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Os colírios para correção da presbiopia compartilham um mesmo princípio: atuar sobre o diâmetro pupilar, reduzindo-o para ampliar a profundidade de foco. A estratégia explora um fenômeno conhecido — o fato de que pupilas menores aumentam a nitidez da visão próxima, algo percebido tanto em pacientes que “envelhecem bem” sem precisar de óculos quanto na melhora da leitura sob luz intensa.

Embora o mecanismo básico seja semelhante, cada formulação miótica tem características e efeitos distintos.

Principais agentes em uso e em estudo

Atualmente, três colírios têm aprovação da FDA para correção da presbiopia:

  • Pilocarpina 1,25%
  • Pilocarpina 0,4%
  • Aceclidina 1,44% Outros dois produtos estão em fase final de análise:
  • Carbacol 2,75% + tartarato de brimonidina 0,1% 
  • Fentolamina 0,75%

A maioria desses agentes, como pilocarpina, aceclidina e carbacol, são agonistas colinérgicos diretos que atuam sobre o músculo esfíncter da íris, promovendo miose. Já fentolamina e brimonidina agem de modo diferente — inibindo o músculo dilatador da íris e, assim, prevenindo a midríase.

A fentolamina, antagonista alfa-adrenérgica, bloqueia receptores do músculo dilatador radial, enquanto a brimonidina, um agonista alfa-2, reduz a liberação de noradrenalina, diminuindo a contração do dilatador.
Quando associadas, como na combinação carbacol + brimonidina, essas moléculas aumentam a biodisponibilidade do carbacol e prolongam o efeito pupilar, além de mitigar a contração do corpo ciliar, o que melhora a tolerabilidade do tratamento.

Efeitos sobre o corpo ciliar

Um efeito secundário das soluções mióticas é a estimulação discreta do músculo ciliar, o que pode gerar alguma acomodação verdadeira — contribuindo para o ganho de visão de perto, mas também ocasionando sintomas leves, como cefaleia ou pressão supraorbital.

Apesar de relatos isolados de descolamento de retina (DR) em pacientes de alto risco, os ensaios clínicos não mostraram aumento significativo dessa complicação. Ainda assim, recomenda-se avaliação retiniana prévia e cautela em pacientes com alta miopia, degeneração lattice, diabetes não controlado ou histórico de roturas e buracos maculares.

As novas gerações de fármacos — com concentrações mais baixas de pilocarpina e formulações mais seletivas como aceclidina e carbacol — foram desenvolvidas justamente para minimizar o impacto sobre o corpo ciliar. Estudos recentes mostraram baixa taxa de descolamento vítreo tanto para pilocarpina 0,4% quanto para a combinação carbacol/brimonidina, sugerindo segurança retiniana consistente.

Função visual e desempenho no mundo real

Mais do que linhas a mais em tabelas de leitura, a eficácia desses colírios deve ser avaliada por sua capacidade de restaurar a visão funcional, permitindo que o paciente execute tarefas cotidianas sem depender tanto dos óculos.

Ensaios clínicos relatam ganhos médios de duas linhas de visão próxima, suficientes para leitura intermediária. Um estudo com carbacol 2,75% + brimonidina 0,1% demonstrou melhora de 39% na velocidade de leitura no teste MNREAD — mesmo sem correção óptica, apenas pela redução pupilar.

No entanto, o equilíbrio é essencial: pupilas excessivamente pequenas podem comprometer a visão sob pouca luz. Estudos indicam que o diâmetro ideal para conforto visual varia conforme a luminosidade — entre 2 e 3 mm em condições normais, e até 3,5 mm em ambientes escuros.

Testes de direção noturna com pilocarpina 1,25% mostraram desempenho inferior em relação ao placebo, reforçando a importância de ajustar formulações e tempo de efeito conforme o estilo de vida do paciente.

Olhar para o futuro

Com o aumento das opções terapêuticas, oftalmologistas precisam compreender com precisão os mecanismos farmacológicos e ópticos de cada colírio.
O domínio dessas nuances será essencial para selecionar o melhor tratamento, equilibrando eficácia, segurança e conforto visual em diferentes perfis de presbiopia.

Autores do artigo original:
Mile Brujic, OD, FAAO – Premier Vision Group (Ohio, EUA)
Sumit (Sam) Garg, MD – Gavin Herbert Eye Institute, Universidade da Califórnia, Irvine

Referências:
Verhoeven RS et al., Invest Ophthalmol Vis Sci, 2022.
Holland E et al., Clin Ther, 2024.
Kubo C, Suzuki R., J Ocul Pharmacol, 1992.
El-Harazi S et al., ASCRS Annual Meeting, 2025.
Waring GO 4th et al., Clin Exp Optom, 2024.
Xu R et al., Optom Vis Sci, 2016.

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