degenerativas da retina.

Referência:

Edwards, K. L. et al. Robust generation of photoreceptor-dominant retinal organoids from porcine induced pluripotent stem cells. Stem Cell Reports (2025). DOI: 10.1016/j.stemcr.2025.102425

 

Fonte: Ophthalmology Breaking News

Compartilhe esse post